O mundo do futebol foi surpreendido com o anúncio da criação da Superliga Europeia. A estrutura do esporte promete passar por uma ruptura com o modelo atual. Além do aspecto esportivo estar em jogo, o econômico ganha cada vez mais protagonismo, uma vez que os 15 clubes fundadores devem receber cerca de 350 milhões de dólares para a realização de investimentos.
Pedro Trengrouse, professor de Direito Esportivo da FGV e coordenador acadêmico do Programa FGV/FIFA/CIES em Gestão de Esporte, explicou ao LANCE! as questões que surgiram com a Super League, como a ruptura do atual modelo existente no futebol.
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- Esse movimento é natural. Nos Estados Unidos, o modelo nasceu assim. No futebol, estamos falando de uma transição. No último ano, o valor de mercado dos clubes diminuiu e os fundos americanos compraram diversos clubes. Era uma questão de tempo para que eles quisessem implantar o modelo do esporte norte-americano.
A Superliga gerou críticas contundestes de torcedores nas redes sociais, de comentaristas e ex-jogadores, como Gary Neville, ídolo do Manchester United. No entanto, Trengrouse afirma que os clubes devem se preocupar majoritariamente com suas contas e seus acionistas.
- Os torcedores têm um lugar nessa discussão, mas quem decide é o dono. Ele deve considerar a opinião dos fãs, pois isso se reflete nas finanças do clube. As ações da Juventus, por exemplo, subiram 12% após o anúncio da Superliga. Se uma equipe tiver ações na bolsa, o torcedor pode ser acionista. O que fica difícil é ouvir a opinião de quem não tem responsabilidade com as contas no fim do mês.
Apesar das ameaças da Uefa, da Premier League, La Liga e Serie A com a possibilidade da exclusão dos 12 times fundadores de competições continentais e nacionais, o especialista acredita que os clubes não serão punidos. Além disso, afirma que há apenas uma expansão a nível europeu do que já existe em cada país, onde os times são responsáveis pelas ligas.
- As equipes não querem deixar as disputas nacionais. Os clubes estão fazendo uma extensão do que já existe em um plano nacional. Por que eles podem organizar competições em seus países e não podem no continente? Essa ditadura do associativismo já foi superada nos países e será também nos continentes.
Apesar da preocupação com relação ao Fair Play Financeiro, os clubes devem continuar sujeitos as regras atuais. A Superliga afirmou que haverá um grupo responsável por monitorar a saúde econômica dos clubes. Além disso, as equipes poderão gastar 55% das receitas para financiar salários e transferências.
ENTENDA A SUPERLIGA
Até o momento, os participantes da nova Liga são Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham, pelo Big Six inglês. Na Espanha, Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid fazem parte da cúpula. Pela Itália, Inter de Milão, Juventus e Milan concluem o grupo. Outros três clubes são aguardados para dar início ao torneio.
O molde do torneio giraria em torno de 20 clubes, dentre os quais 15 são os fundadores. As partidas ocorreriam nos meios de semana e as equipes seguiriam participando de seus campeonatos nacionais, conforme o calendário tradicional. Em um modelo parecido com o da NBA, os grupos seriam divididos em dois, cada um com 10 integrantes, dentre os quais três avançariam diretamente às quartas de final.
Os clubes que terminarem a primeira fase em quarto e quinto de seus grupos, disputarão entre si, em dois jogos, quem assume as vagas restantes. Assim como na Liga dos Campeões, os confrontos pela fase inicial e playoffs seriam de ida e volta. A final, todavia, será disputada em jogo único e local neutro.
Segundo o comunicado emitido pela organização da Superliga, a ideia central é elevar o patamar do futebol europeu.
- Proporcionará um crescimento econômico significantemente maior e apoio ao futebol europeu por meio de um compromisso de longo prazo com pagamentos de solidariedade ilimitados que crescerão de acordo com as receitas da Superliga - afirmou o comunicado da Superliga
- Estes pagamentos de solidariedade serão substancialmente mais elevados do que os gerados pela atual competição europeia e deverão ser superiores a € 10 bilhões durante o período de compromisso inicial dos clubes - concluiu.
Ainda sobre pagamentos, a Superliga prometeu uma base financeira por volta de € 3,5 bilhões para os clubes fundadores compensarem os prejuízos pela pandemia da Covid-19 e melhorarem suas infraestruturas. Caso o valor se confirme, seria superior aos pagos pela Uefa em todas suas competições (Liga dos Campeões, Liga Europa e Supercopa Europeia).
Já Andrea Agnelli, vice-presidente da organização, e presidente da Juventus, afirmou que a Superliga aumentaria a solidariedade entre os clubes, e tornaria o esporte mais atraente para os fãs.
- Nossos 12 clubes fundadores representam bilhões de fãs em todo o mundo e 99 troféus europeus. Nós nos reunimos nesse momento crítico permitindo que a competição europeia se transformasse, colocando o jogo que amamos numa base sustentável para o futuro a longo prazo, aumentando substancialmente a solidariedade e dando aos torcedores e jogadores amadores um fluxo regular de jogos de destaque que irão alimentar a sua paixão pelo jogo e, ao mesmo tempo, fornecer a eles um modelo atraente - disse o italiano.