Precisamos nos acostumar ao bom senso. A pausa de duas semanas no Brasileirão, para os jogos das eliminatórias da Copa da Rússia, por incrível que pareça tem gerado críticas aqui e acolá, gente dizendo que os times vão perder ritmo de jogo, que o campeonato vai levar uma ducha de água fria. É uma injustiça com a CBF. Esta foi, afinal, umas das poucas decisões acertadas que a cartolagem tomou nos últimos tempos.
Suspender os campeonatos quando jogam as seleções é uma prática usual em todo o mundo. Foi para permitir isso, organizar a baderna e reduzir os prejuízos para os clubes que cedem seus jogadores que foram instituídas as chamadas datas Fifa. Foi, na verdade, uma reivindicação da UEFA em defesa de seus filiados.
Em seu blog no LANCE,COM. essa semana, Marcelo Bechler citou como exemplo a situação do Real Madrid e do Barcelona. Cada um tem 16 jogadores servindo este fim de semana às mais diversas seleções – um time e meio, praticamente. Outros clubes de elite, como PSG, Bayern, Juventus, Milan, Chelsea, Manchester City, Manchester United e Sporting Lisboa, também têm mais de 10 convocados. Ou seja, os campeonatos param na Europa porque é impossível um time entrar em campo com tantos desfalques.
A onda atual de importação de jogadores latinos - em grande número selecionáveis - e o resgate por Tite das oportunidades na seleção para quem atua no Brasil, quebrando a exclusividade que vinham tendo os brazucas com técnicos anteriores, são argumentos a mais em defesa da parada do Brasileirão. Corinthians, Palmeiras, Flamengo, só para citar três times da parte de cima da tabela, sofreriam prejuízos claros em continuar entrando em campo, com jogadores estratégicos servindo a seleções.
A boa medida da CBF, contudo, está longe de absolver a entidade dos erros em que continua a insistir quando o assunto é calendário. Seu maior pecado é manter a jabuticaba da temporada de janeiro a dezembro, quando todo o mundo - inclusive nossos vizinhos latinos -, de uma forma ou de outra se adaptou ao modelo europeu. Isso provoca a perda de jogadores no meio dos campeonatos e faz com que eventos globais como as copas do mundo as olimpíadas, e mesmo a Copa América, cortem ao meio as nossas competições.
Mas não é só isso. A falta de planejamento e o autoritarismo da CBF frequentemente geram conflitos até entre os clubes. Agora mesmo, a antecipação do jogo entre Vasco e Grêmio, pela 23ª rodada do Brasileirão, do domingo dia 10 para o sábado dia 9, provocou protestos do Botafogo – adversário dos gaúchos nas quartas de final da Libertadores, no dia 13. O Alvinegro se sente prejudicado já que seu jogo contra o Flamengo foi mantido para o mesmo dia 10, o que significa que Jair Ventura terá um dia a menos do que os gremistas para preparar o time antes do confronto decisivo da Liberta. O clube enviou um protesto formal à CBF, mesmo sabendo que têm poucas chances de ser ouvido. O Vasco, envolvido na história por tabela, também reclamou da mudança, alegando que sequer foi consultado pela entidade sobre o assunto.
O motivo alegado pela CBF para adiantar a partida foi a falta de segurança. Segundo a entidade, o objetivo é evitar conflito entre torcidas, com a realização, no mesmo dia, do clássico entre Botafogo e Flamengo. É uma balela já que o Vasco, que conseguiu na Justiça esta semana a liberação de São Januário, terá de jogar com portões fechados, por conta da punição imposta pelo STJD.
O que o imbróglio mostra, mais uma vez, é o quanto o calendário do futebol brasileiro é mambembe, o quanto jogos são manipulados de acordo com as circunstâncias e os interesses de um ou de outro. Afinal, não é possível que só às vésperas de uma rodada importante a CBF perceba que marcou, para um mesmo dia, jogos envolvendo três torcidas rivais numa mesma cidade. E pior, neste caso, que tenha “esquecido” que não haverá torcida vascaína no estádio. Pode ser apenas incompetência da cartolagem. Mas os botafoguenses têm toda razão de achar que há algo a mais do que isso, por trás da tomada de decisão.