Coletiva do Itaú apresenta análise econômico-financeira dos clubes brasileiros de futebol

César Grafietti, consultor do Itaú BBA, revelou que espera um crescimento de receitas no futuro, mas ainda ainda abaixo de 2019

imagem cameraO objetivo do estudo é de informar e apresentar aos torcedores a visão de uma 'equipe técnica' sobre a condição do futebol nacional e dos clubes (Foto: Divulgação)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 15/06/2021
13:15
Atualizado em 15/06/2021
16:37
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A análise financeira-econômica dos clubes do futebol brasileiro foi o tema da palestra virtual realizada pelo Itaú nesta terça-feira. Esta foi a 12ª edição do relatório anual do Itaú BBA, realizada por César Grafietti, consultor banco para temas relacionados às finanças do futebol. 

A análise foi baseada não só nos dados reais divulgados nos balanços, como também nos números de receitas e custos que ficaram para 2021. Por causa da pandemia do novo coronavírus, o calendário da última temporada dos clubes se encerrou em março deste ano. O trabalho, então, destaca a diferença entre o "ano fiscal", encerrado em dezembro de 2020, e o "ano calendário", encerrado em março de 2021. 

- Muitas receitas que seriam de 2020 acabaram sendo oficializadas, contabilizadas em 2021, mas referente ao que seria o “ano calendário” 2020. Qual o problema disso? Do ponto de vista de custos e despesas, os clubes foram obrigados a lançar tudo até dezembro de 2020 - explicou Grafietti, que ainda completou.

- Então, quando eu olho aqueles números, isso me chamou atenção quando a análise começou a ser feita, é que se tem um volume muito grande, um volume normal, vamos dizer assim de custos e despesas lançados em 2020, mas uma parte das despesas correspondentes ficou para 2021.

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O estudo revela que o início de 2020 indicava um distanciamento entre os clubes bem geridos e os mal geridos, que foram reforçados por causa da pandemia do novo coronavírus. Embora todos tenham sido impactados pela situação que assolou o mundo, a análise demonstra que quem entrou melhor estruturado, conseguiu enfrentar melhor a crise. 

CRITÉRIOS

O trabalho foi baseado exclusivamente em informações públicas e sem qualquer contato do Itaú com os clubes para explorar dúvidas ou aprofundar questões. Tais informações públicas são referentes aos dados apresentados pelos clubes em seus sites e também em informações divulgadas pelo que o banco classificou como "imprensa especializada". 

As "Receitas Totais" consideraram tudo o que foi gerado no dia-a-dia do clube - ou seja, tudo aquilo que é Operacional. No entanto, foi feito uma segunda derivada, que é utilizar o conceito de "Receita Recorrente", onde foi excluída a venda de atletas. Segundo o estudo, apesar de ser operacional, ela é "muito errática" e para fins de gestão deveria ser desconsiderada nos orçamentos.

- Vocês vão ver uma análise comparando o desenho de 2019 com esse 2020 “ano fiscal”, vamos dizer assim. Mas uma boa parte das análises vai estar associadas ao que é o ano calendário, porque muitos clubes lançaram as diferenças de receitas que houve em 2021, referentes à 2020, então, eu trouxe essas receitas para 2020. Uma parte delas, ou quase todas elas, relacionadas à TV. Ao mesmo tempo, tem alguns custos que ficaram para 2021 que são de 2020, especialmente custos com partidas e com viagem - disse Grafietti.

- Então, quem não divulgou, eu usei as informações dos clubes que divulgaram para criar uma referência e aplicar em todos os outros que não usaram essas informações. Vamos ter uma visão do que eu chamo de “pró-forma”, que é o “ano calendário”. Ela traz uma realidade muito maior do que foi o impacto do ano, especialmente da pandemia, nas finanças dos clubes - concluiu.

Ainda é válido destacar que 25 clubes fizeram parte da composição. Vitória, Chapecoense e Sport ficaram de fora, uma vez que não divulgaram os números até o dia 15 de maio - isto é, 15 dias depois da data em que os clubes deveriam apresentar seus dados financeiros.

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RECEITAS

César Grafietti apresentou um gráfico que mostra a evolução de Receitas Total e Recorrente (Brutas) corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em R$ 5 milhões. O gráfico aponta as quedas de 2019 para 2020 das receitais totais brutas e também nas receitas recorrentes, isto é, que não contabilizam a venda de atletas. 

- O número de balanço de receitas totais fechou com 4.8 bilhões, mas quando eu faço aquele ajuste pró-forma, do ano calendário, a gente fechou o ano com 5.4 bilhões. Quando eu olho as recorrentes, que é retirando as rendas de atleta, o número tinha sido da ordem de 3.5 bi e foi para 4.1 bi mais ou menos. 

- Então, os impactos na receita total, bruta, que fechou o balanço de 2020 foi de 22% de queda. Quando eu faço esse ajuste trazendo as receitas que pularam para 2021, a queda final foi de 13%. E nas receitas recorrentes foi de 27% para 15%.

De acordo com o consultor, as quedas, do ponto de vista das expectativas foram "menos piores" do que se imaginava. Grafietti explica que, mesmo com a pandemia, caso o calendário esportivo juntamente com as premiações tivessem fechado no ano de 2020, a queda na receita total seria de 13%, e a receita que não conta a venda de jogadores seria de 15.


