O Grêmio joga o seu futuro neste sábado no Beira-Rio. Sim, é mais do que três pontos o que vai estar em jogo no clássico gaúcho. Se vencer, o Tricolor pode ganhar um novo ânimo, recobrar as energias e, quem sabe, protagonizar uma arrancada heroica para afastar-se da degola. Se perder, o efeito inevitavelmente será o contrário, o desânimo que já ronda o CT Presidente Luiz Carvalho vai matar qualquer chance de recuperação.
O enredo que o Grêmio segue nesta temporada é típico dos rebaixados. Não um círculo, mas uma sequência viciosa de equívocos que é difícil de ser rompida. Troca a troca de treinadores, baixo rendimento em campo, reações intempestivas dos cartolas, descontrole dos torcedores e punições que acabam em um mergulho na Série B. Não será o primeiro nem o último dos grandes a passar por isso.
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Vagner Mancini é o quarto treinador desde que o ano começou – o terceiro desde que Renato deixou o clube. Tiago Nunes fez 16 jogos, Luiz Felipe Scolari 21, ambos em menos de quatro meses no comando. Muito pouco tempo para que qualquer treinador possa mostrar seu trabalho, menos ainda para ser julgado. Mas o suficiente para mostrar que a falta de continuidade, a mudança de padrão de jogo, desarma qualquer time por mais talentos que ele tenha.
Quanto mais o Grêmio sofre em campo, mais e mais os dirigentes transferem para ombros alheios responsabilidades que são suas. Depois dos treinadores, juízes, bandeirinhas, o VAR, o calendário da CBF, tudo vem servindo de desculpa. Atribuir a uma perseguição a situação em que o time se encontra é próprio dos derrotados, Um discurso que só contribui para tornar o ambiente ainda mais tumultuado, os jogadores mais nervosos em campo – Rafinha pode pegar até seis jogos de gancho por xingar o juiz - e os torcedores descontrolados nas arquibancadas.
'O Grêmio não tem time para cair.'
Uma coisa puxa a outra, como mostraram as cenas de vandalismo na Arena, fim de semana passado, quando após a derrota para o Palmeiras, torcedores desceram para o gramado, destruíram os equipamentos e cabine do VAR e ainda tentaram invadir a área que dá acesso aos vestiários para ameaçar os jogadores. O resultado não poderia ser outro: a proibição de torcida em jogos em casa e fora, determinada em liminar pelo STJD. Para aumentar ainda mais o martírio.
O Grêmio não tem time para cair. O Tricolor aparecia na lista de muita gente entre os favoritos para disputar ao menos uma vaga na Libertadores antes do Brasileirão começar. O título gaúcho, conquistado em cima do rival Colorado, reforçava então ainda mais essas previsões otimistas. Mas uma sequência de resultados ruins e a eliminação precoce na terceira fase da Libertadores colocou fim aos cinco anos de Renato no comando do time. Com a diretoria e os conselheiros divididos, o técnico pediu demissão, anunciada como de comum acordo.
O Grêmio perdeu Renato, mas não se preparou para ficar sem ele. Na longa e raríssima trajetória no comando ele virou uma espécie de dono do time. Ou do clube. Cuidava não só de treinar e escalar o time, mas de tudo o que dizia respeito ao futebol. Deixou um vazio que o clube não soube preencher. E pode ter sido aí que o buraco começou a se abrir.