Ex-diretora da da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), professora Lisete, ou Lisete Arelaro, é a candidata do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ao Governo do Estado de São Paulo. Aos 73 anos, promete governar para as minorias, caso eleita, estimulando o uso de praças públicas para a prática do esporte para deficientes e comunidade LGBT. Além disso, promete negociar os direitos de transmissão do Campeonato Paulista com a TV Cultura, ajudando não só a própria emissora, mas resgatando uma antiga tradição, segundo ela.
Abaixo, a entrevista exclusiva de Lisete Arelaro ao LANCE!, com ideias e planos de governo a respeito de assuntos voltados ao esporte.
Por que se candidatar?
Eu resolvi ser candidata porque depois de 24 anos do PSDB eu constatei que as políticas sociais, especialmente nas áreas de educação, saúde e segurança estão a beira da falência. Além disso, não houve nenhum projeto durante este período que propôs políticas de enfrentamento à estas questões. Outra motivação são as muitas coisas graves que vêm acontecendo no país, em especial a votação da PEC 95, mais conhecida como PEC do fim do mundo, e a Reforma Trabalhista que acabou com os direitos de todos nós. Portanto, acredito que está na hora de uma professora tomar pulso e colocar ordem.
O que pretende fazer para incentivar a prática esportiva em SP?
Em nosso governo, vamos superar a ênfase nas práticas esportivas de alto rendimento – essencialmente competitivas – e valorizar o esporte, as práticas corporais e o lazer como um direito. Entendemos isso como uma oportunidade de reverter a razão normativa que estabelece a inferiorização dos corpos das mulheres, que inibe a livre expressão da diversidade sexual e reprime violentamente a presença de pessoas LGBTI+, além de reforçar estigmas racistas. Nossa perspectiva de esporte, práticas corporais e lazer busca contribuir para o desenvolvimento do corpo como território de liberdades e superações, que sejam signos do combate à dominação social.
Democratizaremos o acesso aos espaços públicos de lazer, estimulando seu uso por uma comunidade plural de – LGBTI+, juventude, pessoas com deficiência, idosos, mulheres e negritude – recuperando a gestão direta e eficiente dos equipamentos públicos, estimulando a autogestão comunitária. Além disso, nosso programa vai ampliar os equipamentos esportivos nas diferentes regiões do estado, decidindo em conjunto com os planos regionais de ação, de modo a reposicionar as políticas públicas para a inclusão de setores populares preteridos tanto socialmente quanto pela hegemonia sexista dos corpos atléticos.
A Polícia Militar do Estado de São Paulo continuará com uma grande presença em eventos esportivos?
No que depender de nós as polícias serão sempre estimuladas a práticas que beneficiem o bem comum, inclusive as desportivas.
Os clássicos disputados em São Paulo acontecem com torcida única desde abril de 2016. Esse procedimento continuará?
Esse é um debate delicado dada sua complexidade que envolve a paixão das pessoas, segurança pública e acesso ao direito do esporte. Não podemos afirmar categoricamente que iremos suprir imediatamente o modelo de clássicos com torcida única, mas nossa intenção é criar caminhos junto às organizadas para achar uma saída mediada e não autoritária de simples proibição. A proibição do encontro nos estádios não impede conflitos entre organizadas, não é porque ocorre em outro lugar que deixa de ser um problema. Não haverá privilégios e todas as organizadas terão os mesmos direitos de torcer por seus clubes.
Vale ressaltar que há casos de brigas longe da região da partida. Como aumentar a segurança e evitar esses episódios?
Nosso programa aponta uma série de mudanças na segurança pública no sentido de recolocar a PM no lugar de policiamento ostensivo. Por outro lado, a polícia civil será equipada e haverá contratações o que permitirá cada uma fazer seu trabalho com mais recursos e qualidade. Ou seja, a PM poderá atuar ostensivamente nas ruas nos dias de jogos em sintonia com a inteligência da polícia civil, atuando, por exemplo, em pontos marcados pela internet para confrontos. Além disso, no processo de mediação entre as organizadas, em nosso governo, serão pactuados pontos de pacificação que incluirão o fim de conflitos também fora das regiões de estádios.
