A série de adiamentos e indefinições sobre a final de Copa Libertadores entre Boca Juniors e River Plate provocou consequências em diversos segmentos do país. Além do cenário de guerra entre dirigentes, hesitações da Conmebol, discussões no Ministério de Segurança e violência por parte dos torcedores, devido às várias reprogramações do super clássico desde o jogo de ida, a Superliga, principal campeonato nacional, foi também uma das vítimas.
O tradicional "clássico de bairro" entre San Lorenzo e Huracán foi suspenso no último domingo devido à reprogramação da final, que inicialmente foi remarcada para o mesmo dia e, depois, novamente remanejada. A partida seria disputada pela 13ª rodada do torneio nacional. A postergação provocou um "efeito cascata" na Superliga, que já soma oito confrontos adiados. A data de cada partida do campeonato é definida com um ano de antecedência, o que tem gerado grande confusão na definição de novas datas, já que, em paralelo, a Copa Argentina (equivalente à Copa do Brasil) também é disputada. Nesta semana, alguns meios de comunicação traduziram o problema como "Superliga esquecida".
- A suspensão da final entre Boca e River trouxe muitas consequências e conflitos em outros jogos, em particular no clássico entre San Lorenzo e Huracán, que jogariam na mesma hora no domingo. O San Lorenzo é uma equipe com muitos torcedores no interior do país, pessoas haviam viajado e saído de suas cidades no dia anterior e na metade do caminho descobriram que o jogo havia sido suspenso. Gastaram dinheiro e tempo, alguns reservaram ônibus para chegar até aqui. Aos dirigentes isso trouxe um pouco de dor de cabeça, muitos torcedores começaram a perguntar a nova data da partida, o que aconteceria com os ingressos que haviam comprado ou se o dinheiro seria devolvido - explicou Tony Arrighi, repórter que acompanha o San Lorenzo para a Tyc Sports.
- Estive no acidente de ônibus na Venezuela. O Huracán, mesmo com jogadores lesionados, foi obrigado a jogar. Diferentemente do que aconteceu aqui, onde equipes foram prejudicadas e a Superliga desprestigiada. Não que os jogadores do Boca teriam de jogar, mas a decisão por parte da Conmebol nunca é tomada por igual. A Libertadores sempre foi disputada na semana e, por capricho, mudaram para o fim de semana prejudicando a todos. O meu desejo e de muitos na Argentina, levando em consideração a forma como chegaram à final (Boca e River), utilizando jogadores suspensos, por exemplo, deveriam dar a vaga ao Grêmio e ao Palmeiras. Assim, aprenderiam a não tirar vantagem de tudo - declarou Pedro Pablo Di Spagna, médico do Huracán.
Pablo referiu-se ao acidente em Caracas, capital da Venezuela, quando o ônibus do Huracán tombou a caminho do aeroporto no retorno da partida em que se classificou à fase de grupos da Libertadores de 2016. Na mesma semana, os jogadores teriam sido obrigados a disputar jogo do torneio local.
A Conmebol tornou o problema mais dramático por ter alterado as datas previstas para a final da Libertadores de meios de semana para fins. Uma vez que os envolvidos na final são os dois maiores times da Argentina, a entidade decidiu mudar as datas estipuladas de um ano antes. Embora a justificativa tenha sido a impossibilidade de jogar durante a semana a pedida de órgãos de segurança, por conta do horário, a mudança foi feita efetivamente para que a final fosse disputada nos finais de semana em um horário adequado à audiência europeia, aumentando as perspectivas de faturamento. Isso fez com que vários jogos da Superliga fossem suspensos e o campeonato argentino recebesse vários asteriscos na tabela, já que muito clubes ficaram com jogos a menos.
- Aqui há pouca seriedade em algumas instituições e os barrabravas são lamentáveis - completou Tony Arrighi.
Além dos estragos causados pelos adiamentos da finalíssima, o jogo de ida entre Boca e River também provocou danos. Devido às fortes chuvas que atingiram Buenos Aires no sábado, dia 10, a partida na Bombonera passou o dia seguinte, domingo. Na ocasião, o presidente da Superliga, Mariano Elizondo, reuniu-se com os responsáveis pelos direitos de transmissão do torneio e com os funcionários do Ministério de Segurança para determinar os próximos passos. Os cinco jogos que seriam disputados na capital, foram remarcados para a segunda-feira seguinte, embora outras seis equipes já tivessem partidas programadas para a data, o que gerou um ambiente caótico para organização e segurança. Muitos meios definiram como "péssima" a decisão de disputar a final da Copa Libertadores em um final de semana.
Por fim, clubes que tiveram suas partidas postergadas trocaram farpas entre si. O que era para ser a maior final da história, transformou-se na decisão mais catastrófica para o futebol local.
- O San Lorenzo, que não tem uma realidade muito boa, se aproveitou e conseguiu que o clássico com o Huracán não fosse remarcado (para segunda ou terça). Os motivos? O Huracán está melhor e possui uma série de vitórias, eles o contrário. Trocaram o treinador e utilizaram disso para que o técnico tenha mais tempo para trabalhar e ordenar a equipe. Além de que esperam disputar o clássico com todos os reforços. Por conta disso, se negaram a jogar e contaram com o apoio dos dirigentes da Superliga que são torcedores do San Lorenzo. Nas redes sociais está em evidencia a vantagem injusta que teve o San Lorenzo com essa suspensão - disse Pedro Pablo Di Spagna, médico do Huracán.
- Acredito que ao San Lorenzo a suspensão foi boa, vários jogadores estão lesionados e outros não estavam tendo um bom rendimento. Almirón (treinador da equipe) terá mais tempo para seguir trabalhando com o elenco. Por isso, a postura do Huracán é compreensível, de querer jogar o jogo antes possível. Propuseram fazer entre segunda ou terça-feira, mas devido nossos torcedores de fora da cidade e por ser um dia de trabalho, muitos não poderiam estar presentes. Por conta disso, a suspensão gerada pela final entre Boca e River trouxe muitos problemas, porque não há datas disponíveis e o jogo entre San Lorenzo e Huracán deveria ser programado para o ano que vem. Huracán tem outro jogo suspenso, irá jogar na semana que vem contra o Argentino Juniors - avaliou Tony Arrighi, da Tyc Sports.
Ainda não há definição sobre quando e onde ocorrerá o jogo decisivo da Libertadores. Na última terça, o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, expressou o desejo que a partida seja fora da Argentina entre 8 a 9 de dezembro. O Boca Juniors ainda aguarda julgamento do Tribunal Disciplinar da entidade sobre pedido de punições ao River e decretação do título.