Clube gaúcho registra contas de luz em nome de jogador e dá calote

Feliphe descobriu que o Pelotas havia colocado em seu nome, sem autorização, quatro relógios de luz da Boca do Lobo. Presidente do clube nega, mas reconhece dívida

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Certo dia, Feliphe retornava ao alojamento do Pelotas, localizado no Estádio Boca do Lobo, quando foi surpreendido por um chamado da secretária do clube. A moça entregou ao atacante uma conta da Companhia Estadual de Energia Elétrica, ou CEEE, a empresa que gerencia a eletricidade no Rio Grande do Sul.

Morador das dependências do clube, Feliphe não entendeu, mas acabou descobrindo que o Pelotas havia registrado quatro relógios de luz das dependências da Boca do Lobo em seu nome. No final do ano, após o clube não ter pagado as contas de junho, julho, agosto, setembro e outubro, ele foi notificado pela CEEE que estava devendo.

A reportagem teve acesso às vinte contas registradas - e não pagas - em nome do atacante. Elas estão registradas no endereço Avenida Bento Gonçalves, 3390, onde está localizado o prédio que é usado de alojamento para atletas, dentro do complexo do Estádio Boca do Lobo. O valor total das contas devidas chega a R$ 5.164,20. O jogador entrará na justiça contra o clube sob supervisão do advogado Filipe Rino.

Contas de luz da Boca do Lobo foram registradas em nome de Feliphe (Foto: LancePress!)

- Pensei: "Eu tenho bens e imóveis em Pelotas e não estou sabendo". Estava pagando luz e não sabia. A primeira conta foi logo quando cheguei, em fevereiro. A secretária parou de passar para mim e passou para eles (direção do clube). Ela disse: "Tem correspondência para ti". Quando vi, era a conta de luz. Achei que estava errado, não tinha assinado nada com a CEEE. Depois que falei isso, as contas pararam de chegar para mim - afirma Feliphe, ao LANCE!.

O atacante, em nenhum momento, autorizou registrarem as contas de luz em seu nome. Apenas ficou sabendo após o recebimento da correspondência no alojamento da Boca do Lobo.

- Ninguém veio me pedir aval para poder por meu nome nas contas. As contas vieram no meu nome, mas não paguei. Eles pagavam antes, mas pararam. Corro risco de entrar no SPC porque eles não estavam pagando. Até então, para passar um nome, mudar o representante da conta, teria que ir na empresa e mudar para meu nome, caso eu aceitasse a condição. Acabou que não fiquei sabendo de nada. Só fiquei sabendo quando a conta chegou. Jogaram no palitinho e me escolheram - diz o jogador, que tem grande identificação com a torcida do clube pelas atuações na Série D de 2014.

Apesar de ter descoberto os registros no começo do ano, o atacante não buscou a diretoria do Pelotas para resolver o assunto. Em maio, rompeu a tíbia e a fíbula, o que resultou em operação e, posteriormente, fisioterapia. O clube parou de pagar o salário combinado e passou a depositar ao jogador um salário mínimo todo mês, o piso do INSS, até outubro, quando acabou o contrato com o clube gaúcho.

- Eu não cheguei a falar com ninguém. Estava em uma situação tão complicada, com o psicológico tão complicado. Estava sem receber, não sabia o que fazer. Estava esperando, pelo menos a questão de trabalhar, receber o que me deviam. O clube não me deu a fisioterapia. Tive que usar o meu convênio médico. Tenho conta para pagar. A situação me deixou sem reação de tudo. Fiquei seis meses sem receber - lamenta Feliphe, que fez "bicos" após se recuperar de lesão como pintor, lavador de carro e cortador de grama.

PELOTAS NEGA QUE ATLETA NÃO TINHA CONHECIMENTO DE SEU NOME NAS CONTAS

Atual presidente do clube, Flávio Gastaud era vice-presidente de futebol do Pelotas quando o nome de Feliphe foi colocado nas contas de luz do time gaúcho. Gastaud nega que o jogador não tinha conhecimento dos registros.

- O Pelotas tem onze fletes que moram os jogadores, dentro do complexo da Boca do Lobo, mas com entrada externa. Quatro jogadores pediram para colocar luz e o Feliphe colocou no nome dele, espontanemante. Ele ficou como coordenador dos fletes. Ele forneceu toda documentação. Tanto a luz quanto a televisão assinada estão sendo tiradas do nome dele - explica Flávio, ao LANCE!.

Flávio Gastaud é o presidente do Pelotas (Foto: Divulgação)

Questionado sobre os motivos de os jogadores terem de pagar a luz do alojamento do clube, o atual presidente disse:

- Como são onze fletes, havia um consumo grande de luz. Um gastava mais que o outro. O Pelotas exerceu um valor padrão para cada um. Mas o Pelotas paga todas as contas de luz. Cada um pode consumir até "x" reais. O ambiente de futebol sempre causa desconversa. A diretoria resolveu pagar as contas integralmente, de luz, água e telefonia.

Flávio Gastaud, porém, admitiu que as contas de luz ainda não foram pagas.

- Sei que tem pendência, que não é tão antiga. Todas contas que estejam em aberto, no nome dele, serão pagas pelo clube para evitar problemas com ele. Eu não posso te deixar de reconhecer que eventual pendência que tenha é do Pelotas. De maneira alguma, ele será prejudicado - completou o presidente.

O mandatário também falou sobre a forma de pagamento feita após a lesão de Feliphe, que passou a ganhar menos do que estabelecido em contrato com o Pelotas.

- Esse é o procedimento legal. Eles combinam um valor na carteira e outro no direito de imagem. A hora que o atleta se lesionou, com acidente de trabalho, passou a ganhar pela previdência paga pela média de cinco anos atrás. Como ele não tem imagem, só recebe a previdência.

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