Exclusivo: Ao L!, ministro de esportes da Argentina fala sobre violência no futebol, rivalidade com Brasil e Copa
Matías Lammens também comentou sobre "episódio Anvisa" e protocolos sanitários nos estádios; ele já foi presidente do San Lorenzo
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Matías Lammens, ministro de Turismo e Esportes da Argentina, esteve em São Paulo no WTM Latin America, maior evento de viagens e turismo da América Latina. Ele foi presidente do San Lorenzo (ARG), de 2012 até 2019 - período no qual o clube conquistou seu o primeiro título da Libertadores, em 2014 -, e conversou de forma exclusiva com a reportagem LANCE!
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O político abordou assuntos como o episódio em que a Anvisa paralisou a partida entre Brasil e Argentina, a rivalidade entre as duas seleções, Copa do Mundo e o papel das instituições públicas na prevenção e combate à violência no futebol.
Confira abaixo a entrevista:
Recentemente tivemos o sorteio dos grupos da Copa do Mundo do Qatar. Quais são as expectativas em torno da seleção da Argentina?
A expectativa é boa. Acho que a equipe, além de conseguir resultados, mostra uma solidez que há muito (tempo) não tinha. Pela primeira vez, Messi está acompanhado e, inclusive, nas partidas que a seleção jogou sem Messi, demonstrou que está à altura das circunstâncias. Estamos em um grupo que, à priori, nos parece acessível. Mas os Mundiais sempre são difíceis, nas partidas pode acontecer qualquer coisa. A Argentina chega ao Mundial de maneira memorável e terá partidas importantes para testes, como contra a Itália, campeã europeia. As expectativas são enormes, como há muito tempo não tínhamos.
Parte considerável da população brasileira vê a Argentina como grande rival. Lá é assim também?
Sempre digo: é um clássico mundial. É o clássico mais importante do mundo. Em qualquer lugar da Europa, se você perguntar quem são os maiores jogadores do mundo, são Pelé, Maradona e Messi. São todos nascidos aqui. Além disso, a forma como o futebol é tratado na Argentina e no Brasil é mais especial. Claro que na Europa e em outros países o futebol é importante, mas não tem a mesma paixão. Imagina o que significou para a gente ganhar a final da Copa América no Maracanã. Há muitos anos a Argentina não ganhava a Copa América. E ganhar da maneira que foi, com a final no Brasil, foi histórico. Se perguntassem de que forma preferíamos ganhar, seria essa.
Ano passado, tivemos o 'Clássico da Anvisa', em que autoridades sanitárias da agência paralisaram a partida. Como o governo recebeu o acontecimento? Concorda com a remarcação do jogo?
Sempre é melhor resolver a partida no campo de jogo, não nos escritórios. Tem que ter outra partida, mas já não tem tanto valor porque tanto Argentina, como Brasil, estão classificados. Será importante para a preparação para o Qatar.
Renan Lodi deixou de ser convocado por não estar vacinado, segundo Tite. O que acha da possibilidade de obrigatoriedade de vacinação para atletas?
Se vacinar é, também, um ato de solidariedade e de consciência coletiva, não só para o esporte. É uma forma de nos ajudarmos entre todos. É uma questão de solidariedade e respeito ao próximo. Assim como outros países, não só no futebol, exigimos a vacina. A vacina nos ajudou na vacina e em problemas econômicos na Argentina, como a pobreza e o desemprego. Tem que haver uma visão global sobre o que significa se vacinar.
Com o retorno do público, como estão os protocolos sanitários nos estádios?
A pandemia deu uma trégua. Temos uma boa porcentagem de vacinados (81,6% com as duas doses, segundo a Our World Data), praticamente possibilita que não haja protocolos. Vai fazer uma semana que o Ministério eliminou o distanciamento social. Assim, praticamente não há protocolos, tanto nos estádios como fora. Felizmente é uma fase passada. Graças à vacina, à muito boa campanha de vacinação que tivemos, não somente no futebol, mas em qualquer evento massivo, não há qualquer tipo de restrição.
México e Brasil tiveram episódios de violência em estádios de futebol. Como as instituições públicas devem agir para prevenir e lidar com esses casos?
A violência está no futebol porque o futebol é uma expressão da sociedade. A violência está na sociedade. Em muitas sociedades latino-americanas há uma situação de violência e tensão permanente. Se você for ver o que se passa em alguns estados do México, está além do futebol. A violência está presente na sociedade latino-americana. O que deveria ser feito é um trabalho de câmbio cultural de lugares de sucesso para prevenir a violência no futebol. O futebol, inclusive, pode ser um veículo para trabalhá-la (a prevenção).
Deve-se punir os clubes, o que é uma prática comum, ou os responsáveis pela violência?
Tem que penalizar os responsáveis. Muitas vezes os clubes têm pouco a fazer porque não tem poder de policiamento. Essa é uma questão que o estado e os organizadores devem cuidar. Os clubes são responsáveis pelo evento e contratam a polícia. Penalizar os clubes não é a forma. Os estados também têm que dar as condições para que as partidas aconteçam.
As três últimas Libertadores foram conquistadas por brasileiros. O que explica essa superioridade?
Acho que passa muito pela questão econômica. Os orçamentos das equipes brasileiras são muito mais altos que os das equipes argentinas. Por questões de mercado, venda de ingressos e televisões, os brasileiros têm mais possibilidades de contratarem jogadores estrangeiros e de reter os jogadores do que no futebol argentino. A questão econômica do país… tudo isso tem haver com os resultados.
Como é o turismo esportivo de brasileiros para a Argentina?
Muita gente vem ao país pelo golfe e pela pesca esportiva (no norte da Argentina). Muitos brasileiros visitam o norte nas regiões limítrofes e as cidades que fazem parte da temporada de esqui, um grande atrativo para os brasileiros, que encontram diferentes pistas principalmente em Bariloche. É um destino perto do Brasil, no máximo quatro horas de voo. O brasileiro é o que mais visita a Argentina. Em 2019, mais de 1.5 milhão turistas visitaram o país. Assim como os brasileiros, os argentinos consomem muito o esporte
O Moto GP tem bastante repercussão no país. Também é um atrativo para brasileiros?
Só no Moto GP mais de 15 mil brasileiros foram a Santiago del Estero para assistir a prova. Foi o evento esportivo mais importante do ano para a Argentina. Nosso governo participa diretamente da realização da prova pagando a taxa para trazer o evento. Traz turistas de todas as partes do mundo, principalmente brasileiros, que vêm de moto até Santiago del Estero, passando por toda a Argentina. Teremos Moto GP até 2025 já está assinado o contrato. Estamos trabalhando para trazer mais eventos deste porte para chamar mais turistas.
* Sob supervisão de Marcio Monteiro
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