- Ou seja, se a gente tivesse pensado num ano, mesmo com pandemia, que tivesse se encerrado ali em dezembro de 2020, cheio, com todas as competições até o dia 31 de dezembro, com todos os pagamentos e tudo mais, a queda seria de 13% na receita total e 15% na receita recorrente. Se for pensar do ponto de vista de expectativa, talvez tenha sido melhor ou menos pior do que se imaginava no começo. 

COMPOSIÇÃO DAS RECEITAS

O trabalho revelou que, do ponto de vista do "ano calendário", 45% das receitas vieram da TV, com uma queda considerada "bastante forte" da receita de bilheteria e do sócio torcedor. Grafietti também mostra que apesar de uma queda de 7%, as receitas vindas da venda de atletas passou a ser ¼ das receitas totais dos clubes.

- Se a gente for olhar aqui a comparação dos números fechados, depois do pró-forma, vemos que a receita de TV caiu 28% e quando fazemos o ajuste com os números pró-forma, a queda foi só de 6%. Ou seja, tem algum impacto de campeonato carioca, tem algum impacto de participação talvez de composição de participação nas competições como Libertadores e Copa do Brasil, mas a queda foi menos relevante.

- Venda de atletas, apesar do ano, caiu 7% e isso também é reflexo da pandemia, dado que a janela de meio de ano, que é sempre importante para os clubes venderem atletas. Ficou muito restrita, especialmente os clubes europeus fizeram poucas negociações.

Em relação especificamente ao Atlético-MG, Grafietti explicou que o clube tem um volume grande em receitas que não são operacionais. Dessa forma, as receitas da venda de percentual (50,1%) do shopping Diamond Mall, receitas de reavaliação de artigos e de outros investimentos foram excluídos.

- Para fim de análise, estas receitas não estão aqui. Assim como receitas de reversão de despesas ou de perda de dívidas, são receitas que eventualmente surgem. Aqui, a gente vai olhar exclusivamente a receita da atividade esportiva. O grosso é, evidentemente, o futebol, mas toda a atividade operacional do clube, excluindo essas movimentações que comentei - explicou.

Ao abordar a relação clube a clube, o consultor revelou que as receitas de Palmeiras e Flamengo equivalem a ¼ de tudo o que os clubes brasileiros arrecadaram no ano passado. Quando se amplia a observação para Grêmio, Corinthians, São Paulo, Internacional e Athletico, além dos dois já citados, esse valor de receita arrecadada chega a quase 65% 

- Entrando em mais um detalhe do clube a clube é que, quando eu olho Palmeiras e Flamengo, eles dois representam, hoje, 25% das receitas totais de 2020, ano fechado, e 26% na visão pró-forma. Ou seja, os dois clubes representam ¼ de tudo o que os clubes brasileiros arrecadaram no ano passado. Os sete primeiros (Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Corinthians, São Paulo, Internacional e Athletico) representaram 62% dessa amostra. 

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PROJEÇÃO PARA O  FUTEBOL BRASILEIRO

Já ao fim da coletiva, Grafietti apresentou um cenário de projeção do futebol brasileiro para o futuro e disse que sua expectativa é de um crescimento. No entanto, ele ponderou e destacou que esse crescimento ainda será abaixo do ano de 2019, sobretudo, porque a volta das bilheterias nos estádios ainda deve demorar.

- A minha expectativa é de que a gente tenha um crescimento de receitas da ordem de 26% a 27% em 2021. Aqui, é número fechado, é ano fiscal, vamos dizer assim. Tem todo impacto das receitas de TV, cota de participação e tudo mais daqueles dois/três primeiros meses do ano. Então, é só reorganizar essas receitas, só trazer para o ano de 2021. Esse crescimento vai nos fazer ficar ainda abaixo de 2019, porque, basicamente, vai demorar um tempo para ter bilheteria nos estádios.

- A tendência é que dada uma certa normalidade, volte a crescer entre 2 ou 3% e que mais pra frente passe a crescer acima de 5% as receitas do futebol. Isso porque o grande destaque, o grande salto que a gente pode ter é, normalmente, na venda de atletas ou na renegociação de contrato de TV, que só vai acontecer a partir de 2025.

Dessa forma, ele fez um alerta e salientou que o futebol não tende a ter grandes saltos de crescimentos, uma vez que este trabalha de forma lenta. Por outro lado, Grafietti disse que espera ver o futebol voltar a crescer até mesmo um pouco acima da inflação.

- Então, acho que a gente vai ter, neste momento, a surpresa de algum crescimento com novos entrantes ou alguma decepção, porque os valores, como na Europa já vem caindo, e passem cair no Brasil também.

- Acho que aqui tem um alerta de que o futebol não tende a ter grandes saltos de crescimento. Então, todo mundo que faz projeções e premissas de que o clube vai dobrar as suas receitas e vai passar a ter 500 ou 600 milhões de receita vindo de 100 ou 150 é um exagero. O futebol trabalha de forma lenta, crescimentos lentos. É importante a gente ter isso em mente. Aos poucos tende a voltar a crescer, crescer ali um pouco acima da inflação, mas crescer de uma forma relativamente sustentável.

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