A conquista do hexacampeonato da Liga Europa pelo Sevilla, na última sexta-feira, certamente é motivo para os espanhóis comemorarem. Mas só até a página 2. Essa galeria admirável de conquistas – o Atlético de Madrid aparece na segunda posição do ranking, com três títulos, empatado com outros três times – revela no fundo a verdadeira divisão de castas que existe no futebol espanhol. E isso não é bom para ninguém.
Barcelona e Real (esse até tem um bicampeonato distante, em 1985-86) não aparecem na galeria dos grandes campeões da Liga Europa simplesmente porque não disputam a Liga Europa. E vão continuar de fora. São mínimas as chances de um dos dois não conseguir uma vaga na Champions League desde que foram estabelecidos os critérios de classificação para o principal torneio de clubes europeus.
É uma situação muito diferente, por exemplo, da Itália ou da Inglaterra onde o equilíbrio de forças do futebol local torna muito mais variável a participação dos clubes nos dois torneios continentais. Juventus e Inter de Milão, por exemplo, acumulam três títulos cada um da Liga Europa e, juntos, somam outros cinco da Champions. Tottenham e Liverpool têm dois, Chelsea e Manchester United um título cada um da Liga Europa e todos já foram campeões ou, é o caso do Tottenham, ao menos chegou a disputar uma final de Champions. Uma posição da qual o supercampeão Sevilla jamais se aproximou.
A divisão de títulos da Champions por países, aliás, é ainda mais esclarecedora da desigualdade que impera em La Liga. A Espanha é, disparado, o país com o maior número de títulos conquistados no torneio, 18 no total. Mas apenas dois clubes espanhóis, o Real 13 vezes, e o Barça cinco, levantaram o troféu mais almejado do Velho Mundo. Já a Inglaterra, segundo país a reunir mais campeões da Champions, tem 13 títulos divididos por cinco clubes, a Itália 12 títulos divididos por três clubes, enquanto a Alemanha soma sete títulos de três clubes e a Holanda seis títulos de quatro clubes.
Já na Liga Europa, os 11 títulos conquistados pela Espanha, apesar do domínio do Sevilla, se dividem por quatro clubes. O que mostra que no segundo escalão do futebol espanhol, desprendidos Barça e Real lá na frente, a briga ainda é mais intensa. Ainda assim, a Inglaterra tem nove títulos de cinco clubes, a Itália nove títulos de quatro clubes e a Alemanha seis títulos de quatro clubes, demostrando um equilíbrio de forças muito mais evidente em todas essas ligas.
Mas por que se vê situações assim tão diferentes em países que tem um futebol do mesmo nível? São várias as razões da força desproporcional de Barcelona e Real Madrid. Passam, inclusive, por questões políticas que se confundem com a própria história da Espanha. Mas fator decisivo foi a concentração dos recursos de direitos de transmissão de TV nos dois principais clubes do país, em detrimento dos demais. Fruto de um sistema de negociações individuais condenado ao fracasso. Mais ou menos como se quer fazer aqui hoje dia. O que é bom para uns pode ser o pior para outros.