O que têm em comum Rafael (Cruzeiro), William (Internacional), Gabriel (Atlético-MG), Rodrigo Caio (São Paulo), Guilherme Arana (Corinthians), Thiago Maia (Santos), Douglas (Vasco), Gustavo Scarpa (Fluminense), Luiz Araújo (São Paulo), Valdivia (Internacional) e Luan (Grêmio)? Todos são titulares e criados na base dos respectivos times. Têm qualidade e, consequentemente, potencial de venda para o exterior. O talento, aliás, ainda é o principal trampolim para o profissional, por mais que o fator necessidade financeira "ajude" e o clube do atleta tenha tradição em formar jogadores.
- Não tem como fechar os olhos para o talento. O que passamos para todos é que cada um tem um tempo de maturação diferente. Não é porque determinado jogador é titular do profissional com 18 anos que outro da mesma idade (ou até mesmo com idade superior) precisar ser. O maior exemplo é o Guilherme, que apenas hoje, aos 22 anos, está conseguindo se firmar. É importante não ter pressa e conduzir o processo com calma e paciência. É isso que estamos buscando fazer - afirma Álvaro Miranda, diretor geral da base do Vasco.
Quando se pensa em pratas da casa, logo vêm à mente pensamentos como "craque o Flamengo faz em casa", "esse é de Xerém", "molecada da Vila", "o São Paulo tem uma das melhores bases do mundo", "o Corinthians ganha a Copinha quase todo ano"... Este imaginário urbano está longe de ser lenda. Os principais clubes do país seguem com o foco principal em revelar talentos para os profissionais. Em muitos ganhar títulos na base deixou de ser o objetivo.
- O foco sempre é fazer o jogador chegar ao time profissional. Queremos ter uma fábrica de talentos - afirma Rodrigo Leitão, ex-coordenador da base do Corinthians, que foi demitido nesta terça-feira. O clube já escalou 11 crias da base nesta temporada.
Um dos que mais revelam talentos, o Santos tem hoje três pratas da casa entre os titulares (Lucas Veríssimo, Zeca e Thiago Maia), mas só seis ex-juniores entre os profissionais. Está longe de fazer jus à tradição, mas mantém a filosofia.
- Priorizamos a formação em detrimento de ganhar jogo. Queremos qualidade. O foco é servir o profissional - garante Ronaldo Lima, gerente da base santista.
Figuras de destaque nas negociações de jogadores, os empresários também já notam um aproveitamento maior da divisões de base.
- O critério técnico tem que estar acima de tudo. Promover juniores não pode ser só uma bandeira. Não pode subir pela necessidade financeira, tem que ser pela qualidade - acredita Eduardo Uram, representante de mais 120 atletas e um dos principais empresários do Brasil.
- O momento é muito positivo, porque a base na vitrine do clube acaba tendo uma valorização grande. Está sendo bom para o empresário, o clube e o atleta - acredita Alexandre Bastos, o Xande, que foi jogador da base do Vasco e atualmente trabalha com 20 atletas, muitos recém-promovidos.
Técnico do sub-20 do Botafogo, Eduardo Barroca, cita a importância das competições nacionais, como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil da categoria, para o crescimento dos atletas.
- Os clubes têm se preocupado em organizar melhor este processo de transição. As competições que a CBF tem feito contribuem muito para este aproveitamento. Os jogos são mais competitivos na base e o jogador chega ao profissional num nível melhor. Dá um salto de qualidade – afirmou o treinador, atual campeão brasileiro pelo Alvinegro.
Eduardo acredita que a qualidade dos jogadores tende a crescer com os investimentos que os grandes clubes têm feito na base:
- Hoje os profissionais da base estão mais preparados e os clubes estão investindo mais. No Botafogo, temos um plano de carreira para os jogadores. Eles sabem os critérios que fazem o jogador subir ou descer do profissional.