Boto e ex-técnicos da Seleção criticam formação ‘europeia’ da base no País
Modelo que privilegia organização tática não valoriza o talento e o improviso
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A Seleção Brasileira não chega a uma final de Copa do Mundo há mais de duas décadas. Um atleta do País (Vini Jr.) só voltou a ser escolhido melhor do mundo em 2024, 17 anos depois que Kaká fora escolhido pela última vez, em 2007. E um clube brasileiro não vence um europeu em Mundiais desde 2012. Os resultados dos últimos anos deixam claro que o Brasil está errando no jeito que vem desenvolvendo o futebol, em especial na base.
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Para dois ex-técnicos da Seleção Brasileira, Dunga e Fernando Diniz, e para o novo diretor técnico do Flamengo, o português José Boto, ao menos parte da culpa está na formação de jogadores ao “estilo europeu”. Para eles, o futebol de base no Brasil deixou de incentivar o improviso e o talento, para priorizar sistemas táticos.
— Penso que aqui no Brasil se foi buscar muita coisa má que se faz na Europa, e na Europa nós viemos aqui buscar coisas boas que vocês faziam. Na base, no jogo posicional, a chegada de técnicos estrangeiros deu um bocadinho mais de rigor tático ao jogo, mas replicar isto na base não é correto — declarou José Boto esta semana, em sua primeira entrevista como Diretor Técnico do Flamengo.
— [O Brasil lançou] o Romário, o Ronaldinho, o Zico, e parece que quer fazer jogadores como na Europa. Isso é um erro. Eu acho que há de voltar um pouco atrás, àquilo que foram as raízes e os fundamentos do futebol brasileiro. Dar essa liberdade aos jovens atletas de errarem, de experimentarem, de não estarem agarrados a sistemas táticos e coisas assim. Depois, a partir de uma certa altura, eles vão ter tempo para isso.
Base do Brasil ignora própria escola ao copiar europeus
Dunga tem opinião semelhante. Em dezembro, o capitão do Tetra concedeu entrevista exclusiva ao Lance! e criticou o fato de o Brasil ter deixado de priorizar a própria escola futebolística para copiar a europeia.
— O Brasil foi estudar a Europa naquilo que não precisava estudar, que é a forma de jogar. Nós tínhamos que estudar a Europa na forma de organização, as condições de trabalho para os profissionais do futebol. Isso a gente tinha que estudar na Europa. Agora, a forma de jogar, isso não. Isso é característico da nossa escola — considerou o ex-volante, que atuou no futebol europeu e foi treinador da Seleção Brasileira em duas oportunidades.
Fernando Diniz é ainda mais contundente. Se por um lado ele reconhece a qualidade dos europeus em desenvolver esquemas de jogo, por outro ele afirma que o Brasil “desaprende” ao querer copiá-los.
— Tem-se a ilusão de que o modelo europeu vai nos trazer muitas soluções. Acho que a gente pode aprender com todo mundo, mas a gente mais desaprende com o europeu, no que tange à essência do futebol brasileiro, do que aprende — declarou à Universidade do Futebol o ex-treinador da Seleção Brasileira.
— Eles desenvolveram de maneira correta aquilo que eles tinham para desenvolver, em relação a sistemas táticos, elaboração da parte física, para poder ganhar campeonatos, mas não para desenvolver aquilo que precisa ser desenvolvido no Brasil. Aqui eu acho que o buraco é mais embaixo.
Brasil precisa 'dar passo atrás' para voltar a formar craques
Dunga, Fernando Diniz e José Boto também têm visões semelhantes sobre como voltar a produzir craques em abundância no futebol brasileiro. Os três afirmam que há algumas décadas o Brasil formava jogadores melhores na base do que agora. Por isso, é preciso voltar a investir no modelo que dava certo.
— A gente tem que dar alguns passos atrás. Na minha época, formava-se melhor jogador do que se forma hoje, mesmo tendo menos estudo formal, menos informações da parte tática, menos treinamentos físicos, mas tinha mais afeto e mais carinho. O jogador brasileiro, quando sente que ele é seguro, com afeto e com carinho, consegue promover mais — disse Fernando Diniz, que foi jogador nas décadas de 1990 e 2000.
Para Dunga, é preciso encontrar uma forma de manter os jovens atletas no futebol brasileiro por mais tempo, e sobretudo evitar a ascensão precoce aos profissionais.
— Antigamente nós tínhamos jogadores juniores até os 20 anos, e os jogadores de 17, 18 anos que subiam para o profissional eram uma exceção. Baixamos de 20 para 18. Agora, com 18, todo mundo tem que estar no profissional. E aí perdemos muitos talentos, porque ele não está preparado fisicamente, tecnicamente — considerou.
José Boto, por sua vez, é incisivo ao dizer que o Brasil produzia muito mais jogadores talentosos há algumas décadas. E ele prometeu que vai atuar bastante na base do Flamengo.
— É fundamental, na minha ótica, que se mude a forma como se formam os jogadores no Brasil. Vocês estavam bem, foram copiar a Europa e neste momento vão mal. Não produzem tantos talentos como há dez, 15, 20 ou 30 anos.
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