O misto de alívio e indignação marcam o árbitro Rodrigo Crivellaro dias após a agressão que sofreu durante o jogo entre Guarani-VA e São Paulo-RG. Ao "LANCE! na Jogada", o juiz contou o que sente cada vez que recorda o turbilhão que aconteceu após ser agredido com um soco e um chute na nuca pelo meia da equipe rio-grandense, Willian Ribeiro.
- Sempre vem um filme na cabeça. Foi um ato tão covarde, mas tenho que agradecer por estar vivo, "bem" entre aspas, pois podia ser muito pior. É pensar no futuro, confiar que vai ficar tudo bem, vai ficar tudo certo - disse.
Crivellaro, que está com um colar cervical, falou sobre a possibilidade de ser submetido a uma cirurgia para corrigir a sua lesão na vértebra C6. Além disto, o árbitro tem um corte na boca.
- Tem possibilidade sim. Farei um novo raio-X semana que vem para saber se precisarei. Espero que não, que tenha melhorado, senão terei de passar pela cirurgia. A cirurgia é simples, mas todas têm um risco. Rezo todos os dias para que consiga a recuperação naturalmente - declarou e, em seguida, contou como vem sendo seu tratamento:
- No acompanhamento médico eu tenho falado com o traumatologista 24 horas por dia, tomando antiinflamatório... Aparentemente ficarei por um bom tempo com este colar durante o dia inteiro para não mexer na cervical. Volta e meia sinto dor, seja quando fico muito tempo sentado, deitado ou de pé - complementou.
Rodrigo Crivellaro contou como teve de mudar sua rotina devido à agressão que sofreu em campo.
- Tenho de me adaptar a ficar em casa o tempo todo. Sou um cara superativo, trabalho como personal trainer, academia, estou sempre dando aula. Agora tenho que parar geral. Isso me afeta também financeiramente, pois não posso me deslocar. Vamos ver nos próximos dias como ficarão as coisas, pois as contas não param - disse.
O árbitro falou sobre as partidas que conduz no futebol gaúcho. E desabafou sobre o que passou no jogo em Venâncio Aires.
- São jogos geralmente difíceis de administrar, bem "pegados". Futebol gaúcho é bem disputado, mas isso não justifica nada do que aconteceu, não pode acontecer jamais no futebol. Espero que isso não aconteça com mais ninguém - e ressaltou:
- Até hoje não sei o motivo dessa agressão que sofri! - completou.
Rodrigo Crivellaro foi categórico ao ser perguntado se tinha vontade de falar com o jogador Willian Ribeiro após o episódio. O meia chegou a ser preso em flagrante por tentativa de homicídio, mas hoje está em liberdade provisória.
- Não tenho vontade nenhuma de falar com ele. Espero que pague pelo que fez, que não jogue mais futebol, uma pessoa assim não dá para chamar de atleta. Com todos os antecedentes criminais que ele tinha é impossível que uma pessoa assim jogue futebol. Tem que pagar por tudo que fez - afirmou.
Willian, que rodou por clubes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba e Mato Grosso, possui outros três registros policiais: em 2009, 2015 e 2021 (dois por lesão corporal e um por vias de fato). O mais recente havia ocorrido quando agrediu um torcedor do São Paulo-RG que criticava o técnico China Balbino.
ADVOGADO DE WILLIAN RIBEIRO DEIXA O CASO
O jogador Willian Ribeiro não quer se manifestar sobre os desdobramentos do episódio. O advogado José Felipe Lucca saiu do caso dois dias após emitir nota que dizia que o meia "não teve intenção de matar o árbitro". Caberá a outro advogado ficar responsável por fazer a defesa do jogador no processo.
O delegado Vinícius Assunção, da Delegacia de Pronto-Atendimento de Venâncio Aires, apontou que três testemunhas foram ouvidas e relataram o "histórico agressivo" de Willian Ribeiro. A informação original foi divulgada do UOL e confirmada pelo LANCE!. Procurado, o presidente do São Paulo de Rio Grande, Deivid Pereira, não foi localizado.
* Colaboração de Júlio César Santos na produção da entrevista