"Football Heritage". A famosa coletiva de José Mourinho, em sua passagem pelo Manchester United, falando sobre heranças futebolísticas dentro de um clube, virou meme à época, mas cada vez mais existe o sentimento de que o Special One estava um passo à frente do entendimento no esporte.
O discurso sobre construções de legados acabou atingindo exatamente uma de suas grandes criações: o Chelsea. Os Blues vivem um péssimo momento nos últimos meses, sem ter uma continuidade de trabalho, e Mauricio Pochettino está a grãos de areia de ser demitido.
A impressão passada é que a queda acontecerá no máximo ao fim da temporada. Mas convenhamos: Pochettino assumiu uma bomba já acesa, prestes a explodir, e não está conseguindo decifrar o código da paralisação.
Escolhas bizarras têm marcado o trabalho do argentino. A insistência em colocar Cole Palmer como centroavante, o zagueiro Colwill na lateral esquerda, Enzo Fernández quase como um camisa 10 e a exposição de Moisés Caicedo no meio não ajudam em absolutamente nada na equipe.
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Os nomes, porém, são de grande jovialidade. Dos 16 jogadores - somando titulares e reservas - que estiveram em campo na derrota para o Wolverhampton, apenas Thiago Silva está na casa dos 30 anos. Todos os demais têm 29 ou menos. Grande parte chegou nas últimas três janelas de transferência, alguns custando valores altíssimos.
O problema do Chelsea não é unicamente Mauricio Pochettino. O processo que os diretores do clube optam por conduzir são grandes dificultadores de uma construção de legado. Lampard fez várias transições com jogadores da base e caiu. Thomas Tuchel, logo após vencer a Champions, foi demitido de surpresa por conta de um jogo ruim. Graham Potter chegou, mas um clima péssimo em um vestiário repleto de atletas fez com que saísse em 200 dias de trabalho. Trabalhos que não tiveram continuidade e travaram evoluções, de jogadores, treinadores e do clube como um todo.
A tal da "herança futebolística" citada por José Mourinho parece não ser algo que o Chelsea sonha em ter tão cedo. E nem os treinadores parecem querer correr o risco de ver a bomba londrina em suas mãos, vide as recusas de Luis Enrique e Julian Nagelsmann, com trabalhos longos em sua carreira.
O mundo do futebol hoje é marcado por legados e por imediações. Alguns entendem a necessidade de reconstruir características geracionais, como o rival londrino do Chelsea, o Arsenal, que perdeu o lendário Wenger e penou, mas acreditou em Mikel Arteta para reerguer a instituição. Os Blues, por outro lado, apostam no hoje, mas parecem não entender que o dinheiro trará jogadores jovens que ainda não estão prontos para brigar entre os gigantes.