O único que torce para o Brasil não disputar a final da Copa é o árbitro que representa o país no torneio. Caso contrário, é óbvio, não terá chance de viver tal glória, a maior sem dúvida na carreira. Na de 1986, no México, a Seleção dirigida por Telê Santana caiu diante da França, nos pênaltis, e Romualdo Arpi Filho, que completa 76 anos nesta quinta-feira, acabou sendo escolhido para apitar a decisão entre a Argentina e a Alemanha, no Estádio Azteca, diante de 114.600 espectadores.
Foi uma partida movimentada. Brown fez 1 a 0 para o time sul-americano no primeiro tempo. Valdano ampliou no começo da etapa derradeira, e o adversário chegou ao empate, com Rummenigge e Völler, entre os 29 e os 35 minutos. Aos 38, no entanto, Maradona lançou Burruchaga, que fez 3 a 2. A Argentina foi campeã, e Romualdo, com atuação exemplar, um espectador privilegiado, acompanhando de perto cada passo do jovem Dieguito, o maior craque do Mundial. O árbitro já havia dirigido outros dois jogos naquela competição: México 2 a 0 Bulgária, nas oitavas, e França 1 a 1 URSS, na primeira fase.
Hoje, quase 30 anos depois, Romualdo, aposentado depois de acumular as atividades de juiz de futebol e como corretor de imóveis, é um pacato cidadão de Caldas Novas, interior de Goiás.
Ele nasceu em Santos-SP, em 7 de janeiro de 1939. Um dos árbitros mais importantes de sua época, começou a apitar em 1958, filiado à Federação Paulista. Em 1961, com apenas 22 anos de idade, entrou para o quadro da Fifa. Esteve presente em três Olimpíadas – Cidade do México-68, Moscou-80 e Los Angeles-84 – e entre tantas partidas importantes dirigiu as decisões do Brasileiro em 1984 – Coritiba 1 a 1 Bangu – e de 1985 – Fluminense 1 a 0 Vasco, ambas no Maracanã, e do Mundial Interclubes de 1984, em Tóquio, Independiente-ARG 1 a 0 Liverpool-ING.
Havia um folclore em torno de sua figura – muitos o chamavam de “rei do empate” – sugerindo que Romualdo apitava para agradar os dois lados. Mas se tal fato fosse verdade, ele jamais teria alcançado uma final de Copa. Na prática, nunca se deixou levar pela pressão do público
– “estava sempre preparado técnica, física e mentalmente” – justifica, e deixa a modéstia de lado para afirmar que os erros foram raros em sua carreira de 32 anos, dado que parou em 1990.
- Prefiro esquecer as piores partidas, talvez dois por cento de todas” garante.
Vale lembrar que apenas um outro juiz brasileiro apitou decisão de Mundial, Arnaldo César Coelho, em 1982, na Espanha, quando a Itália derrotou a Alemanha por 3 a 1.