O ídolo é aquele que é a referência, dentro e fora de campo, tanto para os torcedores quanto para os companheiros. Na atual temporada, o Real Madrid perdeu o seu. Cristiano Ronaldo deixou o clube e foi procurar novos desafios na Juventus. A vantagem de um encerramento de ciclo é a possibilidade de ter um novo recomeço. E no elenco do Real Madrid a vaga de protagonista foi aberta. Dois jogadores despontam como candidatos para preencher essa lacuna: Luka Modric e Gareth Bale. Após perder a Supercopa para o Atlético de Madrid, os dois jogadores iniciam, no Campeonato Espanhol, neste domingo, às 17h15, contra o Getafe, mais um capítulo dessa trajetória diante da sua torcida no Santiago Bernabéu.
Modric, o maestro
Com CR7 em campo, os holofotes eram, inevitavelmente, do português. Um jogador que nunca se incomodou com isso era Luka Modric. Dentro de campo, o croata parece invisível. A beleza do seu jogo é discreta e eficiente. Organiza, naturalmente, o meio-campo e dita o ritmo da partida sem que seja notado. Um maestro silencioso: a peça que dá o funcionamento da engrenagem. Ao todo, pelo clube espanhol, foram 257 partidas, 13 gols e 40 assistências.
- Durante a ‘era Ronaldo’, Modric já era um jogador chave. Os dois eram amigos e se respeitam muito. Modric nunca foi uma ameaça a Cristiano Ronaldo, talvez por ser muito modesto e educado, sempre sorrindo... Modric vai ter um papel maior agora e mais importante que antes – analisa Mladen Miletic, jornalista e editor no jornal croata ‘Večernji List’
A Copa do Mundo, porém, deu visibilidade para aquele que parecia não querer ser notado. Modric tinha que ser o Cristiano Ronaldo da Croácia. E foi. O meia não fugiu da responsabilidade e assumiu a condição que lhe foi imposta. O resultado? Melhor campanha da história da seleção croata na Copa e o título de melhor jogador do campeonato.
- Modric é muito importante para o Real Madrid e para a Croácia. Eu fiquei impressionado como ele comanda o time, está sempre gritando com seus companheiros, mostrando o que eles podem fazer ou não fazer. Ele é uma espécie de técnico dentro de campo e isso é fascinante. Não exagero em dizer que ele é um dos meias mais importantes da história do Real Madrid. Na Croácia, ele é mais que um líder. É muito respeitado e amado por seus companheiros e fãs. Ele é o maior jogador da história da Croácia – disse Mladen
Infância como refugiado é a chave da motivação
O bom desempenho mudou o status do jogador e proporcionou duas novas vertentes em sua carreira: a possibilidade de deixar o Real Madrid e enfrentar um novo desafio, ou permanecer no clube que o consagrou. A Copa do Mundo atestou que Modric tem potencial para ser o protagonista, tanto que a Inter de Milão ofereceu um salário maior, um contrato de quatro anos na equipe italiana, mais dois anos na equipe chinesa Jiangsu Sunin, que também pertence ao dono da Internazionale, Zhang Jindong.
O Real Madrid, por sua vez, adotou uma postura de austeridade no mercado, que destoa da característica megalomaníaca de contratações que o clube adotou nos últimos anos. Os Galáticos não quiserem novas estrelas, mas sim, manter acesa o brilho dos astros que já tem em seu elenco.
Com essa postura, Modric se tornou um dos principais herdeiros do protagonismo deixado por CR7. A primeira oportunidade foi na final da Supercopa, na derrota para o rival Atlético de Madrid, por 4 a 2, na prorrogação, nesta quarta-feira. Voltando de uma longa temporada e fazendo seu primeiro jogo oficial nessa nova fase, Modric entrou apenas no segundo tempo e não teve muito destaque. Experiente e já tendo conquistado tudo em sua carreira, o croata vai continuar buscando objetivos para se manter motivado em sua história.
