A contradição é a marca da entrevista que o diretor de gestão da CBF deu a este LANCE! esta semana. Ao mesmo tempo em que se vangloria de medidas que foram tomadas nos últimos anos – que apenas tiram uma parte do atraso em que a dinastia Teixeira/Marin/Del Nero mergulhou o futebol brasileiro –, Rogério Caboclo sai em defesa da guerra suja que a CBF vem travando nos bastidores do Congresso Nacional para mudar a lei do Profut e livrar os clubes da obrigação de terem certidões negativas de débito - uma das pedras fundamentais do programa de refinanciamento da dívida e de modernização do nosso fut.
É o lobo em pele de cordeiro.
O discurso da transparência e da modernidade – criado pelo aspone-mor Walter Feldman para servir de fachada aos imbróglios da administração Del Nero e às suspeitas que recaem sobre um presidente impedido de deixar o país por medo de ser preso – sucumbe assim, de uma vez por todas, aos interesses corporativos daqueles que só pensam em manter-se no poder.
Primeiro foi a assembleia-geral quase clandestina, sem a participação dos clubes, que contrariando as novas exigências da lei alterou o estatuto da CBF aumentando o poder da cartolagem das federações em detrimento da capacidade dos clubes influenciarem nos pleitos.
Agora, é a articulação para sabotar o Profut que revela a falta de limites e de compromisso com as boas práticas por parte da cúpula da CBF. O verdadeiro jogo da entidade continua a ser, e isso fica claro, o jogo do atraso, das articulações na calada da noite, dos interesses particulares se impondo sobre o bem público.
Os argumentos de Rogério Caboclo são frágeis como uma pena levada pelo vento. Por desconhecimento ou má-fé ele nega a realidade europeia onde, desde que as leis de controle foram criadas pela UEFA, mais de 50 clubes já foram punidos, inclusive, com rebaixamento e suspensão, por irregularidades como o desequilíbrio das contas.
Suprimir a exigência da Certidões Negativas de Debito, como quer a CBF, é reabrir o caminho para a inadimplência, para o gasto irresponsável e, acima de tudo, para o descumprimento daquilo com o que os próprios clubes concordaram com a adesão ao Profut. É um passaporte para a impunidade.
Os termos do programa, no que diz respeito às contrapartidas exigidas para o refinanciamento das dívidas públicas, já foram bem mais brandos do que era o desejável. A CND é a prova de que as obrigações tributárias, trabalhistas e previdenciárias estão sendo cumpridas. E isso é o mínimo que se espera dos clubes, como de qualquer empresa ou cidadão.
A lei do Profut, como quer fazer crer a CBF, não gera insegurança jurídica. Não é uma interferência externa no campo esportivo. É, isso sim, parte do jogo do bem, a garantia de que, mais uma vez, não irão escoar pelo ralo os esforços de sanear o futebol brasileiro.