Jogou onde? Volante provocado por Robinho dá a resposta e se derrete pelo Corinthians: ‘Maior sonho’
Alvo de 'cutucada' há uma semana, Moisés Ribeiro abre o coração em entrevista ao LANCE!. Atleta da Chapecoense lembra discussão e como escapou do acidente aéreo com seu time
Jogou onde? Se Moisés Ribeiro tivesse parado para responder a provocação de Robinho, certamente não faltariam histórias para conversar por horas. Aos 26 anos, o volante da Chapecoense já tem muito o que contar. Nascido em Salvador, o jogador começou na base do Bahia, depois foi para os juniores da Portuguesa-SP e encerrou sua formação no Corinthians, em 2011, subindo aos profissionais. No entanto, Moisés não vingou no Timão e posteriormente passou por diversos clubes de menor expressão no Brasil, indo parar no Avispa Fukuoka, do Japão, em 2015. No começo do ano passado, o volante acertou com a Chapecoense, tendo escapado do acidente aéreo com o time por conta de uma lesão e sendo peça importante para a equipe na atual temporada. Em entrevista ao LANCE!, Moisés abriu o coração, lembrou passagens marcantes e teve que responder de cara, logo na primeira pergunta: "Jogou onde?"
- O Robinho já fez essa pergunta (risos). Fiz a base no Corinthians, depois joguei no Olaria, Bragantino, Mogi Mirim, Boa Esporte, Linense, Sampaio Corrêa, no Japão e agora na Chapecoense. Já dei uma rodada por aí, um pouquinho - comentou Moisés Ribeiro, também recordando sua origem:
- Vim de uma família humilde, mas graças a Deus trabalhadora. Eu vim de baixo. Não é por estar hoje jogando em um time grande, como a Chapecoense, que vou desmerecer meus companheiros, as pessoas que eu conheço.
Passada uma semana do atrito com Robinho, o volante afirma que não guarda mágoas do atacante do Atlético-MG. A situação começou quando o jogador do Galo, aos 30 minutos do segundo tempo de jogo contra a Chapecoense, deu a tradicional pedalada e encarou o zagueiro Douglas Grolli. Moisés não gostou do lance e foi cobrar Robinho, que retrucou com o "jogou onde?". A frase de Robinho acabou flagrada pela TV e virou uma das grandes polêmicas dos últimos dias. Sem "papas na língua", Moisés explica detalhes da discussão.
- Eu falei com ele para respeitar a Chapecoense, porque quando estava 2 a 1 para nós ele tava (sic) jogando sério, e quando o Atlético empatou ele quis fazer graça. Falei que não tinha necessidade daquilo. Aí ele veio e perguntou onde eu tinha jogado, porém não respondi mais nada para ele. Minutos depois fizemos 3 a 2. Não nos falamos depois do jogo, não teve mais conversa. Acabou a partida, cada um foi para o seu lado, vida que segue. Nem guardei mágoa, foi coisa de jogo. Não guardei mágoa com o Robinho. Está perdoado - disse.
O currículo de Moisés não apresenta passagens por Seleção e Real Madrid, como o de Robinho, mas tem seu início como profissional promovido por um técnico de muito peso: Tite. Porém o volante, então com 20 anos e promissor na base, não engrenou no elenco principal do Timão e foi para o Corinthians B, onde tinha seus jogos avaliados por Fábio Carille, assistente de Tite na época. Ao olhar para trás, Moisés admite que deixou a desejar no Corinthians.
'Quando estava no Corinthians eu só namorava... Acho que eu não tinha objetivo, uma ambição... Meu maior sonho é voltar'
- Faltou eu estar mais preparado. A oportunidade veio, mas no momento que chegou eu não tinha a cabeça que tenho hoje. Hoje me preparo mais para cada dia, me preparo para cada momento na minha vida. Se fosse hoje, aproveitaria melhor a oportunidade que tive. Eu não chegava a aprontar, mas depois que casei e tive meu filho ganhei mais preocupações, sabe. Quando estava no Corinthians eu só namorava... Acho que eu não tinha objetivo, uma ambição. Hoje tenho a ambição de criar meu filho, que tem um ano, de ser feliz com minha esposa. As coisas mudaram - destacou Moisés, que também se derreteu pelo Timão e disse que deseja voltar ao clube:
- Só fiz um jogo no time principal do Corinthians, um amistoso contra o Grêmio Osasco. Nem joguei campeonato, mas agradeço minha vida ao Corinthians, porque o Corinthians me lançou. Eu devo tudo ao Corinthians. Quem sabe um dia... Meu maior sonho é voltar a jogar (pelo Corinthians), a vestir a camisa do Corinthians. Eu entrego nas mãos de Deus. Quem sabe um dia.
Moisés Ribeiro tem contrato com a Chapecoense só até o fim deste ano. Ele comenta que seu futuro está indefinido e pode seguir para um novo clube:
- Estou bem na Chapecoense. É um clube que abriu as portas para mim e me sinto bem aqui. Meu contrato se encerra agora em dezembro. Já conversaram (para renovar), porém estou esperando mais um pouco, porque podem aparecer outras situações boas. Meu empresário está cuidando dessa parte.
'DEI O MEU MÁXIMO PARA VOLTAR NAQUELA FINAL'
Moisés já era titular da Chape no ano passado, mas uma grave lesão durante jogo contra o Vitória, em junho, pela nona rodada do Brasileirão, tirou o volante dos campos até o fim da temporada. Assim ele não fez parte da delegação que sofreu o acidente aéreo na Colômbia. Porém, Moisés afirma que fez de tudo para estar com os companheiros que jogariam a final da Copa Sul-Americana.
'Queria muito estar na final... Paguei até personal por fora, treinei de noite, mas acabei não indo'
- Sofri uma lesão grave no joelho. A recuperação seria de seis a oito meses, mas quando faltavam uns 20 dias para a final comecei a fazer trabalhos no campo. Eu estava em fase final de recuperação, mas ainda sem um ok para jogar. (O acidente) Foi uma coisa que marcou minha vida. Queria muito estar na final, me dediquei para me recuperar mais rápido. Paguei até personal por fora, treinei de noite. Dei o meu máximo para voltar naquela final, mas acabei não indo.
Moisés perdeu grandes amigos. Dois deles eram especiais para o volante:
- Eu estava dormindo quando aconteceu. Minha esposa me acordou falando dos primeiros rumores. Nem acreditei quando ela falou e voltei a dormir. Depois ela me acordou de novo e disse que o avião realmente tinha feito um pouso de emergência. Aí fui para o estádio e lá nos falaram tudo. Até minha mãe, mesmo sabendo que eu não estava no voo, me ligou assustada. Todos eram meus amigos. Os mais próximos eram Lucas Gomes e Kempes, caras que eu falava quase todo dia no telefone. Eram grandes amigos que a bola me deu.