Corinthians, rótulo defensivo e sinceridade em entrevistas: Carille abre o jogo ao LANCE!

No comando do Al-Ittihad, treinador concede entrevista exclusiva e fala sobre diversos assuntos de sua carreira

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Retranqueiro. Conservador. Teimoso. Foram muitos adjetivos pejorativos usados para classificar a trajetória da segunda passagem de Fábio Carille no Corinthians, em 2019. Abaixo da elevada expectativa de repetir o sucesso de seu primeiro ciclo no comando do clube, onde conquistou o título brasileiro em 2017, o comandante acabou sendo dispensado em novembro. Poucos meses depois, aceitou o convite para assumir o Al-Ittihad, clube da Arábia Saudita.

De fato, as coisas não fluíram para Carille no Corinthians em 2019 e vice-versa. Um ataque improdutivo, um time pouco efetivo e com poucas peças de reposição acabaram fazendo com que o treinador fosse demitido em novembro. Mas, como o próprio diz, faz parte de um processo de aprendizagem. 

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o atual comandante do Al-Ittihad falou sobre o rótulo de "retranqueiro" que por muitas vezes lhe é associado. Carille não se considera um treinador defensivo e disse que apenas seguiu a fórmula que fez sucesso no clube sob o comando de Mano Menezes e Tite.

- Não me considero um treinador mais defensivo. Como eu tenho falado sempre, o Corinthians tinha um DNA e um modelo de jogo que foi muito vitorioso por muitos anos, e eu apenas dei seguimento à uma ideia implantada pelo Mano Menezes em 2009, seguida pelo Tite… Fomos vitoriosos dessa forma. A questão de ser defensivo ou ofensivo sempre vai depender da característica do seu elenco - afirmou.

Um dos fatores mais marcantes durante o ano de 2019 foi o tom sincero de suas entrevistas coletivas, onde o treinador não se escondia de dar suas opiniões, algo que acabou sendo argumentado como um dos fatores de sua demissão. Carille reconhece que é muito sincero e este é o seu jeito, mas que acabou tirando a experiência como aprendizado.

- Foi tranquilo, foi um aprendizado para mim também. Eu sou assim, sou muito sincero e às vezes acabo me expressando mal, não sendo claro em algumas coisas que disse ali naquele ano, mas como eu disse, ainda estou no início da carreira, aprendendo sempre, evoluindo... - explicou.

O treinador classificou que seu maior erro no comando da equipe foi a falta de uma formação fixa, já que por tentar encontrar uma tática que se encaixasse da melhor maneira ao elenco, acabou prejudicando o entrosamento do time, que tanto foi criticado pela baixa efetividade na parte ofensiva. Entretanto, Carille também entende que a falta de opções no elenco foi algo importante para os problemas da equipe.

- Sim (faltaram opções), eu já disse isso em algumas entrevistas. Creio que eu tenha errado em não dar sequência a uma formação em 2019, mexi muito no time tentando encontrar uma melhor formação e isso tira um pouco a confiança, a sequência do time. Mas faltavam algumas características, sim, sempre deixei isso claro. Nunca se tratou de falta de qualidade, mas sim características diferentes para um equilíbrio maior - completou.

Quando saiu do Corinthians, rumores de uma possível proposta do Atlético Mineiro surgiram após o fim do Campeonato Brasileiro. Entretanto, isso não aconteceu. Carille afirma que não recebeu propostas de clubes brasileiros e que ficou sabendo do interesse através da imprensa, mas revelou que trabalharia em outros clubes brasileiros por profissionalismo.

- Não recebi propostas, tudo que soube de interesse foi por vocês (imprensa), mas não houve nenhum contato de fato, não. Apenas sondagens. Aceitaria trabalhar, claro. Sou profissional, ainda estou no início da minha carreira, então não vejo problema nenhum nisso. Tenho muito carinho por minha história no Corinthians, mas sou profissional. - encerrou.

Confira outras respostas de Carille:

A influência de Tite em sua carreira

- Muito importante mesmo, todos que passaram pelo Corinthians enquanto estive lá foram importantes para a minha formação como treinador, desde o Mano, Cristóvão, Adilson, Oswaldo, Tite, enfim. Claro que fiquei mais tempo com uns e pude observar mais características, mas todos tiveram a sua parcela de importância - 

O insucesso de Osmar Loss ao substitui-lo em 2018

- São muitos fatores, né? Desde a formação do elenco, a perda de alguns jogadores por lesão, uma sequência positiva que dá confiança, não dá para você cravar um motivo. O Osmar Loss é um grande profissional, que vai com certeza ajudar muito o Corinthians nesse retorno dele ao clube e tenho certeza que ainda terá um caminho muito vitorioso na sua carreira. -

A saída do Corinthians em 2018 para o Al-Wehda

- Não me arrependo, foi um aprendizado. Fui para a Arábia Saudita por um projeto muito ambicioso do futebol no país, o ministro dos esportes investiu mesmo para fazer com que o futebol por lá evoluísse e, por questões de saúde, teve de se ausentar um período e isso acabou atrasando um pouco esse processo. Por isso, quando veio o convite de voltar ao Corinthians, eu aceitei. -

Sobre rumores de problemas de relacionamento com o elenco em 2019

- Isso não é verdade, sempre tive um bom relacionamento com os jogadores com quem trabalhei. O diálogo era muito aberto com todos, sempre foi assim. -

Sobre sua primeira experiência fora do país e o retorno para a Arábia Saudita

- Fizemos uma boa campanha, montagem de elenco de uma equipe que havia subido para a primeira divisão naquele ano e quando eu saí, estávamos próximos da briga pelo G4 da competição, o que era acima até da expectativa do clube naquele primeiro ano. A volta foi muito tranquila, me sinto muito prestigiado na Arábia Saudita. -

Críticas aos treinadores brasileiros e a chegada de treinadores estrangeiros

- Acho que é comum até esse tipo de questionamento quando profissionais muito qualificados estrangeiros veem ao Brasil e fazem trabalhos neste nível. Mas eu sempre disse isso: bons profissionais sempre vão ter espaço e vão ser bem-vindos, sejam eles de outro país, brasileiros mais novos, mais experientes. Nunca houve entre estes profissionais uma “disputa” de nós contra eles, etc. Bons profissionais são sempre bem-vindos.

* Sob supervisão de Vinícius Perazzini

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