Campeão do mundo por Fluminense e São Paulo morre aos 26 anos. Mas vira ‘imortal’ no futebol amador

Marcus Vinicius Gomes Ferreira chegou a ser bicampeão mundial na base, mas não vingou como profissional. Atacante seguia jogando como amador e faleceu em tragédia

imagem camera(Fotos: Arquivo)
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Lance!
Macaé (RJ)
Dia 08/09/2017
20:21
Atualizado em 11/09/2017
22:31
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Jogava muito, jogava muito...

Assim amigos e familiares se despediram de Marcus Vinicius Gomes Ferreira. Há 12 anos, o atacante foi campeão mundial sub-15 pelo Fluminense. Dois anos depois, ele conquistou o mundial sub-17 com a camisa do São Paulo. Mas, a vida nos prega peças. Marcus Vinicius sofreu com seguidas desilusões e não vingou como profissional. Visto por muitos como joia de grande valor entre os garotos da geração 1990, o jovem acabou indo parar no futebol amador. No último dia 1º de setembro, uma tragédia levou o jogador. Marcus Vinicius perdeu o controle enquanto dirigia sob chuva, na Rodovia Amaral Peixoto, em Macaé (RJ), e bateu em uma árvore. Ele não resistiu. Morreu aos 26 anos.

Carro ficou compactado com a batida (Foto: Reprodução de internet)

Apesar de não ter virado um astro, Marcus Vinicius deixou seu legado. Em 2013, chateado com uma lesão no joelho direito, o atacante largou o profissionalismo e passou a jogar no futebol amador de Macaé pela Associação Esportiva Independente, sagrando-se bicampeão municipal. Craque do time, vestiu a camisa 9 com brilho e, diante deste sucesso, chegou até a pensar em voltar ao futebol profissional, no ano passado. Agora, com a morte de seu destaque, o clube imortalizou a 9. Tributo como forma de reconhecimento.

'A pista estava molhada e o acidente foi logo depois de uma curva. O exame não detectou álcool. Realmente foi uma fatalidade'

- A gente pensou em tirar o time do campeonato que começou neste fim de semana, a Copa Macaé. Depois de refletir, decidimos manter a equipe, pois ele gostava muito disso aqui, era um cara muito intenso. A gente vai jogar por ele. A diretoria imortalizou a camisa 9, ninguém mais usa. Foi uma fatalidade. Ele saiu de casa meia-noite, ficou um pouco em uma festa próxima, e estava voltando às 2h. A pista estava molhada e o acidente foi logo depois de uma curva. O exame não detectou álcool. Realmente foi uma fatalidade - disse Matheus Ferreira, irmão de Marcus Vinicius e atual treinador do Independente.

A ligação da família com o clube é afetiva. O pai de Marcus Vinicius e Matheus, Jeová Ferreira, foi técnico do time quando ele ainda era profissional, no começo dos anos 2000 (Jeová também foi jogador, chegando a defender o Fluminense, na base). Em conversa com o LANCE!, Matheus recorda que seu irmão foi cobiçado por Fluminense, Flamengo e Vasco após destaque em 2003.

- Meu irmão tinha 12 para 13 anos quando arrebentou em uma competição aqui em Macaé. Ele jogava pelo Cidade do Sol, um time aqui da região, e Fluminense, Flamengo e Vasco participaram dessa competição. Ele "deitou" naquele campeonato, fez um gol driblando seis e encobrindo o goleiro, e os três clubes vieram atrás dele. Como meu pai já conhecia o Fluminense, nós escolhemos por ele. No Flu ele ganhou tudo, foi campeão mundial sub-15, em 2005, junto com os gêmeos Fábio e Rafael, que depois foram para a Inglaterra. Ele era o "terceiro" atacante, entrava muito, mas com o tempo decidiu que queria mais espaço e saiu. O Vasco era o destino, mas o clube deu uma enrolada para assinar e ele ficou livre - lembrou Matheus, que tem 31 anos.


Sem clube, Marcus Vinicius foi jogar um torneio sub-17 pelo Independente, em Macaé. E, assim como há anos, novamente chamou a atenção de gigantes.

- Meu irmão "destruiu" o Rafael Tolói, que era do Goiás. Vieram o Internacional e o São Paulo atrás dele. Como São Paulo é mais próximo, achamos que seria melhor para ele se adaptar. Ele ficou dois anos no clube. Ganhou o Mundial sub-17, em 2007. Mas, assim como no Fluminense, era o 12º jogador, chegou a ser reserva do Oscar. Acabou não ficando e depois jogou na base do Atlético-MG, também não conseguindo ser titular. Depois, virou profissional pelo Macaé Esporte. Aí, em time de interior ele teve que ser reserva de medalhão, ficou quatro anos só treinando. Em 2013, meu irmão foi para o Colatinense (ES), para ser titular. Quando tudo estava indo bem, ele rompeu jogando o ligamento do joelho. Ali ele desanimou - falou Matheus, fazendo algumas observações:

'Alexandre Pato foi promovido da base do Inter e meu irmão poderia ter ficado com o lugar dele... Meu irmão sempre foi para clubes com raras mudanças, e hoje a gente vê que isso atrapalhou'

- A gente achava que estava fazendo a melhor escolha mandando ele para os clubes de ponta. Hoje vemos que se ele tivesse ido para um clube menor, mas com espaço, tinha mais chance de ter vingado. Escolhas da vida... Também no caso do Inter e São Paulo. Logo depois o Alexandre Pato foi promovido da base do Inter e meu irmão poderia ter ficado com o lugar dele. Não tem como imaginar. Meu irmão sempre foi para clubes com grupos consolidados, com raras mudanças, e hoje a gente vê que isso atrapalhou. Não é porque é meu irmão, mas ele era muito bom. Às vezes um cara talentoso não vinga. Às vezes um meia-boca fica jogando até os 40 anos e ganhando muito dinheiro.

Marcus Vinicius era conhecido pelos amigos como "Tudinho", um apelido de infância recebido por ter nascido tão pequeno que cabia "todinho" em uma caixa de sapatos. O garoto cresceu, chegou a 1,77m e conseguiu atingir um bom porte físico. Em 2016, quando estava "voando" pelo Independente, ele chegou a fazer uma preparação especial para retomar a carreira profissional.

- Ele fez uma preparação física, estava treinando, querendo voltar. Eu e meu pai nunca falamos, mas a gente imaginava que ele, com 26 anos, não iria conseguir muita coisa. Atacante, para estourar, tem que ser novo - admitiu Matheus.

Marcus Vinicius, além de jogar como amador, gerenciava uma quadra esportiva pertencente ao pai. O futuro prometia mais gols em Macaé e, quem sabe, uma carreira ligada ao futebol fora dos campos. Agora, restam as boas lembranças:

- Meu irmão era bom de bola e do bem, não gostava de ver ninguém chateado. No último dia antes da morte, ele reuniu dois colegas que estavam brigados e eles voltaram a conversar. A gente procura entender o passado, a falta de espaço nos clubes, mas eu não sei porque ele não vingou. Era um fenômeno.

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