Com a força da torcida, Remo volta a jogar no Baenão depois de cinco anos

Após cinco anos interditado, Baenão vai tornar a receber uma partida oficial do Leão do Norte, na tarde deste sábado, contra o Luverdense, graças à mobilização da torcida azulina

imagem cameraDinheiro para reforma do Baenão foi arrecadado pela torcida do Remo (Divulgação)
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Lance!
Belém (PA)
Dia 12/07/2019
20:22
Atualizado em 13/07/2019
10:51
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O Remo está de volta para a sua casa. Depois de cinco anos, o clube paraense voltará, neste sábado, às 15h, diante do Luverdense, pela Série C do Brasileiro, a jogar no estádio Evandro Almeida, mais conhecido como Baenão. E isso graças a força da torcida azulina, protagonista no esforço de fazer a reforma do estádio, que estava interditado desde maio de 2014. Com a arrecadação de dinheiro nos jogos e eventos do Remo, doações de empresários e venda de produtos, um grupo torcedores iniciou o projeto de fazer o clube voltar ao estádio centenário, que já teve em seus gramados jogadores como Pelé, Eusébio e Zico.

O tradicional clube do Norte do país passou por maus momentos na última década, chegando até a ficar em divisão sem algumas temporadas. Com seguidas más administrações, a degradação do Baenão era o retrato do clube. Fechado para uma reforma em 2014, as obras pouco saíram do papel nos anos seguintes. Com esse cenário, em 2017, um grupo de torcedores se organizou pelas redes sociais e começou o movimento que ficou conhecido como "Retorno do Rei ao Baenão", referência ao Leão, mascote e apelido do clube.

- O Baenão é a segunda casa de todo torcedor do Remo. É um estádio centenário, muitos jogadores importantes já passaram por aqui quando o Remo tava na primeira divisão, nos anos 70 e 80. Foi um movimento que mobilizou toda a torcida. A cidade vai parar hoje (sábado). O estádio está muito bonito - disse Igor Souza, um dos torcedores que começou a mobilização pela reforma do estádio.

Este grupo de torcedores lançou um site em que prestava conta de todas as doações recebidas e os gastos com a obra. Esta transparência foi essencial para o sucesso do projeto, abraçado pela atual gestão do clube, que começou em dezembro de 2018, com Fabio Bentes assumindo a presidência, e acelerado durante este ano de 2019.

- A nossa maior bandeira foi a transparência. O Remo sofreu com algumas gestões, que até tentaram alguns movimentos, mas que não deram certo devido ao caos que estava. Para o torcedor confiar e colocar o dinheiro, precisava dessa transparência. Temos todas as prestações de contas no site - completou Igor.

Gramado e arquibancadas fizeram parte da reforma (Divulgação)

Atual gestão acelerou as obras
A atual diretoria começou a trabalhar junto com os torcedores, e já em abril deste ano iniciou a venda de vauchers para o jogo de reabertura do Baenão, que, inicialmente, seria contra o Juventude, no último dia 6 de julho, mas não foi possível devido a falta de laudos liberando o estádio. Ainda em maio, cerca de 10 mil ingressos já haviam sido vendidos pelo valor de R$ 80. E 100% do valor arrecadado foi destinado para acelerar as obras do estádio.

- Tudo foi feito com a ajuda do torcedor. Até mesmo os torcedores mais humildes ajudavam como podiam. Alguns traziam sacos de moedas. Outros ajudavam com outros materiais de construção. Toda ajuda era bem vinda. Não tínhamos espaços para essa toda torcida dentro do Remo. Chamamos eles para dentro. Vamos pensar todos na mesma coisa, no Remo. Nós conversamos. "No que você pode ajudar?" Alguns traziam dinheiro, outros vieram com força braçal, era assim - disse André Malcher, diretor do Baenão.

E teve mesmo quem ajudou com força braçal. Torcedores se juntaram para participar da limpeza do estádio, das arquibancadas e dos arredores. Nas últimas semanas, as torcidas organizadas do Remo também ajudaram na pintura do Baenão.

Torcedores ajudaram na limpeza do estádio (Divulgação)

- Tivemos que fazer várias adaptações no estádio. Está como se fosse um estádio novo. Agora, além da arquibancada nova, temos a parte coberta com cadeira, tem camarote, sala de doping, sala de arbitragem com banheiros separados em feminino e masculino, sala para o juizado, delegacia... E os órgãos públicos acompanharam tudo - falou Malcher sobre as obras, que foram finalizadas com um valor pouco acima de R$ 1 milhão.

O estádio, que já teve capacidade para quase 35 mil pessoas, agora vai receber 13.800 torcedores. E todos os ingressos para a partida de hoje já estão esgotados. Com média de quase 13 mil pagantes por jogo na Série C - maior que muitos times da Série A e B, o Remo só deve fazer mais dois jogos no Baenão nesta temporada. Chegando nas fases finais da terceira divisão, o Leão deve mandar seus jogos no Mangueirão. O que não tira, é claro, o orgulho da torcida azulina pelo estádio.

- Isso tudo mexeu com o ego e a autoestima do remista. A torcida do Remo estava muito carente. Chegamos a ficar sem série. Durante a reforma do estádio, a torcida comemorou trave nova, a troca do gramado... Foram quatro anos tentando reabrir o estádio. Como torcedor e dirigente, é um sonho realizado. Que isso seja um passo na reconstrução do clube. Vai ser um jogo muito especial hoje (sábado) - disse Malcher.

A empolgação com a reabertura do Baenão é tanta que, na noite da última quinta-feira, torcedores começaram uma espécie de vigília nos arredores do estádio, na expectativa do tão esperado jogo.

Próximos passos
Com o sucesso na campanha da reforma do estádio, os torcedores e dirigentes já pensam no futuro do Baenão. Atualmente, mesmo após a reforma, o estádio ainda só pode receber jogos durante o dia, porque ainda está sem iluminação. Trocar todo o sistema elétrico custaria cerca de R$ 600 mil. O que o clube espera arrecadar nos próximos jogos do Baenão, reservando parte das próximas rendas para serem utilizadas no próprio estádio.

Depois da iluminação, o próximo passo é aumentar a capacidade do estádio, chegando a 16 mil lugares. Assim, o clube pretende mandar mais partidas em casa, sem precisar utilizar o Mangueirão tantas vezes.

- Mas vamos fazer tudo com os pés nos chão, com muita responsabilidade - ressaltou André Malcher.

Situação na tabela
Um passo importante nessa reestruturação do Clube do Remo seria o acesso à Série B. E é isso que o Remo está buscando. Atualmente com 17 pontos, o Leão é o quarto colocado do Grupo B da primeira fase da Série C. O líder é o Volta Redonda, com 19.

A partida deste sábado, diante do Luverdense, é válida pela 12ª rodada da primeira fase. Os quatro primeiros de cada grupo passam para as quartas de final. Mas só os times que chegarem nas semifinais garantem vaga na segunda divisão.

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