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Antes de semifinal, Botafogo e Fluminense lançam manifesto contra a Ferj: ‘Show de horrores’

Equipes, que vão se enfrentar pela semifinal da Taça Rio, se uniram fora de campo por serem contra o retorno do futebol e se juntam para realçar posição

Montagem - Mufarrej e Mário Bittencourt
Nelson Mufarrej e Mário Bittencourt Foto: Vítor Silva/Botafogo; Lucas Merçon/Fluminense

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Fluminense e Botafogo podem ser adversários em busca de uma vaga na Taça Rio neste domingo, mas são aliados fora das quatro linhas há certo tempo. A dupla foi a única que se manifestou e lutou contra o retorno do Campeonato Carioca diante da pandemia do coronavírus.

As equipes, neste sábado, lançaram um manifesto "pelo respeito, pela vida e por um novo futebol". A nota relembra todos os episódios de bastidores que envolveram o retorno do Estadual com a Ferj e os outros clubes do Carioca. Além disto, o documento ressalta que é tempo de solidariedade.

CONFIRA O MANIFESTO DE BOTAFOGO E FLUMINENSE:

"Em respeito às tradições seculares e suas conquistas históricas no futebol brasileiro, Botafogo de Futebol e Regatas e o Fluminense Football Club se unem neste manifesto. Primeiramente para reafirmar seu compromisso e sua determinação em cumprir com nosso dever social de pregar a estrita observância das normas recomendadas para a proteção da população. Respeitamos o próximo, no que este termo tem de mais precioso, que é a integridade da saúde e a preservação da vida.

Todos os brasileiros sabem que nossa construção como nação passa pelo futebol, que tem uma responsabilidade social enorme por ser forte fator de influência sobre atitudes e comportamentos da população. O futebol, em sua essência, traz o espírito de solidariedade, a empatia e o respeito ao adversário, sem o qual não há jogo possível. Sem o qual não há ludicidade e, a partir daí, a vida perde um pouco de seu sentido.

Honrados em mantermos nossa posição e nossos princípios é que protestamos contra o que se está vendo do atual cenário do futebol do Rio de Janeiro. Uma cena triste cujo pano de fundo é este momento tão difícil da história nacional, quando vidas estão sendo ceifadas não apenas pela pandemia, mas também a golpes de insensatez e de falta de empatia. O que todos estão assistindo em primeiro plano nesse show de horrores é o espetáculo de desmandos e desrespeito com que os clubes e seus torcedores vêm sendo tratados.

Listamos abaixo os pontos mais tristes desse roteiro desolador:

- Botafogo e Fluminense foram obrigados a sair de seus domínios, em várias ocasiões, para jogar em estádios precários, em condições de risco e de exaustão, enquanto outros clubes, mais alinhados, mandaram todos os seus jogos em seus estádios; Apesar de dizer que os jogos do retorno seriam apenas em três estádios – Maracanã, São Januário e Nilton Santos, a Ferj fez o Botafogo jogar na Ilha do Governador e o Fluminense em Bacaxá, sem poder se concentrar, ou seja, tendo que viajar duas horas de ônibus no dia do jogo;

- Botafogo e Fluminense tiveram que lutar para não serem obrigados a jogar após apenas um ou dois dias de treinamento, colocando em risco a saúde e a integridade física de seus atletas. E tudo isso sob o argumento pueril de que treinamentos estariam liberados, quando o índice de contaminação explodia e vidas estavam sendo perdidas em filas de hospital. Quando serviços muito mais importantes estavam ainda proibidos de funcionar por razões tão óbvias que dispensariam discussões. Muito menos retaliações.

- Em atitude que em tudo contraria o espírito democrático e a liberdade de expressão, o treinador Paulo Autuori foi punido na véspera do primeiro jogo em razão de declarações em entrevista em que brilhou pela sensatez. Em sinal de protesto, Autuori não comandou a equipe na partida, mas suas palavras estavam em campo, para nos representar. A todos os que professam a empatia, o respeito ao próximo;

- O Botafogo foi punido ainda com perda de mando porque contestou a conta absurda e astronômica para a operação do Estádio Nilton Santos, dez vezes mais cara do que a que outros clubes pagaram para jogar no... Maracanã! Uma clara atitude de retaliação por seu posicionamento a favor da vida. Somente de nossos clubes foram cobrados valores exorbitantes por despesas operacionais. A mesma cobrança exorbitante ocorreu com Fluminense, ao jogar no estádio Nilton Santos e em... Bacaxá!

- Quando tudo parecia já grotesco, os clubes se viram punidos com a perda de um contrato essencial para sua subsistência, que é o contrato de direitos de transmissão da Globo. A emissora argumentou em sua notificação que a Ferj falhou em garantir a exclusividade na transmissão de um jogo de um dos cedentes de diretos, o que gerou a ruptura do contrato de TV e que causa prejuízos a Fluminense e Botafogo no montante estimado de 120 milhões de reais, somados o que os dois clubes têm a receber nos próximos quatro anos. Sem entrar aqui em considerações sobre a responsabilidade da emissora por sua participação na condução do episódio, sem deixar de entender a forte influência de discussões paralelas com um dos clubes, o fato é que o conjunto de agremiações se viu arrastado de roldão, embrulhado em uma confusão para a qual não contribuiu. Sequer fomos consultados em Arbitral sobre os riscos desta decisão;

- Estamos chegando ao fim de uma competição em que as verdadeiras lutas se deram fora de campo e de forma totalmente inadequada. Com reuniões às escuras, intensa atividade em práticas de bastidores, indisfarçável ligação simbiótica com outros clubes, descumprimento de contratos, chuva de liminares e um comportamento incompatível com a de uma liderança em momentos de crise. A FERJ se esforçou e conseguiu desvalorizar sobremaneira o produto pelo qual deveria trabalhar visando o sucesso, que é o Campeonato Carioca.

- Não bastasse o constrangimento de sermos obrigados a retomar o Campeonato Carioca, convivendo com registros de mais de 63 mil mortes no Brasil, com média superior a 1.200 por dia, tivemos que relembrar, em vão, esse marco fúnebre em reuniões sucessivas do Conselho Arbitral da FERJ. A insensibilidade evidenciou que os números alarmantes não passam de fria estatística àqueles que parecem não entender a função social do futebol: impactar a vida das pessoas, pautar costumes e atitudes.

- Fluminense e Botafogo foram fortemente atacados pela FERJ e por outros clubes quando tiveram posição de bom senso de preservar seus atletas e funcionários ao seguir as recomendações da quarentena. Definitivamente, retornar competições com o inexplicável açodamento - com o calendário nacional ainda indefinido - não era a melhor mensagem a se transmitir por parte de tão importantes influenciadores.

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