Os maiores inimigos do futebol se enfrentam unidos contra a Fifa
Inglaterra e Escócia jogam nesta sexta em Wembley e desafiam proibição de usar flor de plástico no uniforme em homenagem aos mortos da Primeira Guerra Mundial. Rivalidade é a mais antiga entre duas seleções no futebol mundial
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Os maiores inimigos do futebol estão unidos por uma flor de plástico. Inglaterra e Escócia se enfrentam nesta sexta, às 17h45 (de Brasília), pelo Grupo F das Eliminatórias para a Copa do Mundo. As duas seleções prometem desafiar a Fifa e entrar em campo com poppies no uniforme.
- Nós vamos contestar essa determinação de forma vigorosa e temos parecer jurídico sobre isso. Então, se a Fifa quiser nos impedir, boa sorte – disse Martin Glenn, chefe-executivo da Federação Inglesa.
Poppies são flores vermelhas de plástico utilizadas na roupa pelos britânicos entre o final de outubro e início de dezembro. São usadas desde 1921 para lembrar os mortos na I Guerra Mundial (ocorrida de 1914 a 1918). A partida acontece no dia em que é celebrado o “Remembrance Day” (Dia da Lembrança).
A Fifa proibiu o adereço nas camisas por considerar uma manifestação política, o que não é permitido pela entidade. Há precedente contrário. Em 2011, a Inglaterra enfrentou a Espanha em amistoso e as poppies foram liberadas.
- Se decidirem nos multar, estou certo que podemos dissuadi-los – completa Glenn.
País de Gales, que enfrenta a Sérvia no sábado, teve o pedido negado. O assunto chegou ao Parlamento, onde a primeira ministra britânica, Theresa May, disse que os casos de corrupção não dão moral à Fifa para rejeitar a solicitação.
É raro caso de união entre ingleses e escoceses, adversários no esporte e na vida. É o mais antigo confronto entre seleções. O primeiro jogo entre eles foi disputado em 1872 e, desde o início, encaravam o futebol de formas opostas. A Inglaterra não usava qualquer sistema tático. A estratégia era chutar a bola para o ataque e todos correrem em direção a ela. Parecido com o que ainda acontece em partidas de rúgbi. Inspirada pelo Queen's Park, uma espécie de Barcelona do século XIX, a Escócia “criou” o toque de bola curto e as posições fixas em campo.
A Inglaterra é a prima rica no futebol. Como acontece no dia a dia. Tem um título mundial e é considerada uma das grande seleções do planeta, embora não justifique isso com resultados em campo. A Escócia teve seu momento de glória entre 1974 e 1990, quando esteve presente em todas as Copas do Mundo. Nunca passou da fase de grupos.
- Os jogadores escoceses sempre tiveram maior individualismo. Hoje podemos dizer que os ingleses não produzem tantos jogadores por causa do dinheiro envolvido na Premier League e os investimentos em reforços. Mas e a Escócia? - questiona Craig Burley, ex-técnico da seleção escocesa.
O Reino Unido é composto por Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte. O antigo Reino da Escócia se uniu aos ingleses com o Tratado da União em 1707. As tensões cresceram nos últimos anos porque o Partido Nacional Escocês, que está no poder, quer realizar um novo plebiscito pela independência. Perderam o primeiro em 2014, mas vão insistir no assunto até conseguirem o resultado eleitoral que desejam.
A decisão britânica de deixar a União Europeia acirrou ainda mais os ânimos. Na Escócia, o voto para continuar na aliança de países venceu com folgas, ao contrário do que aconteceu na Inglaterra.
Os escoceses encarnam o papel do menor que gosta de chutar a canela do maior e depois sair correndo. Ao vencer um simples amistoso em Wembley em 1967, se autoproclamaram “campeões não-oficiais do mundo”, já que haviam derrotado a seleção vencedora da Copa do ano anterior. Jim Baxter, um dos maiores bad boys da história do futebol, provocou os jogadores ingleses ao fazer embaixadinhas na frente dos rivais. Precursor em 30 anos de Edílson Capetinha.
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Na última Eurocopa, todas as equipes do Reino Unido se classificaram para o torneio. Todas, menos uma. A Escócia.
- Nós todos vamos votar pelo sim! - provocou a torcida inglesa, falando no voto pela independência e deixando claro que o adversário não fará falta se sair.
No dia da final do Mundial de 1966, Denis Law, escocês considerado um dos maiores jogadores da história do Manchester United, foi jogar golfe. Não queria ver a partida. Ainda hoje, por causa da vitória dos rivais, diz ter sido um dos piores momentos de sua vida.
A recíproca sempre foi verdadeira. Sir Alf Ramsey, técnico que deu o título aos ingleses, foi recepcionado pela imprensa ao desembarcar em Glasgow para um amistoso entre as duas seleções, em fevereiro de 1968.
- Bem vindo à Escócia, Mr.Ramsey – saudou um jornalista local.
- Isso só pode ser uma merda de uma brincadeira! – devolveu o treinador.
No confronto de hoje, a Inglaterra é favorita. É líder do grupo e deve se classificar para a Copa da Rússia. A situação da Escócia é dramática. Está em quarto. Apenas o primeiro colocado garante vaga. O segundo disputa repescagem.
O cenário desperta o sentimento de autodepreciação que está no DNA dos escoceses. No auge dos escândalos de corrupção da Fifa, quando perguntado se o país considerava a possibilidade de boicotar a Copa do Mundo, o presidente da Federação, Alan McRae, não perdeu a chance.
- Estamos boicotando o torneio desde 1998.
É o ano do Mundial da França. Última vez que a Escócia se classificou.
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