- Eu não posso deixar de citar que Modric enfrentou uma guerra em sua infância na Croácia, sendo um refugiado com sua família. Foi durante esse período que passou a jogar futebol. Ele foi criado em uma pequena vila, cresceu em cidade pequena e esses jogadores sempre encontrar grandes motivações para ser bem sucedido – finalizou Mladen
A hora do Bale
Gareth Bale já carregou o fardo de ser o jogador mais caro da história. E de ser um jogador novo, cercado de expectativa, tendo que triunfar em um dos maiores clubes do mundo. Quando chegou ao Real Madrid, o galês estava apenas começando a despontar no Tottenham e quase não teve muito tempo de saborear o fato de ser o melhor jogador de sua equipe. Os Merengues pagaram 100 milhões de euros (R$ 306,3 milhões, valor convertido na moeda da época) pelo jovem jogador.
A trajetória de Bale no Real Madrid foi marcada por desempenhos irregulares. Em sua primeira temporada (2013/14), foram 44 jogos, 22 gols e 19 assistências: uma boa marca de início. Na temporada seguinte, o atacante manteve a boa média, marcando 17 gols e oferecendo 12 assistências em 48 jogos. Nas duas temporadas seguintes, uma queda nos números.
Em 2015/16, 31 jogos, com 19 gols e 14 assistências, números bons, apesar de uma baixa na quantidade de partidas. A pior temporada foi em 2016/17, com nove gols, cinco assistências em 27 jogos. Nesta última, aumentou sua marca de gols (21) em 39 jogos. Apesar de estar presente e fazer bons jogos, sempre ficou ofuscado por Cristiano Ronaldo. Bale sentiu o peso de ser uma estrela na seleta galáxia madridista.
- As expectativas sobre Gareth Bale sempre foram extremamente elevadas. Depois de vários anos no clube, a sensação é de que Bale nunca cumpriu tudo que se esperava de um jogador com um potencial tão espetacular. Historicamente, no entanto, o Madrid é o clube mais exigente do futebol mundial e quando um jogador não atende essa expectativas, ele deixa o clube. Se Bale não saiu até agora é porque, dentro do clube, ainda tem a confiança máxima – analisa Álvaro Mogollo Marin, jornalista do jornal espanhol ‘Marca’
Maturidade e o herdeiro do gol
O mercado especulou a saída de Bale do clube espanhol para esse temporada, mas os grandes jogadores sempre guardam o melhor para o final. Na final da última Liga dos Campeões, contra o Liverpool, Bale marcou dois gols e foi o melhor jogador em campo. Aos 18 minutos do segundo tempo, o galês deu uma linda bicicleta, trilhou um novo capítulo em sua história no Real Madrid e fez com que o mundo relembrasse o que parecia ter se esquecido: a enorme qualidade do atleta.
- O papel e os números de Cristiano Ronaldo no Real Madrid sempre foram um apoio essencial para os outros jogadores. Se alguém não soubesse o que fazer em um momento difícil, a solução mais fácil era dar a bola para Ronaldo. Agora já não tem mais o português e a responsabilidade foi dividida. A saída de CR7 pode servir como um incentivo a Bale para desempenhar um papel de protagonista. Na final da Champions League, contra o Liverpool, ele já mostrou que pode fazê-lo – pontua Álvaro
Modric não disputou a pré-temporada, descansando da Copa do Mundo, mas Bale sim e teve grande desempenho. O novo treinador Julen Lopetegui parece que quer transformar Bale na referência ofensiva da equipe e o atacante parece gostar dos novos ares que respira.
Na Champions Cup, Bale chamou a responsabilidade para si. Maduro, o jogador lidou bem dentro de campo com os meninos Asensio e Vinícius Júnior e pode dar suporte aos jovens jogadores, tendo em vista que trilhou um caminho similar. Na final da Supercopa, Bale teve um desempenho abaixo da média, mas foi dele a assistência para o primeiro gol de Benzema.
- Espera-se que Bale seja o novo goleador do Real Madrid com Lopetegui. A sombra de Cristiano vai existir e um clube que luta todos os anos por título, precisa de uma alta capacidade para continuar ganhando regularmente. Bale e Benzema tem que aumentar seus números de gols e o galês mostrou que é mais eficiente que o francês – disse Álvaro
Bale já não é aquela jovem promessa galesa, que encantou o mundo com sua velocidade. Agora, entende que não tem a mesma velocidade que antes, mas demonstra que sabe a hora certa para correr. Isso surge como uma metáfora do seu atual momento: a maturidade necessária para assumir o fardo do protagonismo e daquilo que se espera dele, além de ter a consciência daquilo que ele pode oferecer dentro de campo.
*sob a supervisão de Bernardo Cruz