OPINIÃO: O que falta para o PSG atingir o patamar que tanto sonha?

Derrota para o Rennes no último domingo aumenta insatisfação dos torcedores

Escrito por

Após a derrota para o Rennes por 2 a 0, no último domingo, o Paris Saint-Germain embarcou em uma crise com seu torcedor. As estrelas não conseguiram mudar o rumo do jogo: Messi entrou em campo muito vaiado e cometeu diversos erros, Mbappé recebeu muita ovação mas desperdiçou chances claras. O resultado negativo deu margem para o Olympique de Marselha diminuir a vantagem parisiense na liderança para apenas sete pontos. A pressão está em seu momento mais alto da temporada para o PSG.

Achar um único culpado neste momento é o que a torcida menos deveria fazer. Vaiar Lionel Messi ao ser anunciado pelos alto-falantes do Parque dos Príncipes enquanto faz festa para Kylian Mbappé é injusto. Messi tem 18 e 17 assistências em 31 jogos na temporada pela equipe francesa. O problema não está no argentino, nem em seu comprometimento - ou a falta dele, como afirma a torcida - com o clube. O problema vai muito além dos jogadores.

A LEI INFALÍVEL
Pela segunda vez em cerca de um mês, o PSG foi vítima da famosa lei do ex. No jogo de ida pelas oitavas de final da Champions League, o nada aproveitado pelo clube Kingsley Coman marcou o gol da vitória do Bayern de Munique. Coman, da mesma forma, já havia feito o gol do título da Champions 2019-20 sobre os franceses. No último domingo, foi a vez de Arnaud Kalimuendo, de apenas 21 anos, balançar as redes pelo Rennes tendo sido revelado em Paris. 

Não aproveitar a base da forma correta é um defeito claro da gestão de Nasser Al-Khelaifi. Não existe um processo claro de transição que facilite a adaptação dos jogadores. Uma das grandes promessas do futebol mundial, o holandês Xavi Simons não recebeu muitos minutos e hoje é um dos principais jogadores do muito bom PSV Eindhoven. Outro exemplo é Zaire-Emery, meia francês de 16 anos, que em um dos seus primeiros jogos com a equipe principal, atuou contra o Bayern e não foi bem. Não existe um cuidado com os jovens que vem da base. Não há adaptação. Garotos que poderiam fazer um processo de transição entrando em jogos aos poucos são dispensados com muita facilidade. E quando saem, brilham e insistem em voltar para bater no PSG.

Coman marca frente ao PSG (FRANCK FIFE / AFP)

EM FUNÇÃO DA EUROPA
​Vencer a Champions League é o sonho de muitos jogadores, não só europeus, mas de todo o mundo. Mas nenhum clube ou nenhum jogador deve pensar somente na Champions. Essa competição abrange times gigantes, de camisa pesada, de muita história, e que sabem jogar essa competição. O crescimento recente do futebol europeu aumentou muito a competitividade e trouxe times como Napoli, Atalanta e RB Leipzig um pouco mais longe do que de costume no continental.

Mas estes times não vivem em função da Champions, porque vencê-la é muito difícil. O PSG vive. Vencer a Ligue 1 e a Copa da França não são mais objetivos para a diretoria. Levantar estes dois troféus é obrigação, não vencer é vexame. A intenção de seguir jogando é preparar os jogadores para o continental e torcer para que não haja um sorteio injusto que coloque clubes como Bayern ou Manchester City à sua frente. Porque se esses times figuram no caminho, a temporada do Paris acaba no meio. E surgem acontecimentos como vaias ao atual melhor jogador do mundo. Quem vive em função da Champions vive em um grande casamento com a vergonha.

DO MEIO PARA A FRENTE
​Um time que quer ser campeão de uma Champions League com times ofensivos e letais no ataque não pode priorizar reforços apenas ofensivos e largar de mão a parte defensiva. Todo ano, as quedas europeias se iniciam através de erros dos defensores. Pênaltis infantis, bolas perdidas na entrada da área, erros de posicionamento. Falhas que geram as quedas.

- Buscamos marcar aquele gol que poderia ter dado ímpeto e restaurado uma dinâmica. Nós não conseguimos. Também tivemos situações no segundo tempo com Kylian, com Leo, com Marco Verratti, mesmo que tenhamos deixado muito espaço para o time do Rennes. Mas não podemos culpar os jogadores, às vezes, com tanta falta de referências dentro de campo, com grandes jogadores, titulares, líderes, sem poder jogar - disse o treinador francês Christophe Galtier após a derrota para o Rennes.

Para um time do investimento do PSG, é justo ter Messi, Mbappé e Neymar como ataque. Mas é completamente equivocado não ter reposições de peso no banco, ou que possam substituir Marquinhos quando o brasileiro está lesionado como agora. É impossível ser campeão de uma Champions quando não se tem defensores confiáveis, banco com jogadores que possam entrar e agregar, decidir jogos grandes. Colocar toda a responsabilidade no trio de ataque, por mais habilidosos e geniais que os três sejam, é o primeiro passo rumo ao fracasso.

Trio de ataque do PSG celebra gol na Champions (Foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP)

O PSG tem tamanho sim para conquistar a Champions. Tem camisa sim para levantar a Orelhuda. Mas não tem a gestão correta. Não tem a tratativa correta para conquistar a glória máxima do futebol europeu. Enquanto a diretoria mantiver esta forma de gerir o Paris Saint-Germain, o sucesso no único objetivo não virá.

O Paris Saint-Germain volta a campo no dia 2 de abril, quando enfrenta o Lyon pela 29ª rodada da Ligue 1, e seca o Olympique de Marselha, principal adversário direto da equipe na briga pelo título francês. 

Siga o Lance! no Google News