Luiz Fernando Gomes: ‘Inimigos do jogo’
Suspeitas de manipulação na Champions chamaram a atenção do mundo. Mas o caso, longe de ser único, é tão somente mais uma ponta do iceberg que assombra o esporte
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As suspeitas de manipulação do resultado no jogo do PSG contra o Estrela Vermelha, que vieram à tona nas páginas do diário francês L'Equipe, chamaram a atenção do mundo por envolver um dos gigantes do futebol e o mais importante torneio de clubes do planeta, a Liga dos Campeões da Europa. Mas o caso, longe de ser único, é tão somente mais uma ponta do iceberg que assombra o esporte atual: a perigosa ameaça que o negócio milionário das apostas oferece à idoneidade do jogo.
O que a Justiça e a polícia francesa investigam, segundo o jornal, seria uma aposta de R$ 22 milhões que um dirigente do Estrela Vermelha teria feito na derrota de seu próprio time por uma diferença de cinco gols no placar. A denúncia chegou de forma antecipada, dias antes do jogo, e levou a indicação de observadores para acompanhar a partida no Parque dos Príncipes, em Paris. E identificou-se, a partir daí, o que seriam fortes indícios de que a goleada de 6 a 1, mesmo com o show de Neymar – que marcou três gols – teria sido facilitada pelos zagueiros sérvios para atender aos interesses do cartola apostador. E quem sabe compartilhar parte da fortuna que viria dali.
Tudo pode ter sido uma mera coincidência, afinal a diferença técnica entre os dois times é de fato gritante. Pode tratar-se de uma teoria da conspiração baseada em informações vazias. Dirigentes dos dois clubes, aliás, negam qualquer envolvimento em atos ilícitos, juram seu apego aos valores e princípios que devem nortear o futebol e afirmam que sequer foram chamados pelas autoridades que investigariam a história para tomar conhecimento de um eventual processo judicial ou inquérito policial.
O fato é que o problema da manipulação de resultados existe e preocupa muito a Fifa – a entidade criou já há alguns anos um grupo especialmente voltado para tratar desse assunto. A ação, especialmente, de apostadores chineses cada vez mais incisivos na movimentação de fortunas tem colocado frequentemente sob suspeitas jogos envolvendo equipes de muito menor expressão que o PSG ou o Estrela Vermelha, e torneios menos expostos à cobertura da mídia como divisões de acesso em vários países e até disputas de categorias de base. No Brasil, vez por outra surgem denúncias relacionadas ao tema.
Em boa parte fruto da globalização, e da comunicação em tempo real via internet, sem o que a prática mafiosa destes eventuais crimes dificilmente seria possível, a questão envolve outros pontos. Um deles, a avidez com que o mundo do futebol abriu as portas em todos os níveis ao dinheiro vindo de sites multinacionais de apostas, hoje megapatrocinadores do esporte. Jogadores foram transformados em garotos propaganda, clubes ostentam na camisas marcas dessas empresas e até entidades firmam parcerias para divulgar seus produtos.
Registre-se, e isso precisa ficar claro, que esses sites nada têm de ilegal. São empresas como tantas outras da era digital que se viabilizaram quebrando paradigmas do mundo analógico. E, até prova em contrário, não têm nenhum envolvimento com as fraudes de resultados. No entanto, pela própria natureza do negócio, a associação do futebol a esse tipo de atividade passa para muita gente a mensagem, ainda que de forma subliminar, de que pode haver em jogo muito mais do que o que se passa dentro das quatro linhas em 90 minutos de uma partida. Que obter um resultado pode significar bem mais do que a busca pela vitória ou a classificação na tabela. E isto não é bom.
Vigilância permanente é necessária. Mais do que isso, respostas rápidas a cada suspeita, a cada denúncia são a única forma de garantir-se a lisura e a confiabilidade do esporte. Neste sentido, quando o assunto chega a Liga dos Campeões e outros torneios de primeira linha, não é mais suficiente ser seguro. É preciso principalmente mostrar que o jogo é seguro.
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