A mobilidade aos estádios irá melhorar? Torcedores enfrentam dificuldades para ir ao Morumbi, como também acontece em Itaquera, em jogos às 21h45.
A mobilidade irá melhorar em todos os sentidos, incluindo em dias de jogos. Em nosso programa de mobilidade urbana apontamos tarifa zero aos domingos para começar a estimular a circulação das pessoas pela cidade para fruição de lazer que pode ser ir ao estádio. Além disso, contratos com concessionárias serão revistos a fim de baixar valores de tarifas e iremos acelerar a abertura de novas estações. Com relação a jogos noturnos, pretendemos rever. Há uma inversão de prioridades onde a prioridade das pessoas assistirem os jogos é secundarizada em função das necessidade de transmissão predominantemente televisivas. Mudaremos os horários dos jogos e também negociaremos no Paulistão a transmissão pela TV Cultura, retomando sua histórica referência esportiva na televisão, além de captar recursos para sua manutenção.
São Paulo terá duas sedes na Copa América de 2019. Como será a preparação para o evento?
O primeiro passo antes de qualquer coisa é uma auditoria de emergência. Não aceitaremos a corrupção que vimos nos escândalos da FIFA e da CBF na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. É extremamente contraditório o paradigma dos mega-eventos esportivos e da espetacularização do esporte de alto rendimento, que se tornam prioridades em detrimento de todo o sofrimento do povo. Não toleraremos mais um evento internacional desse porte que assalta os cofres públicos e ainda por cima cobra valores abusivos em ingressos.
Buscará a prefeitura para ações conjuntas na área esportiva, independentemente de questões partidárias? Como agirá nesse sentido?
Com todas as prefeituras, no que depender de nós. É preciso articulação em todas as áreas, inclusive a de esporte, lazer e práticas corporais, dado que a Secretaria Estadual de Esporte tem um número reduzido de equipamentos esportivos (um total de 13 em todo o estado) e pouquíssimos recursos. Buscaremos sempre o diálogo e convênios que busquem ampliar possibilidades do esporte, reforçando políticas públicas de municípios notoriamente vocacionados para algumas modalidades já historicamente presentes em seu território. O projeto de academias ao ar livre é insuficiente enquanto política pública, por isso é preciso desenvolver programas e profissionais atuando em resposta às demandas da população.
Pretende introduzir ou aperfeiçoar algum tipo de programa de bolsa para o desenvolvimento de atletas?
Haverá um grande sistema de bolsa para a juventude protelando a entrada no mundo do trabalho. Todavia, a destinação dessas bolsas será acordada em planos ação regionais que poderão ter respeitada a necessidade de bolsas para jovens atletas.
São Paulo conta com um moderno Centro Paralímpico Brasileiro. Haverá um incentivo ainda maior no esporte paralímpico?
Com certeza. O esporte paralímpico além de vitorioso simboliza a necessidade de avanços em políticas públicas para pessoas com deficiência que em nosso programa de governo construíram propostas fantásticas. É tempo de todo o povo ter vez, pessoas com deficiência, juventude, idosos, negros e negras, povos indígenas, mulheres, LGBTs e tantos outros grupos esquecidos pelos 24 anos de governos do PSDB em SP. Quando assumirmos o Governo, teremos um programa e um compromisso público com o povo.
Bate-bola com a (o) candidata (o):
Pratica ou praticou algum esporte? Quando nova, praticava Vôlei.
Ídolo no esporte: Tenho um antigo e um atual. A antiga é a Maria Esther Bueno porque foi uma das primeiras mulheres a ser campeã brasileira de tênis e enfrentou preconceito muito grande pelo fato de ser mulher. Efetivamente até então nenhuma mulher teve tanto destaque na área esportiva. O atual é o Gustavinho, meu sobrinho adotivo. Ele é capitão da seleção de basquete do Corinthians e mantém a tradição de manifestação política corinthiana porque compete com camiseta da Marielle.
Lembrança que tenha ligação com esporte: Não posso deixar de lembrar do 7x1.
Time do coração: Corinthians!