A ideia de unir as seleções da Europa e da América do Sul em uma turbinada Copa das Nações, a partir de 2024, parece mais um balão de ensaio, um jogo de pressões, do que algo de fato realista e factível. O anúncio, pela boca de um pouco expressivo vice-presidente da Uefa, tem o objetivo primeiro de levar a Fifa a desistir da esdrúxula ideia de mudar o formato da Copa do Mundo tornando bienal, e não mais de quatro em quatro anos o mais importante torneio de seleções do planeta.
A intenção da Fifa já foi repudiada pela Uefa e pela Conmebol. Traria dificuldades para ajustar o calendário e teria um forte impacto nas competições regionais como a Copa América, a Eurocopa e a própria Liga das Nações, dividindo o interesse do público e, principalmente, o dinheiro gasto pelos patrocinadores, em boa parte os mesmos em alguns desses torneios. E a concorrência pela audiência, com a vulgarização de grandes eventos, ainda reduziria, muito provavelmente, também os valores de negociação de direitos de transmissão de TV, importante fonte de renda das entidades continentais.
Mas, afinal, quem ganharia com essa mega Liga das Nações se a proposta for para valer?
Com certeza seria ótimo para as seleções do lado de cá do Oceano Atlântico, Brasil, Argentina e Uruguai à frente. A criação da Copa das Nações pela Uefa foi um desastre para nós. Com as datas Fifa praticamente tomadas pelos jogos entre os europeus, restou às seleções de cá jogar amistosos entre si ou contra times das américas Central e do Norte, da Ásia ou, em menor escala, da África. Times de nenhum avanço tático, pouca história no futebol e que em nada contribuem para o aprimoramento do futebol brasileiro ou dos hermanos.
Isso tem incomodado Tite e o técnico argentino Lionel Scaloni. Desde a eliminação para a Bélgica, na última Copa, o Brasil jogou amistosos contra adversários como Panamá, Honduras, Qatar, EUA, Arábia Saudita, Peru, Colômbia, Senegal, Bolívia, Nigéria e Coreia do Sul, a Argentina, tecnicamente um caso à parte, e uma única seleção europeia, a mediana República Tcheca há mais de dois anos, em março de 2019, em Praga. Nada muito diferente do que acontece com o time de Messi. Entrar numa competição com as melhores seleções do planeta, então, quebraria de vez esse jejum de bons jogos. E devolveria ao futebol sul-americano a possibilidade de voltar a evoluir no ritmo dos melhores do mundo.
Mas, e do lado europeu? Ter times como Bolívia, Venezuela, ou mesmo Peru e Equador, ainda que na Série B da Liga das Nações, como parece ser a proposta negociada pela Uefa e a Conmebol, não acrescenta absolutamente nada ao torneio. Muito ao contrário: certamente seriam jogos deficitários, tanto do ponto de vista técnico quanto financeiro, sem despertar o interesse do público, de patrocinadores e da mídia.
Aliás, essa questão econômica, é importante ressaltar, precisa ser considerada com cuidado. A ideia é que todos os jogos da nova liga sejam disputados em solo europeu, “para evitar desgastes dos jogadores”. Para Brasil, Argentina e Uruguai, principalmente, que tem boa parte dos convocados jogando por lá, tudo bem. Mas quem pagaria a conta das viagens de bolivianos e venezuelanos, por exemplo, que possuem jogadores em maior parte atuando por aqui?
Muita discussão ainda vai rolar em torno do assunto. Mas a aliança entre Uefa e Conmebol é positiva. Enfrentar a poderosa Fifa e seu presidente Gianni Infantino para barrar a Copa do Mundo de dois em dois anos é uma causa mais do que justa. Necessária.