Clubes mineiros se mostram unidos por novos rumos do futebol: ‘Discutimos em prol do coletivo’
Em seminário online na última segunda-feira, dirigentes de América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro veem desafios para criar liga e necessidade de tornar futebol mais rentável
A negociação coletiva dos direitos de transmissão entrou em pauta entre os dirigentes de América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro. Durante o debate do Webinar transmitido na última segunda-feira pelo canal de YouTube do LANCE!, os cartolas apontaram suas preocupações com a brecha para a criação de uma liga dada pela "MP das transmissões" (editada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e que ainda espera um relator para ser votada no Congresso).
O seminário online, ministrado pela Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais, contou com a presença dos presidentes de Atlético-MG e Cruzeiro (Sergio Sette Câmara e Sergio Rodrigues, respectivamente), além do diretor executivo do América-MG (Paulo Bracks, diretor executivo do clube). Editor e fundador do LANCE!, Walter de Mattos Júnior, representou a organização no seminário online.
Diretor executivo do Coelho, Paulo Bracks apontou a união entre os três clubes de maior projeção em Minas Gerais e detalhou que os clubes não podem deixar passar a chance de discutir a criação de uma liga para negociar os valores das transmissões.
- A voz coletiva é muito mais forte que a voz individual. Nós já temos exemplos no Brasil de ausência de união por falta de confiança entre os dirigentes. Hoje, em Belo Horizonte, temos três dirigentes de altíssimo nível que discutem futebol em prol do coletivo. Independentemente da forma e iniciativa, temos que bater palma e aproveitar esse momento. Não vamos deixar a oportunidade de debater e colocar todos os assuntos na mesa - para complementar em seguida:
- Sou favorável à criação da liga, seja por bem ou por mal, o Brasil vai ter uma liga para se equiparar ao melhor produto do mundo visando o interesse público e coletivo - finalizou.
Bracks acredita que o momento é de os clubes agirem com sensatez para negociarem os acordos coletivos. Segundo ele, há chance do Campeonato Brasileiro saltar de patamar como produto.
- É claro que temos países que não deram certo com negociação coletiva, como o Chile. A Argentina teve um exemplo de retorno de uma liga que já trocou de nome. Esse paralelo do Brasil com outras ligas nos mostra que precisamos de uma mudança, seja com direitos de transmissão ou de um produto mais forte. Precisamos pensar com a cabeça de um comprador de produto e o nosso não é muito forte, mas precisa ser. Precisamos de um produto e clubes mais fortes, com interesse coletivo acima do individual - disse.
(clique no player e reveja a webinar completa)
O mandatário celeste, Sérgio Rodrigues, apontou que a NFL é um modelo que pode ser seguido pelos clubes brasileiros.
- Eu sempre defendi negociação coletiva para tudo. Minha maior inspiração são os esportes norte-americanos. Ali está o sucesso de um modelo de negócio desportivo. Tanto que a liga que é chamada de "liga socialista", a NFL, a liga de futebol americano, que é a que mais divide receita, é a liga que mais fatura, seja com direito de TV ou com público de estádio (para desmistificar quem diz que televisão tira público do estádio). Eles transformaram o espetáculo em entretenimento. Eles enxergaram o esporte como entretenimento. É o "sports entertainment", porque quem vai pra lá, vê um jogo de futebol americano, mas está interessado em muito mais coisa - e, em seguida, detalhou como o equilíbrio do futebol pode ser mantido:
- Os grandes times dividem receita com os menores em tudo. Isso sem dúvida nenhuma seria positivo pra todo mundo. Por quê? Porque ali se estimula a competitividade. E aí é bom para todo mundo. Se eu tenho dentro da realidade brasileira um Flamengo e Corinthians, que são discrepantes, para eles seria muito mais positivo se o Campeonato Brasileiro tivesse mais equipes podendo ser campeãs. Eu acredito que eles ganhariam muito mais dessa forma do que buscar se isolar, pra evitar chegar no ponto de uma "Juventus", que ganhou nove campeonatos seguidos. Perde a atratividade do campeonato local - complementou.
Estímulo à competitividade e busca por união na negociação de direitos entraram em voga no debate ministrado pela OAB de Minas Gerais
Presidente do Atlético-MG, Sérgio Sette Câmara vê com preocupação o caminho para que os clubes cheguem a um entendimento. Aos seus olhos, há a necessidade de um meio termo.
- A Medida Provisória começou a ter muitas emendas, algumas interessantes. A questão da liga é, por um lado muito interessante, mas não consegui enxergar como isso se faria de forma prática, pois os clubes não conseguem ter o mínimo de entendimento entre eles. Acredito que o meio termo, que seria talvez um escritório de negócios, uma associação entre os clubes, para tratar as questões em bloco, talvez poderia funcionar. Não sei se a criação da liga da forma que se pensa irá resolver - declarou.
Câmara ressaltou que vê a criação de uma liga com o intuito de contribuir financeiramente para o rateio dos clubes e detalhou o que acha dos modelos de competições feitos pela CBF.
- A organização dos campeonatos feitas pela CBF é satisfatória, a questão é dinheiro. É fazer a venda dos produtos que o futebol pode gerar. Isso pode ser feito através de uma associação com três ou quatro executivos de ponta, que não tenham ligação com nenhum clube, e os clubes fariam parte de uma espécie de conselho. Esses executivos iriam tratar as questões relativas a direitos de transmissão e outros recursos para os clubes - e, em seguida, frisou sua preocupação em evitar uma queda de braço com a entidade máxima do futebol nacional:
- Vamos ter que encontrar um meio termo porque não sei se a CBF vai concordar com a criação da liga, mas acho que os clubes não precisam da CBF para negociar os direitos de transmissão - completou.
Academia LANCE! ministrará webinar sobre esportes e negócios
A partir do dia 4 de agosto, o LANCE! vai ministrar uma série de webinars para debater assuntos envolvendo esporte, marketing e finanças. Na palestra inicial, o editor e fundador do L!, Walter de Mattos, e o advogado e coordenador acadêmico do programa FGV/FIFA/CIES em Gestão de Esporte, Pedro Trengrouse, receberão Fábio Coelho, vice-presidente do Google Inc. e CEO do Google Brasil.