Um time do interior paulista ser chamado para jogar no restrito país da Coreia do Norte e ainda ser confundido com a Seleção Brasileira. Parece mentira, não é? Mas aconteceu com o Atlético Sorocaba, equipe que viveu esta aventura em 2009, no longínquo país asiático, em um amistoso com a seleção local. A partida inusitada completa exatos dez anos nesta quarta-feira.
Primeiramente, vamos entender como tudo foi iniciado. A situação começa com a figura de Sun Myung Moon, o Reverendo Moon. Nascido na região que hoje é a Coreia do Norte, ele foi o fundador da Igreja da Unificação, um grupo religioso que angariou milhares de seguidores, colecionou controvérsias e teve forte presença no Brasil, sobretudo nos anos 90. Apaixonado pelo esporte, ele escolheu dois clubes para investir no Brasil: o Cene-MS e o Atlético Sorocaba.
Moon investiu no clube sorocabano no começo dos anos 2000, o que fez com que a equipe subisse da terceira divisão paulista para a primeira, em 2003. Nessa época de vacas gordas, o Reverendo queria usar o Atlético Sorocaba para levar o futebol brasileiro a diversas partes do mundo. Esta oportunidade surgiu em 2009, quando a Coreia do Norte se classificou para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, e queria enfrentar equipes de diversas partes.
Atlético Sorocaba ou Seleção Brasileira?
A delegação do clube paulista desembarcou na Coreia do Norte, no aeroporto de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, onde telefones e passaportes foram confiscados, devido as regras extremas do país, na época liderado pelo ditador Kim Jong-il. Um dia antes do jogo, os atletas foram ao estádio da capital, e ficaram impressionados com sua imponência. Lá, treinaram sob olhares da seleção norte-coreana.
No dia da partida, o estádio lotado deu um choque na delegação brasileira. Minutos depois, ao entrar em campo e ver BRA no telão, eles entenderam o que acontecia: para o povo norte-coreano, ali estava a Seleção Brasileira.
- O placar eletrônico estava escrito Brasil, e as cores do Atlético Sorocaba são vermelha e amarela. Como a Coreia do Norte jogou de vermelho, nós atuamos de amarelo, e os caras acharam que éramos a Seleção Brasileira. O estádio tinha 80 mil pessoas e mais 30 mil para o lado de fora. O Imperador obrigou as pessoas a irem pro jogo, e quando ele fala, eles têm que ir. O estádio estava inteiro abarrotado - lembrou Edu Marangon, técnico do time na partida, em entrevista ao UOL, no ano de 2014.
- Como eles nunca tinham recebido um time brasileiro, pra eles era a Seleção Brasileira que estava ali. O governo mandava os caras irem assistir ao jogo, acabamos representando o Brasil mesmo - endossou Leandro da Silva, lateral do time na época, em entrevista ao GloboEsporte.com, no ano passado.
Quando começou a partida, a reação do público causou espanto aos atletas brasileiros. Quando eles tinham a bola, a torcida silenciava por completo. Não havia vaias, murmúrios, conversas: nada. O ambiente mudava quando a seleção norte-coreana atacava, quando explodiam os gritos coreanos.
O jogo foi equilibrado, com os norte-coreanos tentando pressionar, sobretudo no primeiro tempo. O time brasileiro tinha em mente que, se ganhasse, poderia estar sob riscos. Ao fim, empate por 0 a 0, um placar bom para ambos os lados.
A Coreia do Norte mandou a campo naquela partida a base da seleção que disputaria a Copa do Mundo de 2010 – e que perderia por 2 a 1 para a Seleção Brasileira (desta vez, a verdadeira), na fase de grupos do Mundial.
Depois desta aventura em 2009, o Atlético Sorocaba ainda fez mais duas visitas à Coreia do Norte, em outros dois amistosos, em 2010 e 2011, ambos com derrota de 1 a 0. O clube do interior paulista também recebeu por aqui no Brasil o time feminino e sub-20 dos asiáticos, em seu trabalho de cooperação.
* Sob supervisão de Vinícius Perazzini