A semana foi marcada pelo anúncio da CBF para o calendário do futebol brasileiro na temporada de 2021. A entidade viu como alternativas para ajustar o próximo ano de futebol fazer com que a bola comece a rolar no dia 28 de fevereiro (quatro dias após o encerramento do Brasileirão de 2020) e tenha final só em 5 de dezembro do ano que vem. Além disto, as competições nacionais não pararão durante a Copa América, que será realizada em 2021 na Argentina e na Colômbia entre os meses de junho e julho.
Presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj), Alfredo Sampaio reconhece que a próxima temporada será desafiadora para quem estiver em campo. No entanto, afirma que não enxerga outra saída para que a sequência de datas vá se ajustando novamente.
- Sabíamos que o calendário de 2021 seria muito complicado. Mas, se não ajeitar as datas no ano que vem, a situação ficará ainda mais difícil em 2022, uma vez que é ano de Copa do Mundo. Não há um cenário perfeito diante do impacto causado pela pandemia - afirmou ao LANCE!, destacando:
- O futebol não é um universo à parte neste período difícil da história. Os jogadores também terão de passar por sacrifícios, infelizmente. Cabe a nós termos bom senso, senão vai embolar ainda mais o calendário - complementou.
Sampaio detalhou os efeitos causados pela pandemia do novo coronavírus.
- No fluxo normal, haveria o intervalo entre o fim da disputa entre o Brasileiro e o Estadual. Mas, na verdade, os jogadores tiveram férias coletivas em abril deste ano. O desgaste tende a ser maior após o período que completará um ano de férias. Agora, os atletas têm de entender que a CBF não tem para onde andar - e, em seguida, projetou:
- Vamos ver o que acontecerá especialmente com os Estaduais. Neste 2021 tão intenso, há chance de muitos clubes recorrerem a times alternativos nas competições estaduais. É um momento de paciência - completou.
QUEDA DE RENDIMENTO, 'CRIME DE LESA-FUTEBOL': JORNALISTAS OPINAM
A conduta da CBF foi vista com ressalvas entre os jornalistas esportivos. Colunista da "Folha de São Paulo" e do UOL, Juca Kfouri fez duras críticas ao planejamento de 2021 para o futebol brasileiro.
- Crime! Crime de lesa-futebol! Acarretará em um nível cada vez mais baixo do futebol brasileiro, em excesso de lesões, sonho cada vez maior dos jogadores em irem para a Europa e no domínio mais amplo do futebol europeu - declarou.
Comentarista da Fox Sports e das rádios Globo e CBN, Rafael Marques crê que a entidade colhe os efeitos de uma "bola de neve" que ela mesma causou.
- Por conceito, desde o inicio me posicionei de maneira contrária ao retorno do futebol, por entender que a preservação das vidas precisa ser soberana. Diante do achatamento do calendário de 2020, a CBF gerou contra si uma pressão para que o calendário de 2021 seguisse a mesma lógica - e detalhou:
- Por ser um meio economicamente muito relevante no Brasil, o futebol brasileiro tem pressa, atropela processos, se impõe perante a lógica do razoável. Dentro deste cenário insano e inconsequente, ao menos a Confederação Brasileira de Futebol não pode ser acusada de incoerente - acrescentou.
Comentarista da Rádio Tupi, Washington Rodrigues também vê no calendário de 2021 os efeitos colaterais dos compromissos que a CBF firmou.
- Este calendário achatado se tornou uma necessidade em função dos impactos da pandemia, que causaram até a antecipação de férias dos atletas. Creio tudo isto trará um prejuízo ainda maior em competições que já estão nesta retomada com um nível técnico muito ruim. O ano de 2021 corre o risco de treinadores e também do desinteresse maior de torcedores. O produto ficará muito deteriorado! - disse.
O "Apolinho" ainda evidenciou uma preocupação com o desgaste dos jogadores.
- Além da competição nacional se tornar uma montanha-russa maior do que a edição atual, os preparadores tendem a sofrer com muitas lesões de atletas. Quem tiver um elenco de mais qualidade deve ter uma ligeira vantagem, mas também não tanta - e constata:
- O calendário é cansativo, pois há uma série de competições paralelas. Mas não dá para abrir mão de compromissos comerciais com a TV, especialmente após um período no qual os clubes tiveram prejuízo com a ausência de público nos estádios, com a redução dos sócios-torcedores. Será bem desafiador - completou.