Montillo abre o jogo sobre proposta do Flamengo, revela seu próximo time e alfineta presidente do Cruzeiro

Na China, meia argentino fala sobre o duelo Brasil x Argentina pelas Eliminatórias e comenta o peso de ter vestido as camisas 10 de Pelé, no Santos, e de Maradona, na seleção

imagem cameraMontillo tem contrato com o Shandong até o final de 2016 (Foto: Ari Ferreira/Lancepress!)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 05/11/2015
20:43
Atualizado em 06/11/2015
10:44
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Na próxima quinta-feira, Brasil e Argentina se enfrentam pela terceira rodada das Eliminatórias para a Copa de 2018. O duelo ficará marcado pela volta de suspensão de Neymar, o camisa 10 brasileiro, e pela ausência do machucado Messi, o 10 argentino. Apesar de estarem entre os melhores jogadores do mundo, Ney e Leo não possuem uma marca que apenas Walter Montillo ostenta na história do futebol: ter sentido o peso da camisa 10 de Pelé no Santos e a 10 de Maradona na Argentina.

Hoje no Shandong Luneng, da China, Montillo foi um dos últimos hermanos que teve passagem marcante no Brasil. Pelo Cruzeiro, o argentino foi eleito o melhor meia do Brasileirão em 2010 e 2011. No Santos, porém, não conseguiu brilhar após ser comprado por R$ 16 milhões em 2013. Montillo, ao menos, teve a chance de vestir a camisa 10 do maior jogador da história – apesar de ele achar que “Maradona és más grande que Pelé”.

O meia não voltou por pouco ao Brasil no começo de 2015. O Flamengo estava buscando o camisa 10, porém os chineses melaram a negociação, fazendo com que a promessa de Cuca, seu técnico na China, não se concretizasse. A grande novela gerada na época até hoje traz ressentimentos ao jogador.

Aquela, talvez, tenha sido a última chance de o argentino retornar ao Brasil. Quando acabar seu contrato com o Shandong Luneng, no fim de 2016, Montillo já tem seu futuro definido, como revela nesta entrevista exclusiva ao L!.

Apesar do começo difícil na China, o meia está de bem com a vida pela família, finalmente, ter se adaptado ao outro lado do mundo. Quando Montillo chegou ao país, sofreu pelas dificuldades de seu filho Santino, portador de Síndrome de Down, para se adequar ao novo ambiente. Porém duas “contratações” feitas por seu clube o confortaram muito nos últimos tempos com relação ao seu xodó Santino.


Bem-humorado e com ótimo português, Montillo falou sobre a ótima relação com brasileiros, a emoção de jogar um Brasil x Argentina, o feito das camisas 10 e fez questão de cutucar Gilvan Tavares, o presidente do Cruzeiro.
Confira a entrevista com o único 10 que jogou com as camisas 10 dos maiores jogadores da história:

LANCE!: Você usou a camisa 10 de Maradona na Argentina e a 10 de Pelé no Santos. Qual teve mais peso para você?
Isso é verdade, mas eu agradeço ao futebol que me deu a chance de poder vestir essas duas camisas com tanta história. Foi um prazer. Não cresci com o sonho de usar essas camisas, seria mentira se eu falasse, queria que minha vida fosse de menos a mais. Sabella me deu na seleção, o Santos me deu a oportunidade da 10. Tomara que tenha feito a coisa certa para poder usá-las um pouquinho. Essas camisas têm muito peso mesmo.

Quem você acha que foi melhor: Pelé ou Maradona?
É difícil, não vi jogar nenhum dos dois. Melhor pra mim é o Messi, porque eu o vi jogar e joguei com ele. Com certeza, como argentino, vou falar Maradona (risos). Vi os vídeos e as coisas que me contam, que eram diferente, uns monstros, mesma coisa que estamos falando agora do Messi.

