A história por trás da expulsão mais polêmica do ano: ‘Ele xingou minha mãe. Ela morreu aos 30 anos’

Jameerson Santos, lateral-esquerdo do Marília, fala com o LANCE! e justifica motivo de ter 'perdido a cabeça' em jogo da Copa São Paulo. Jovem se arrepende de explosão

imagem camera(Imagens: Reprodução/SporTV)
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Lance!
Marília (SP)
Dia 10/01/2018
10:22
Atualizado em 10/01/2018
15:58
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Lateral-esquerdo do Marília na Copa São Paulo, Jameerson Santos ganhou as manchetes de uma maneira nada positiva no último sábado. O jovem de 19 anos foi expulso do jogo contra o Mogi Mirim após fazer gestos obscenos com a mão e suas partes íntimas para um adversário após dividida. Porém, o descontrole que parecia "gratuito" tinha motivos escondidos dentro do coração de Jameerson. Em entrevista ao LANCE!, o lateral comentou que só "perdeu a cabeça" porque o lateral-direito Caio, do Mogi Mirim, xingou a sua mãe depois da dividida. E a mãe de Jameerson morreu em 2016, aos 30 anos, vítima de uma trombose. Até hoje, o jogador ainda sofre com a partida precoce da mãe.

- Ele veio me dando um chute por trás e xingou minha mãe. De cabeça quente, acabei me estressando e fiz aqueles gestos lá. Depois eu vi as imagens e fiquei arrependido demais. Na hora do jogo a gente não pensa... Mas serviu de aprendizado. Não vou fazer isso mais - disse Jameerson, detalhando o lance:

'Jogador de futebol é assim, vai logo no ponto fraco, para ver se o outro vai esquentar a cabeça. E foi logo no meu ponto fraco'

- O cara veio xingando: "A sua mãe é..." (Jameerson não falou o restante). Jogador de futebol é assim, vai logo no ponto fraco, para ver se o outro vai esquentar a cabeça. E foi logo no meu ponto fraco. Minha mãe morreu nova, aos 30 anos. Mas ele nem sabia disso, né... A maioria dos jogadores gosta de xingar a mãe. Ele xingou a minha e acabou acontecendo aquilo tudo.

Jameerson Santos é natural de Salvador, capital da Bahia, e saiu de casa aos 14 anos para tentar a sorte no futebol, com o objetivo de dar uma vida melhor para a mãe. Inicialmente foi para Brasília, depois para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, até chegar em São Paulo em 2016, primeiramente para defender o Mogi Mirim (curiosamente, o clube adversário no jogo da expulsão). Foi neste período que veio a pior notícia de sua vida.

- Convivi toda a infância com a minha mãe. Ela ficou adoentada e eu sempre cuidei dela, sempre estive do lado dela. Até que chegou o dia que eu tive que ir atrás do meu sonho, para dar uma vida melhor a ela. Acabei indo para os clubes, correndo atrás sozinho, enquanto ela estava na Bahia. Ela faleceu em 2016, teve uma trombose. Eu não sei explicar o que aconteceu, porque eu estava longe. A notícia chegou em mim, mas ninguém me falou o que foi direito. Eu nem sabia que ela estava em situação grave. Foi difícil para a ficha cair, muito difícil. Mas graças a Deus, eu tive forças para seguir lutando.

Jameerson já foi até capitão no Marília (Foto: Reprodução de internet)

Dois dias depois da expulsão, Jameerson e Caio se cruzaram no corredor de um shopping de Marília. O encontro serviu para os jogadores selarem as pazes:

- Eu o perdoei. Vi ele no shopping. Conversamos normalmente e a gente se acertou. Ele sabia da repercussão que aquilo tinha tomado, que o lance tinha saído em toda imprensa. No papo, as coisas entre nós se resolveram rapidinho.

Jameerson defende o Marília desde o ano passado. Ele afirma que a explosão de raiva foi um fato inédito, algo que jamais tinha acontecido em sua trajetória:

'Fiquei aquela noite toda pensando, triste. Desinstalei Facebook e WhatsApp do celular, não queria mais usar rede social, estava recebendo muitas mensagens'

- Eu nunca tinha feito algo como aquilo, nunca, nunca... Você pode ligar para qualquer clube por onde eu passei. Nunca tive indisciplina. Acredito que é um plano de Deus. Às vezes, a gente faz algo que nem nós mesmo entendemos. Fiquei aquela noite toda pensando, triste. Desinstalei Facebook e WhatsApp do celular, não queria mais usar rede social, estava recebendo muitas mensagens. Foi uma coisa muito difícil para mim. Depois, com meus amigos me dando força, consegui me recuperar.

O Marília passou para a segunda fase da Copinha como líder do grupo 8. O jogo contra o Mogi Mirim, o da expulsão, terminou 0 a 0. A partida anterior, diante do Tubarão-SC, tinha sido vencida por 4 a 3. E o duelo final do grupo, no qual Jameerson cumpriu suspensão, foi ganho por 2 a 0 contra o Fluminense:

- Levei um jogo só de suspensão, volto na próxima partida (contra a Desportiva Paraense, nesta quinta-feira, às 19h). O companheiro que jogou no meu lugar contra o Fluminense recebeu o segundo amarelo e está suspenso. É trabalhar para dar o meu melhor neste próximo jogo. Quero mostrar o meu melhor.

SONHOS COM O PALMEIRAS E ARSENAL

Perguntado sobre seus planos para a carreira, Jameerson Santos não escondeu o desejo de defender dois clubes especiais para ele: Palmeiras e Arsenal.

'Sou torcedor do Palmeiras, sonho jogar pelo Palmeiras... Quero jogar o Campeonato Inglês. Seria muito bom jogar pelo Arsenal, um time que gosto muito'

- Sou torcedor do Palmeiras, sonho jogar pelo Palmeiras. Mas tem muitos clubes que eu desejo jogar. Quero jogar o Campeonato Inglês. Seria muito bom jogar pelo Arsenal, um time que gosto muito. Meu sonho é conseguir ser um grande jogador, ajudar minha família. Minha família depende muito de mim. Estou até agora no futebol por causa da minha família, esse é motivo verdadeiro de eu estar no futebol - disse o jovem, que depois falou de suas qualidades:

- Comecei como lateral-esquerdo, depois larguei a lateral para jogar de atacante, e aqui no Marília voltei a jogar de lateral. Sou um jogador de muita força, gosto muito de disputar na velocidade e no corpo. Também me considero um pouco habilidoso. E tenho trabalhado para evoluir cada vez mais.

Jameerson tem cinco irmãos, todos mais novos, que moram com o pai em Salvador. Dos tempos na Bahia, ficaram as lembranças de uma infância dura:

- Foi uma infância de muita batalha. Eu vivia muito na rua. Depois, com 12 anos, comecei a trabalhar. Ia para a praia vender churrasco, para ganhar um trocado pra ajudar minha família e comprar algumas coisas boas que toda criança gosta. Já trabalhei em lava jato, em mercado. Eu vivia na correria... Ainda vivo.

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