Mercado de 200 milhões de pessoas e desconhecimento dos brasileiros: a Florida Cup para os alemães
Estratégia dos alemães é aproveitar a parada de inverno da Bundesliga para expandir os horizontes durante a competição que está sendo realizada nos Estados Unidos
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Nem o 7 a 1, nem os escândalo na FIFA, que prendeu José Maria Marin e agora investiga Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, nem a saída prematura dos principais jogadores do país. O futebol brasileiro continua respeitado para os alemães, dirigentes de Bayer Leverkusen e Schalke 04, adversários de Corinthians, Fluminense, Internacional e Atlético-MG na Florida Cup entre 10 e 20 de janeiro. Santa Fé (COL), Shakhtar Donetsk e Fort Lauderdale Strikers (EUA) também disputarão a competição.
- Temos a oportunidade de jogar contra equipes de um nível muito alto. O futebol no Brasil continua produzindo jogadores de extrema qualidade. Além disso, é um mercado de 200 milhões de pessoas que amam e consomem futebol. Jogar contra esses clubes, poder aprender outra cultura de jogo e nos aproximar de seus torcedores é excelente para nós – afirma Michael Schade, diretor do Bayer Leverkusen.
A estratégia dos alemães é aproveitar a parada de inverno da Bundesliga para expandir os horizontes. Enfrentar adversários europeus e dentro do continente poderia ser negativo, uma vez que em poucas semanas as equipes poderiam se encontrar novamente, na Liga dos Campeões ou na Liga Europa.
Além disso o sucesso de público no campeonato alemão acaba dificultando o acesso de torcedores de outros países aos jogos das equipes. Como os alemães esgotam as entradas até mesmo antes do início da Bundesliga um turista dificilmente terá facilidade para assistir a um jogo no estádio. Assim, expandir suas marcas fora do país é hoje a intenção dos clubes.
- Não somos adversários fora do campo. Os clubes da Bundesliga sabem que precisam ser parceiros. Estamos indo aos Estados Unidos que é um país que cada vez mais se interessa pelo futebol e, claro, temos também interesse em que nos vejam. Não somos adversários do Bayer na nossa presença na América – comenta Alexander Jobst, diretor de marketing do Schalke 04.
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O clube azul de Gelsenkincher terá pela frente o Atlético Mineiro, na excursão de dois jogos que fará na Flórida. Segundo Jobst, brasileiros e alemães possuem características bastante semelhantes.
- Sabemos da paixão dos brasileiros pelo futebol. Aqui também lotamos estádios e queremos que o torcedor pule e cante. Temos muito o que aprender com os brasileiros, no campo de a paixão seguir intacta, com vitórias ou derrotas.
Se por um lado as excursões de clubes alemães aos Estados Unidos ou Ásia já é algo comum e a Bundesliga é um torneio transmitido em todos os continentes, o Brasil ainda parece engatinhar na internacionalização da marca de seus clubes. Uma das ações mais ousadas foi feita pela Corinthians recentemente a contratação do chinês Zi Zao. Por mais que pouco tenha ajudado fora de campo, o clube paulista garante que o investimento trouxe resultados. A estratégia inclusive é cogitada pelo Bayer Leverkusen.
- Adoraríamos ter um chinês no time. Ou um norte-americano. São mercados fortes e ter uma estrela desses países faria aumentar o interesse em nós. Porém, é preciso que haja também qualidade. Nossa intenção é primeiro ter bons jogadores e depois explorar o restante de seu pontencial – acrescenta Michael Schade.
Paixão e desconhecimento sobre o futebol brasileiro
Por mais que o Brasil seja cinco vezes campeão mundial e continue a exportar jogadores para os grandes clubes do futebol mundial, o desconhecimento quanto aos clubes do país ainda é grande.
- Aqui me perguntam sempre quem são os melhores times do Brasil, demonstram interesse, mas não sabem muito. Falei que era o Cruzeiro, agora é o Corinthians e que vai estar na Flórida e eles ficaram empolgados para ver de perto (o Corinthians, no entanto não irá enfrentar os alemães), mas não sabem muito sobre nossos times. Uma coisa que eles sabem é que vai ser difícil porque sabem da qualidade do nosso jogador – afirma o lateral-esquerdo Wendell, ex-jogador do Grêmio.
Do lado do Schalke 04, o atacante argentino Franco Di Santo descreve seus colegas como empolgados para ver o estilo brasileiro de jogar.
- Eles não conhecem muito o futebol sulamericano, mas imaginam. Falam sobre como deve ser bom o ambiente de um estádio lotado com todo mundo cantando o tempo inteiro. Será muito bom porque teremos um outro estilo de jogo pela frente, algo que muitos dos europeus aqui não enfrentaram, então será bom para nós aprendermos também. Nós, da América do Sul, sempre queremos jogar mais com a bola no pé, aqui você tem é que se movimentar mais.
Já Michael Schade, diretor do Bayer Leverkusen, relata como é importante para os brasileiros enfrentar equipes europeias e como o torneio nos Estados Unidos poderá mostrar isso.
- Nós ainda temos muito o que aprender com os brasileiros dentro de campo. Fora é curioso ver que uma partida como essa que vamos disputar se torna quase uma final de Copa do Mundo para eles. É bom porque queremos enfrentar times competitivos.
Premier League pode se autodestruir
O diretor do Bayer Leverkusen lamenta que o futebol alemão tenha entrado tarde no processo de crescimento da marca. Michal Schade acredita que a Bundesliga está pelo menos 10 anos atrás da Premier League inglesa nesse sentido. E isso traz dificuldades na hora de competir por reforços.
- Em toda a Bundesliga, exceto o Bayern de Munique, as equipes têm uma postura bastante clara: contratar jovens jogadores, que possam dar rendimento imediato, mas que também possam ser vendidos depois e gerar mais dinheiro para os clubes. Isso acontece aqui em Leverkusen, mas também em outros lugares.
Um dos entraves para o maior desenvolvimento econômico do futebol alemão são as cotas de TV. Enquanto a liga inglesa tem concorrência de duas emissoras para transmitir os jogos, a Bundesliga conta apenas com a Sky Sports que, sem ter uma rival, não paga valores astronômicos como a Premier. No entanto, o fato de ter muito mais dinheiro para gastar não quer dizer que os ingleses irão dominar o futebol mundial.
- Vejo uma situação perigosa na Inglaterra. Os clubes têm muito dinheiro e, provavelmente, irão comprar os jogadores que quiserem nos próximos anos. Entretanto não haverá espaço para todos e alguns atletas ficarão esquecidos no banco de reservas, com qualidade o suficiente para jogar. O que vai acontecer? Terão que os vender muito mais barato. E não acho que isso irá demorar. Mais três ou quatro anos e já deveremos ver esse fenômeno – adverte Schade.
Um exemplo do poderio inglês pode ser visto no meia suíço Shaqiri. Até 2014 o jogador era reserva e aposta do Bayern de Munique. Hoje joga no pequeno Stoke City.
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