Não foi apenas dentro de campo que o Flamengo foi derrotado ontem. O espetáculo de vandalismo e barbárie dos torcedores rubro-negros, desde a noite de terça-feira, foi um vexame maior do que o empate com o Independiente que custou o título da Sul-Americana. Houve invasão do estádio, brigas na chegada ao Maracanã, os ônibus dos visitantes foram danificados e a polícia teve dificuldades de conter a situação. Baderna que começou, aliás, muito antes, de madrugada, quando houve confusão na porta do hotel onde os argentinos estavam hospedados na Barra. Flamenguistas fizeram algazarra, soltando fogos e buzinando para tirar o sono dos jogadores.
Não há nenhuma novidade nisso, é uma rotina no futebol do continente. A delegação rubro-negra enfrentou problemas semelhantes no jogo de ida, em Buenos Aires. O fato novo é a pretensão da Conmebol de punir os clubes. A entidade está analisando os fatos ocorridos para decidir o que fazer. Também investiga os gestos racistas de torcedores do Independiente que imitaram macacos ao se dirigirem aos brasileiros no estádio Libertadores da América, semana passada. Mas não basta ficar no discurso ou na boa intenção.
Desde que estouraram os escândalos da Fifa, que levaram uma nova diretoria à entidade, a Conmebol promete mudar, se modernizar, ser mais transparente. Isso deve incluir impor civilidade ao futebol sul-americano. Não dá mais para achar normal escudos protegendo jogadores na cobrança de escanteio, água cortada nos vestiários dos adversários, manifestações racistas ou badernas como as que se viu nesses jogos das finais. Punir, e com rigor, é a única saída. Livrar-se disso será a maior prova de que realmente uma nova Conmebol pode estar surgindo. E que uma Libertadores – ou mesmo uma Sul-Americana - podem um dia ser comparáveis a uma Champions ou as outras competições europeias.
O MELHOR: Ganhou o título o time que foi mais organizado, que teve padrão de jogo, variações táticas com jogadores se movimentando, trocando de posição, tocando bola de pé em pé. Foi derrotado o time que apostou na ligação direta, nos cruzamentos para área. E nada mais. Como em Buenos Aires, o Flamengo saiu na frente. Mas não soube segurar a vantagem. Lucas Paquetá, o melhor jogador do time, marcou. E Cuellar, 10 minutos depois, fez um pênalti infantil que determinou o empate. O Maracanã lotado viveu mais uma noite de frustração com um time que tinha a ambição de conquistar a América. E só ganhou o Carioca. A temporada de 2018 para Reinaldo Rueda começou no apito final. Ele vai ter a chance de montar, enfim, um time a sua imagem e semelhança, de tentar fazer no Brasil o que o consagrou no Atlético Nacional. Muito mais do que o bando que muitas vezes foi o Flamengo sob seu comando este ano.
RUIM DE RELÓGIO: O juiz Wilmar Roldán errou feio na conta dos acréscimos, tanto no intervalo quanto no final do jogo. No primeiro tempo, houve paralisação para consultar o árbitro de vídeo, para atender Rever que sofreu um corte na testa, uma substituição no Independiente. E ele deu apenas três minutos. O mesmo tempo que acrescentou na segunda etapa quando houve cinco substituições e o longo atendimento ao goleiro Cesar que caiu e bateu a cabeça. Róldan desrespeitou a recomendação da Fifa que é de dar 30 segundos por cada substituição feita. Ele mesmo segurou o jogo, mandando repetir sucessivamente cobranças de falta por preciosismo no local da bola. Irritou ainda mais os jogadores do Flamengo. E ainda apitou o final do jogo quando o cronometro marcava 2m50 a mais. O resultado, provavelmente, não mudaria se ele tivesse agido certo. Mas o respeito à regra e especialmente ao torcedor que paga ingresso, não pode ser deixado de lado.