Ao longo das últimas décadas, o futebol italiano tem sido palco de diversos escândalos. Situações que fogem das quatro linhas e invadem as gestões extracampo, bastidores e até mesmo a vida pessoal dos jogadores costumam tomar os holofotes do esporte local.
+ Harry Kane brilha, Inglaterra vence a Itália de virada e está classificada à Eurocopa 2024
O mais novo problema no país da Velha Bota está atrelado à seleção da Itália. Três jogadores costumeiramente convocados para vestir a camisa azzurra, Sandro Tonali, Zaniolo e Fagioli foram flagrados realizando apostas ilegais no futebol, correndo o risco de ser sancionados duramente e perderem até mesmo a Eurocopa de 2024. Esta, porém, não é a primeira ocasião em que jogadores, diretores e comissões técnicas se envolvem em escândalos extracampo. Relembre com o Lance! algumas das situações em que o futebol italiano vivenciou situações de apostas e manipulações.
PRIMEIROS ESCÂNDALOS
Em 1972-73, o Milan chegou à final da Champions League para enfrentar o Leeds United, da Inglaterra. O árbitro Christos Michas teve uma atuação bastante duvidosa no confronto, vencido pelo Rossonero, à época comandado por Nereo Rocco. As críticas e reclamações feitas pelo Leeds surtiram efeito: Michas viria a ser investigado e afastado de suas funções por ser flagrado em manipulações de resultados. Não ficou claro nas investigações se a decisão entrou no pacote ou foi fruto de um dia ruim no apito grego.
Sete anos depois, o Milan voltaria a ser citado em um escândalo. Outra manipulação de resultados foi exposta, envolvendo sete clubes ao todo, no escândalo conhecido como "Totonero". Além da equipe de Milão, a Lazio também foi rebaixada para a Serie B; Avellino, Bologna, Perugia, Palermo e Taranto perderam pontos nas disputas das duas primeiras divisões. Entre diversos jogadores banidos, Paolo Rossi enfrentou uma pena de três anos; posteriormente, a suspensão foi reduzida em um ano, o que liberou o atacante para brilhar na Copa do Mundo de 1982, marcando um hat-trick contra o Brasil e anotando um dos gols do triunfo sobre a Alemanha na decisão.
BRASILEIROS NO ESQUEMA
Em 1999, a situação de manipulações chegou aos jogadores brasileiros que atuavam na Itália. Tuta, jogador com passagens por Fluminense e Flamengo, passou por uma situação inusitada: atuando pelo Venezia, o atacante marcou o gol da vitória por 2 a 1 sobre o Bari já nos acréscimos, e partiu para a comemoração. Porém, apenas outro brasileiro, Fábio Bilica, celebrou o gol. Todos os outros jogadores do Venezia ficaram parados, não celebrando o gol, e um atleta do Bari chegou a agredir Tuta após o apito final. A ocasião acabou gerando uma desconfiança nas autoridades italianas.
+ ANÁLISE: No Brasil das convicções, quem morre aos poucos é a Seleção Brasileira
+ Galvão Bueno detona Seleção Brasileira: ‘Nunca vi um time tão ruim como esse!’
- Depois do gol, os caras do Bari ficaram me xingando. E eu sem entender nada. Os caras estavam muito irritados. O capitão deles começou a bater boca com o capitão do nosso time no fim do jogo. Mais tarde, esse capitão deles veio dando um tapa no meu rosto no fim. O médico do meu time pedia calma. E depois, na realização do exame antidoping, os caras do Bari quebraram tudo - revelou o jogador, em entrevista ao Uol, em 2013.
No ano seguinte, jogadores estrangeiros que atuavam no futebol italiano fizeram um combinado. Os atletas arranjaram passaportes falsos para jogar pela seleção da Itália; o goleiro brasileiro Dida estava envolvido na situação. O arqueiro recebeu um gancho de um ano e pena de sete meses de prisão, mas deixou a Itália rumo ao Corinthians, onde se consagrou como ídolo, e dois anos depois, venceria a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira. Em 2005, já de volta ao país da Velha Bota como goleiro do Milan, Dida foi absolvido das acusações.
O MAIOR DE TODOS
Em 2006, ocorreu a explosão do maior escândalo do futebol italiano. O Calciopoli, como ficou conhecido, envolveu punições severas a clubes que manipulavam os resultados durante a temporada 2004-05. Juventus, Fiorentina e Lazio foram punidos com o rebaixamento, mas só a Juve não conseguiu se salvar na apelação (a Viola e a Biancocelesti foram punidas com perdas de pontos). Milan, Reggina e Siena também iniciaram o campeonato com pontuação negativa, e diversos jogadores e dirigentes foram sancionados.
Buffon, ídolo da Juve, teve seu nome envolvido na situação, assim como Enzo Maresca. O árbitro Massimo de Santis, por sua vez, foi suspenso do apito por longos quatro anos; Gianluca Paparesta foi banido por apenas cinco meses. Nenhum dos jogadores, porém, precisou ficar fora dos gramados.
RECONHECIMENTOS
Cinco anos depois do Calciopoli, a Itália voltou a ter um momento de dificuldade no extracampo. O zagueiro Alessandro Zamperini ofereceu 200 mil euros ao também defensor Simone Farina, do Gubbio, para manipular o resultado de um jogo contra o Cesena. Farina, porém, foi contra a onda, e recusou o suborno, denunciando o caso às autoridades. Com isso, se tornou um exemplo de luta contra subornos e escândalos no futebol, além de receber um prêmio das mãos de Joseph Blatter, ex-presidente da Fifa, na cerimônia da Bola de Ouro de 2011.
Por fim, na primavera seguinte, o ex-lateral-direito Andrea Masiello assumiu ter feito um gol contra de forma proposital por 50 mil euros, em clássico entre Bari (seu clube) e Lecce. Na ocasião, a vitória deu ao Lecce a sobrevivência na primeira divisão. Masiello chegou a ser preso em abril de 2012, mas foi logo solto e construiu uma longa carreira com a Atalanta até 2020.
O QUE PODE ACONTECER?
As sanções envolvendo Tonali, Zaniolo e Fagioli estão inclinadas a serem grandes. Fagioli, inclusive, já conhece a sua punição: o jogador da Juventus pegaria cerca de três anos, mas por cooperação com as investigações e por não ter apostado em jogos de sua equipe, teve a punição reduzida para sete meses fora dos gramados. Tonali e Zaniolo ainda não tiveram o tempo de afastamento determinado, mas também devem ficar fora em um período semelhante ao do atleta da Velha Senhora. Luciano Spalletti, técnico da Itália, não deve convocá-los para a Eurocopa de 2024, onde a Azzurra defenderá seu título conquistado em 2021.