Conheça a influência do Chelsea no apoio a refugiados da 1ª Guerra

Blues deram suporte para foragidos belgas, com construção de escolas, enfermarias e apoio financeiro. No fim de semana, clubes prestaram homenagem a veteranos

imagem cameraHazard, que sabe a história, hoje em dia é o craque do time (Foto: Reprodução)
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Lance!
Londres (ING)
Dia 13/11/2018
13:22
Atualizado em 13/11/2018
14:46
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A rodada do último fim de semana da Premier League foi especial. Não apenas pelos jogos, gols e grandes jogadores, mas pelo minuto de silêncio feito antes de cada partida. Neste domingo, comemorou-se o centenário do fim da Primeira Guerra Mundial e, antes de todas as partidas, um minuto de silêncio foi feito em homenagens aos soldados e veteranos ingleses.

O Chelsea entrou em campo e empatou, em 0 a 0, com o Everton. Antes da partida, o minuto de silêncio foi respeitado pelos jogadores. Eden Hazard, o craque do time, estava entre os presentes. Durante a Primeira Grande Guerra, o clube londrino abriu as portas para refugiados belgas e teve uma bonita participação na reintegração e no suporte dos compatriotas de Hazard.

As consequências da guerra
Assim como muitos países europeus, a Bélgica sofreu com a Primeira Guerra. Estima-se que 95% do território belga tenha sido ocupado pelas tropas alemãs, incluindo La Louvière, cidade natal de Hazard. Com a invasão germânica, homens, mulheres e crianças deixaram suas terras, na medida em que a fome e a violência aumentavam no país. Foram milhares de cidadãos mortos, entre agosto e novembro de 1914.

- Eu sabia que meus parentes tinham vindo para cá e que talvez tinha algo relacionado à guerra, mas não sabia o porquê. Eles desistiram de tudo. E ficar longe de sua terra natal deve ser um sentimento horrível - disse Julie Hart, torcedora do Chelsea e neta de um dos refugiados, ao site do Chelsea.

Chelsea abre as portas para os refugiados
Segundo Rick Glanvill, historiador do Chelsea, 250 mil belgas procuraram refúgio no Reino Unido, sendo que 70 mil deles foram para Londres. Boa parte dos ingleses foram receptivos com os refugiados e o Chelsea teve importante influência nessa aceitação.

- Você pode aprender tudo sobre a Primeira Guerra nas escolas na Bélgica. Eu me mudei de lá muito cedo para a França, mas, mesmo na França, a Primeira Guerra é muito presente na História. É algo que você precisa saber - disse Hazard, também em entrevista ao site do clube.

Na época, Lord Cadogan, então presidente do clube, criou uma instituição que tinha como intuito arrecadar dinheiro para ajudar os belgas. O mandatário entrou com um cheque de 250 libras, o equivalente a 20 mil libras, na cotação atual. A instituição ajudou a criar dormitórios e escolas, além de prover as necessidades básicas dos refugiados, como comida e mobílias.

- Eu não poderia imaginar que o Chelsea teve uma parte tão importante nessa história, especialmente na história de minha família - comenta Julie.

Ingressos de graça e rendas de jogos destinadas à reestruturação
O histórico edifício de Crosby Hall, localizado na região de Chelsea, serviu como acomodação para os refugiados. Empregos foram criados para homens e mulheres, assim como escolas e enfermarias. O Chelsea passou a destinar parte da renda arrecada em ingressos para a compra de comida, além de criar um espaço que abrigou sete famílias de refugiados.

Segundo o site oficial do clube, a diretoria do Chelsea também dava ingressos de graça para os refugiados acompanharem os jogos. A partida contra o Olhdam, no Stamford Bridge, no dia 24 de outubro de 1914, foi um dos exemplos.

- São homens e mulheres, parceiros do Chelsea, que aplaudiram os gols do Chelsea e ignoraram os feitos pelos visitantes - relatou uma publicação da época ("Match Programme") sobre a partida, que terminou em 2 a 2.

A assistência pós-guerra e o craque belga do presente
A assistência ao país continuou mesmo após o término da guerra. Em novembro de 1917, o clube organizou um amistoso entre a Bélgica e o Exército Inglês, com a renda destinada para o exército belga. O evento se tornou regular e durou até 1930.

Cem anos depois do fim da Primeira Guerra, um belga faz história no Chelsea. Hazard é referência da equipe desde 2012. Na atual temporada, lidera a boa fase do time, com oito gols e quatro assistências, em 14 jogos. Já conquistou dois Campeonatos Ingleses (2015 e 2017) pelos Blues, além de levar a Bélgica ao terceiro lugar da Copa do Mundo, melhor colocação da história do país. Pelo Chelsea, são 147 gols e 132 assistências em 509 jogos.

- Foi uma surpresa, porque eu não conhecia essa história. Eu sabia que muitas pessoas na França vieram para a Inglaterra e sabia que os belgas tinham ido para a Holanda e para França - disse Hazard. 

Passado destoa do presente
As atitudes do passado do Chelsea destoam das atitudes do Reino Unido na atualidade. Desde o Brexit (saída do Reino Unido da União Européia), em 2016, o número de casos relacionados a xenofobia e racismo aumentou em 50%, segundo o "Independent". Dados policias da Inglaterra e do País de Gales indicam que cerca de 80 mil crimes de ódio foram documentados. O sentimento contra estrangeiros também aumentou, de acordo com dados da Comissão Européia contra o Racismo e Intolerância.

- Evidências sugerem que houve um aumento neste tipo de ofensa durante o período do referendo da União Européia. Houve um claro aumento nos crimes de ódio - disse ao "Independent", o superintendente da Metropolitan Police’s, Waheed Khan.

Durante o minuto de silêncio, antes da partida contra o Everton, um arco-íris apareceu no céu de Stamford Bridge. O clima de respeito e a memória, talvez, surjam para relembrar sobre tolerância. 

*Sob a supervisão de Fábio Storino

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