Com a 10, a Argentina, de Montillo, bateu o Brasil por 2 a 1 no Superclássico das Américas de 2012 (Foto: AFP)


Você também jogou com o Neymar. Acha que um dia ele pode superar o Messi?
Pode. Ele está muito bem, melhorou desde a chegada ao Barça. O time está muito entrosado. Infelizmente, ele teve a má sorte de nascer na mesma época de Messi, Cristiano Ronaldo. Agora tem muito jogador que está igual. Tomara que ele supere, porque ele é trabalhador, um menino super legal.

E no jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias, para quem você vai torcer?
É fácil! Eu falo português, mas vou torcer para a Argentina.

E o seu português está bom...
Morei quatro anos no Brasil. Sou bastante amigo da comissão técnica, do Tardelli, (Júnior) Urso, Aloisio, Jucilei. Eu só falo com eles, nem falo espanhol. Falo português o dia todo.

Montillo e a trupe brasileira do Shandong Luneng (Foto: Divulgação)


Como fazer para ganhar do Brasil sem o Messi?
Isso é com o treinador (risos), tem que achar um jeito. No jogo com o Equador, machucou o Aguero, que é muito importante. Não sei se o Aguero joga, sem ele é mais difícil. Messi não tem substituto. Neymar é diferenciado. Não tem substituto para os dois.

Como é para um jogador argentino jogar um clássico contra o Brasil?
Já vestir a camisa da seleção é diferente, jogar um clássico contra o Brasil é mais ainda. Ainda mais agora que a Argentina tem só um ponto. Seria muito bom ganhar esse jogo. Se ficar longe, fica difícil. Nessas Eliminatórias, não dá para perder. É um jogo difícil, mas tomara que a Argentina ganhe.

Aloisio é o melhor amigo de Montillo na China (Foto: Divulgação)


Mas ver a final da Copa com um brasileiro dá azar...
(Risos) O Aloisio queria meu melhor, ele torceu para a Argentina. Se é contra o Brasil, aí ele queria que o país dele fosse campeão. Ele é muito gente boa, um grande amigo. Mora no prédio ao lado do meu.

Quando você foi para a China, tinha consciência que poderia ser esquecido da seleção?
Jogando aqui não é fácil ser convocado. Mas estou tranquilo, a Argentina tem muitos jogadores nos melhores times do mundo. Tomara que possa conseguir algum título. Além de eu conhecê-los muito, são meninos que merecem. Pena que ainda não conseguiram o título tão anseado que esperam.

Dá para você desenvolver sua qualidade no futebol chinês?
O futebol aqui é muito parelho. Agora é difícil falar de um país que o futebol seja tão ruim. O nosso time foi jogar no Brasil com o Palmeiras, Botafogo, e a gente não passou dificuldades. Óbvio que nem todos times são bons, tem grandes e pequenos, assim como é no Brasil e na Argentina. Tem estrangeiros muito bons, isso ajuda muito. Tem jogadores de seleção. A China é muito parelha.

Você estava com problemas de adaptação na China. A sua situação melhorou?
Sim, esse segundo ano foi bem melhor. O primeiro foi mais difícil, mas você acaba se acostumando. O menino (o filho Santino) está melhor. A dificuldade maior é a fala, que ninguém compreende, poucas pessoas falam inglês aqui. Tenho tradutor pessoal, sempre ajuda. A gente sabe mais ou menos o que precisamos, ele dá uma mãozinha.

Você tem vontade de voltar a jogar no Brasil?
É difícil falar. Ano passado fiquei falando, virou novela muito grande. Não quero que volte a acontecer. Tenho o perfil baixo (expressão argentina que descreve pessoas inibidas). No começo do ano, tinha a possibilidade de sair para o Flamengo, mas virou novela de dois meses. Todo mundo no Rio falando que eu queria ir, que o clube não deixou. Sei que tenho aqui mais um ano de contrato. Eu não vou ficar falando com vontade de voltar. Qualquer título que você coloque, vou me dar mal. Qualquer clube que me queira, tem que viajar aqui e falar com os chineses.

Último clube de Montillo no Brasil foi o Santos (Foto: Ivan Storti/Lancepress!)


