Em 2010, pouco tempo depois de LeBron James anunciar que deixaria o Cleveland Cavaliers para se juntar ao então estrelado Miami Heat, a Nike lançou um comercial em que uma pergunta era repetida exaustivamente pelo jogador: "What should I do?" (O que eu devo fazer?). A peça surgiu logo após uma enxurrada de críticas de veículos de comunicação e torcedores dos Cavs e não servia como um pedido de desculpas. Muito pelo contrário.
Durante todo o vídeo, James encara o peso de sua decisão e descarta servir de modelo para os outros. E no final deixa uma provocação: “Eu devo ser quem você deseja que eu seja?”. Chegamos a 2018 e surge mais um novo comercial com uma grande personalidade esportiva. Desta vez, a Gilette patrocina o vídeo em que Neymar busca de alguma forma evitar a fama de simulador e atenuar o impacto extremamente negativo emergido na Copa do Mundo da Rússia.
O ‘desabafo’ de Neymar é como a materialização de diversos posts publicados pelo jogador em seu perfil no Instagram. No discurso, uma série de clichês com um verniz publicitário que não convence em nenhum momento. As mesmas mensagens inócuas do tipo: “só quem cai pode se levantar”, “você não imagina o que eu passo fora de campo” e “dentro de mim ainda existe um menino”.
Em algum momento Neymar anuncia que está ali, de “cara limpa” e peito aberto para absorver as críticas, algo que jamais foi sua característica e só acontece justamente quando uma ação comercial está por trás de um velado mea culpa. O pedido de desculpas de Neymar veio com espaço comprado no horário nobre da maior emissora do país. A coletiva no momento da derrota? Desnecessário e pouco lucrativo.
Neymar vai se consolidando como o craque menos autêntico da história do futebol brasileiro. Tudo na sua carreira é orquestrado por pais, staff, parças, patrocinadores. Uma celebridade que, porventura, também joga bola. O Neymar que realmente dá as caras é aquele imaturo ao extremo, que tenta roubar todos os holofotes, que não aceita ser contestado, que briga com o colega para bater uma falta, que senta sobre a Ferrari quando a Receita Federal aperta seus calos fiscais.
Um novo homem todo dia? Há muito tempo o que se vê no espelho é uma repetição insuportável de Neymar.
*Fabio Chiorino escreve também no Blog 2 Pontos do LANCE!