Carrões, roupas caras e vida luxuosa de jogadores de futebol dos grandes clubes não são regra no futebol brasileiro. Atletas com passagens por clubes menores contaram ao LANCE! detalhes de como é a vida real de cerca de 95% dos jovens que, apaixonados pelo esporte, tentam uma carreira como profissionais, ainda que distantes das condições ideias de trabalho.
Destaque do título no Sport Sinop deste ano, Murylo Benini conquistou a taça de campeão na segunda divisão mato-grossense e logo despediu-se do clube. Atualmente desempregado, o atleta busca um novo time na carreira para realizar o sonho de criança.
- Ser jogador foi o sonho de nove entre meus dez amigos de infância. Claro que a gente idealiza tudo, que queremos dar o melhor para os nossos familiares, mas nem sempre é assim, infelizmente. Sou muito feliz com a minha profissão, trabalho com o meu sonho de criança, mas já vi muitos amigos dentro dos clubes por onde passei que precisavam dividir o trabalho em duas etapas, treinavam de manhã e trabalhavam em outra coisa à tarde, fora do futebol, para ter o sustento da família - disse o zagueiro.
Ainda jovem, Benini assinou contratos profissionais pelo Desportivo Brasil e, posteriormente, se transferiu para o Guarani. O zagueiro também tem passagens por Talentos 10, Paulista de Jundiaí, Amparo, Comercial, Sport Sinop.
Ele disputou por Talentos 10 e Amparo a segunda divisão do Paulistão. Também defendeu o Comercial-MS na primeira divisão estadual, sendo um dos destaques da equipe, e Sport Sinop, onde conquistou o título da segunda divisão mato-grossense, garantindo acesso para primeira divisão estadual em 2022.
Em entrevista ao Flow Podcast, em fevereiro deste ano, o ex-jogador e hoje criador de conteúdo de FIFA Wendell Lira foi questionado sobre a vida de jogadores menos "badalados" no Brasil.
- Aquilo que passa na televisão, do carrão, corresponde a 4% do total. Os 96% não são assim e não têm condição de dar uma vida digna aos familiares. Eu passei perrengues difíceis por conta do futebol, morei de favor com o meu sogro. A gente ama, toda criança quer jogar futebol, mas hoje, infelizmente, 96% dos jogadores passam por isso - disse Wendell Lira na entrevista.
Willian Monteiro, vice-campeão da Segunda Divisão Paulista deste ano pela Matonense, viveu uma temporada iluminada em 2021. Mas a caminhada tem sido de muita luta. Ainda jovem, ele começou a correr atrás de seu sonho em escolinhas de bairro, como boa parte dos garotos no Brasil. Devido às boas atuações, logo foi observado pelos olheiros do Red Bull Brasil, onde foi artilheiro.
Por lá, William ficou do sub-13 ao sub-20. Após a longa passagem pelo clube, o jogador foi para Ferroviária, onde jogou duas Copas São Paulo de Futebol Júnior, se profissionalizou e tem contrato até hoje. Pela Locomotiva, o atleta fez jogo até de Copa do Brasil. Foi emprestado ao Barretos na primeira metade deste ano e, já na segunda metade, chegou à Matonense, conquistando o acesso para A3 do ano que vem.
- Neste ano, tivemos São Paulo x Quatro de Julho pela Copa do Brasil. Lembro que o grande assunto foi a folha salarial do 4 de Julho depois da vitória. Porém, joguei em times e com atletas que não tinham grandes salários e aquilo era um grande combustível nesses grandes jogos, é a oportunidade da vida de todos ali. O futebol brasileiro tem pontos positivos e negativos neste sentido. Muitos daqueles atletas realizaram um sonho ao pisar no Morumbi e jogar uma Copa do Brasil - disse Willian Monteiro.
- Um conselho para os mais jovens é que nunca desistam do sonho e tenham persistência, por mais difícil que pareça. Se hoje estou aqui, trabalhando duro e lutando pelo melhor para mim e minha família, é porque nunca desisti do meu sonho. Quero seguir trabalhando firme para conquistar isso, mas devemos lutar, todos, por um futebol cada vez mais justo. É um esporte apaixonante e quem se dedica de coração merece este reconhecimento, de A até Z - finalizou Willian.