Depois dessa proposta do Flamengo, você teve alguma outra vinda do Brasil?
Não tive, ninguém me ligou.

Você ficou chateado por não ter ido ao Flamengo?
O problema é que eu tinha falado que ia dar certo. Fiquei tranquilo. Chateado, não, porque tenho contrato aqui. Sei o contrato que assinei. Seria uma boa oportunidade voltar a um time tão grande como o Flamengo. Não posso falar que quero sair. O problema foi que fui fazer a pré-temporada lá. Era fácil achar o Montillo, os chineses não entendiam o que eu falava.

Por que os chineses não aceitaram?
Eles nunca falaram que iam aceitar. Eu tinha falado com o Cuca, que disse que me daria uma mão para eu sair, mas os chineses não quiseram. Eu fiquei ‘de boa’. Também não queria ficar mal com o pessoal aqui. Sempre foram muito respeitosos comigo, tentaram ajudar minha família. Eu tinha sido campeão com o time, depois fui campeão mais uma vez. Em 2015, tive a má sorte de machucar o ombro, fiquei três meses fora. Voltei, agora estou bem. Tomara que dê tudo certo.

O Cuca disse que ia te ajudar a voltar para o Brasil?
Eu acho que sim, estava chegando o Tardelli, só poderiam jogar três estrangeiros, um tinha que sair. Ficamos quatro aqui, um acabou ficando no banco (risos).

Você se arrependeu de ter dito que queria ir para o Flamengo?
Arrependido, não. Não me arrependo das coisas. Tanto os chineses quanto o Cuca sabem que eu tenho problema muito grande com meu filho (tem Síndrome de Down). Foi muito difícil para mim. Não tinha escola para ele. Vieram trabalhar duas meninas de Belo Horizonte, ficaram seis meses. Eu tinha que sair daqui pelo meu filho, porque não tinha escola, mas dessa vez o clube me ajudou a arrumar duas professoras do Brasil. A gente estava com medo no começo, vir para a China não é fácil.

Meia é esposo de Melina Ianazzo e pai de Santino e de Valetim (Foto: Divulgação)


Como você analisa sua passagem por Cruzeiro e Santos?
Meu melhor momento foi no Cruzeiro. Para mim, as coisas deram muito certo no plano individual. No plano de equipe, não conseguimos coisas tão importantes. Meu começo no Santos não foi bom como esperava, talvez pela adaptação, mas não gosto de colocar desculpas. Não me achei no começo, mas com o tempo a coisa melhorou.

Montillo conquistou só o Mineiro de 2011 pelo Cruzeiro (Foto: Gil Leonardi)


O Gilvan Tavares, presidente do Cruzeiro, afirmou que você forçou sua saída para o Santos. É verdade?
É fácil falar, é muito fácil falar com a imprensa. Meu pensamento é se ele queria que eu ficasse, tinha que fazer eu ficar. Estou trabalhando e vou procurar o melhor para a minha família. Ele saiu falando coisa da minha família. Cada um é como é. O Santos me levou e o Cruzeiro trouxe quantos jogadores para ser campeão? Não tinha dinheiro para contratar, o único que dava para vender era eu. Quando as coisas deram certo para ele, me afundar com a torcida deu certo. Nunca ouvi ele falar que a minha venda trouxe muito dinheiro, que o Cruzeiro está muito melhor agora.

Quando você sair da China, sua prioridade é voltar para o Brasil, Chile ou Argentina?
Universidad de Chile. Se tenho que cumprir meu contrato aqui, vou voltar para o Chile. Já sei o que vou fazer. Vou estar com 32 anos, é uma coisa que sempre falei com a família, que ia acontecer, não posso mudar. A torcida tem carinho muito grande comigo, vou tentar devolver esse carinho. No começo da história do Santino, foram eles que estavam do meu lado. Quero devolver o carinho, voltar e ajudar o time. Minha realidade é essa.

Para finalizar, qual é sua aposta para Brasil x Argentina?
2 a 1 para a Argentina.

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