Reconstrução? Italianos atuam bem no mercado e apontam para melhora em busca do antigo prestígio

Contratação de Cristiano Ronaldo pela Juve, e outros clubes como Milan e Internazionale se reforçando bem na janela, fazem o Calcio voltar a se reerguer, mesmo que lentamente

imagem camera(Foto: Divulgação)
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Lance!
Roma (ITA)
Dia 15/08/2018
15:17
Atualizado em 16/08/2018
08:05
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A nova temporada do Campeonato Italiano começa neste sábado com uma importante novidade: Cristiano Ronaldo. A chegada do português é só um dos exemplos do processo de reconstrução do futebol do país, que perdeu muito prestígio em relação a última década. O LANCE! levantou dados, listou alguns dos fatores que explicam essa decadência, conversou com um especialista no Calcio e falou com o zagueiro Samir, da Udinese, para entender esse retomada do esporte na Itália.

Poderio das equipes italianas nas últimas décadas
Quando se perguntava quais eram as equipes mais fortes do futebol mundial há alguns anos, era comum em todas as respostas aparecerem três ou quatro clubes do Campeonato Italiano. Na última década, Milan, Internazionale e Juventus reuniam grandes nomes do esporte em seus elencos; como Maldini, Kaká, Seedorf, Pirlo, Zanetti, Figo, Nedved, Del Piero, Adriano dentre tantos outros talentos.

Contudo, o panorama não é mais o mesmo e a maioria das equipes do Calcio não possui a mesma qualidade de jogadores em seus elencos. O jornalista brasileiro Anderson Marques, que está há mais de 10 anos na Itália e hoje trabalha para o 'Premium Sport', comentou sobre o atual essa mudança no esporte local:

- O futebol na Itália não é mais o mesmo, caiu bastante em qualidade. As contratações são mais tímidas, os patrocínios também declinaram e os grandes proprietários dos clubes também "desistiram" do investimento no esporte como Massimo Moratti, da Inter de Milão e Silvio Berlusconi no Milan. Um dos poucos times que foi na contramão dessa derrocada foi o Napoli, que investiu bem nos últimos anos na era Aurelio De Laurentis, partiu da série C e hoje é um dos grandes na Itália. - explicou Anderson.

Corrupção fora das quatro linhas
Um dos pilares desse declínio do futebol local foi o grande episódio de corrupção descoberto em 2006, que ficou conhecido como 'Calciopoli', que consistia em um esquema da manipulação de resultados. Além da perda de pontos e das demais punições imposta aos clubes participantes do ocorrido, o caso também resultou na queda da credibilidade do torneio, que perdeu contratos de publicidade, viu antigos patrocinadores se afastarem e teve o contrato televisivo diminuído.

A crise econômica mundial de 2008, que assolou as principais nações do planeta, afetou também o Campeonato Italiano: torcedores não gastavam dinheiro com o clube, que por sua vez, não tinham lucro necessário para arcar com as despesas anuais. O resultado foi visto em várias escalas, como a partida de grandes jogadores, que trocaram a liga italiana por outras mais atrativas, e a venda dos estádios próprios dos clubes para prefeituras locais.

Falta da investimento na base
Na história do futebol, a Itália foi sempre mundialmente conhecida por revelar grandes jogadores. O país, que lançou ao esporte atletas como Buffon, Maldini, Pirlo, Baresi, Totti, Dino Zoff, Del Piero, Zola, entre outras lendas, hoje sofre com a ausência de italianos de qualidade. Na última década, os clubes investiram pouco nas categorias inferiores, optando por jogadores estrangeiros e mais experientes e a consequência disso se reflete na seleção principal.

- As categorias de base na Itália estão muito ruins, parte majoritária dos jogadores na base dos clubes são estrangeiros com cidadania italiana e a qualidade técnica é muito fraca. As grandes equipes dificilmente promovem jogadores para a equipe profissional. O investimento nessa área é muito baixo, e em muitos clubes nem existe. Em alguns clubes da segunda e terceira divisão a situação é pior; jovens atletas pagam para treinar. disse o jornalista do 'Premium Sport' ao L!.

Quatro vezes campeã do mundo, a seleção italiana sofre uma das maiores crises de sua história. Após a conquista do mundial de 2006, na Alemanha, a Azurra teve fracos desempenhos nas competições de nações. Parou nas quartas nas Euros de 2008 e 2016, e foi goleada por 4 a 0 na final da competição em 2012. Nas Copas do Mundo, não passou da fase de grupos em 2010 e 2014, e não conseguiu nem se classificar para o Mundial de 2018. Contudo, o ex-zagueiro do Flamengo, Samir, que hoje atua na Udinese falou que isso têm mudado:

- Posso falar pelo meu time, que conta com atletas, na sua maioria, numa faixa etária entre 18 a 28 anos. São poucos os jogadores acima dos 30 na Udinese. Isso mostra um pouco qual é a filosofia do clube, que abre as portas para os mais jovens e dão toda a estrutura necessária. Tenho a convicção de que essa mescla de vitalidade com jogadores mais experientes e rodados é um dos segredos do futebol. - disse o defensor de 23 anos.

Contratação de Cristiano Ronaldo e reconstrução do esporte
Nos últimos anos, o que se viu na Itália foi uma supremacia da Juventus sobre os demais clubes. A Velha Senhora conseguiu "escapar" da crise, soube investir e se manteve, se não no topo, perto dos gigantes do futebol mundial. Campeã por sete vezes seguidas desde a temporada 2011/2012, a Juve conseguiu nesta janela a contratação de Cristiano Ronaldo e segue como uma das franco-favoritas para o título na temporada que se inicia no próximo fim de semana.

- A Juventus sempre será favorita. Tem que respeitar a história. Ninguém ganha o Italiano por sete anos consecutivos à toa. Mas há outras grandes equipes na Itália de muito peso, que tentarão de tudo para roubar o título da Juve. Na temporada passada, por exemplo, o Napoli liderou por um bom tempo, mas, na reta final, a equipe de Turim mostrou toda a sua força e acabou campeã, aproveitando alguns tropeços do Napoli. Isso mostra que a Velha Senhora também não está tendo vida fácil aqui. Está afunilando, a briga tem sido boa. - falou o ex-atleta do Flamengo.

Contudo, apesar da supremacia do time de Turim, não é só a Juventus que vem fazendo boas contratações. Pouco a pouco, clubes tradicionais vão retomando espaço antes adquirido através de boas contratações nas últimas janelas. O LANCE! levantou alguns dados e constatou que os principais clubes italianos gastam mais a cada ano e têm cada vez mais os elencos valorizados, principalmente de 2015 até para cá.

A equipe que mais cresceu nos últimos três anos foi a Internazionale, que em 2015, tinha elenco orçado em 295 milhões de euros (R$1 mi na época) e hoje o valor quase duplicou, variando na casa dos 560 milhões de euros (R$ 2,4 bi). Na temporada 2014/2015, os Nerazzurri gastaram apenas 15 milhões de euros (R$ 50 mi na época) no mercado, e por outro lado, só na primeira janela de 18/19, o clube já investiu quase de 80 milhões de euros (R$ 350 mi).

O Milan não fica muito atrás. Há três anos, o valor estimado do elenco girava em torno de 230 milhões de euros (R$ 750 mi na época), e agora é orçado em mais de 450 milhões de euros (R$ 2 bi). Assim como o rival de Milão, os Rossoneros gastaram muito pouco para o campeonato de 14/15, desembolsando só 20 milhões de euros R$ 65 mi); diferente do presente momento, onde clube já investiu mais de € 80 milhões. (R$ 350 mi)

Contando apenas a janela de verão na Europa, as principais contratações dos grandes na Itália para esta temporada foram: Cristiano Ronaldo pela Juventus; Naingollan e Lautaro Martínez pela Internazionale, e Gonzalo Higuaín pelo Milan. A Roma também se mexeu bem e trouxe o meia argentino Javier Pastore. O jornalista Anderson Marques diz o processo de reestruturação do futebol no país está em vigor e que daqui alguns anos, Milan e Inter podem voltar ao brilhantismo de outrora.

- O processo de reconstrução está acontecendo, mas de modo devagar, os times estão investindo mas ficam receosos devido ao Fair Play financeiro. O Milan, que fez ótimas contratações, está se reerguendo e o chinês, dono da Inter, que tem muito dinheiro, pode trazer grandes nomes nas próximas janelas. Acredito que daqui alguns anos podem fazer frente a Juventus. - complementou o jornalista, que teve o discurso corroborado pelo zagueiro da Udinese:

- O Campeonato Italiano está voltando a ter o mesmo prestígio de antes, da época de Kaká, Cafu, Seedorf... A vinda desses jogadores pra cá será muito importante, e dará visibilidade a todas as equipes. O Calcio, como eles dizem aqui, tem tudo para voltar a ser o que sempre foi. - finalizou Samir.

*Sob supervisão de Bernardo Cruz

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