Luiz Gomes: ‘O que a quarentena pode ensinar aos técnicos que estão livres no mercado’

Além do impacto positivo das passagens de Jesus e Sampaoli, colunista do LANCE! reflete como escolhas recentes foram determinantes para complicar técnicos conhecidos no país

imagem cameraTrio continua à espera de um novo desafio (Foto: Montagem/Corinthians/Cruzeiro/Palmeiras)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 30/03/2020
13:29
Atualizado em 31/03/2020
07:30
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Para alguns medalhões do futebol brasileiro esse período de quarentena, sem bola rolando com a paralisação dos campeonatos estaduais, pouca coisa representou de mudança prática, ao menos no que diz respeito ao futebol: eles já estavam parados, sem clube para treinar, sem ter o que fazer.

Felipão, Mano Menezes, Cuca, Abel Braga, Oswaldo de Oliveira, se somam a alguns nomes da nova geração, figuras menos coroadas como Fábio Carille, Alberto Valentim, Jair Ventura, Zé Ricardo, Thiago Larghi, entre outros, que também já amargavam o desemprego mesmo antes de o mundo parar. Terão espaço ainda no futebol quando a vida de todos nós voltar à normalidade?

É bobagem generalizar. Essa história de dizer que os treinadores brasileiros estão ultrapassados, que pararam no tempo, acomodados nos salários milionários que recebiam nos grandes clubes, algumas vezes muito mais do que valiam, é uma explicação simplista para o momento que muitos deles atravessam. Um ou outro até pode ser, pode ter entrado nessa de dormir sobre os louros da fama – e do passado. Mas cada caso é um caso e assim têm de ser tratado.

De fato, o sucesso de nomes estrangeiros, principalmente o português Jorge Jesus e suas muitas conquistas no Flamengo, e o argentino Jorge Sampaoli no Santos, e o início promissor do também hermano Eduardo Coudet, no Internacional, colocaram uma pressão a mais sobre os ombros dos treinadores brasileiros. Ao mesmo tempo que gerou excessos, como se buscar um gringo fosse uma fórmula mágica e infalível de vencer e ganhar títulos. Foi assim que, para substituir Sampaoli, o Santos estabeleceu como premissa ter um outro estrangeiro no comando - e foi buscar o português Jesualdo Ferreira, que ainda anda aos trancos e barrancos na relação com a torcida. E o Atlético-MG seguiu o mesmo caminho embarcando na aventura do venezuelano Rafael Dudamel, interrompida abruptamente depois de sucessivas eliminações do time. E Sampaoli de novo apareceu em cena como salvador do Galo.

Mas o que há afinal com os professores tupiniquins? O que levou parte deles ao descrédito?

Mais do que decadência técnica – afinal, ainda que não se evolua, não se esquece aquilo que um dia se aprendeu - para alguns falta foco. E um norte à carreira. Uma sucessão de escolhas infelizes ajuda a explicar esse quadro. Contratos assinados em troca de um salário confortável, sem levar em conta o planejamento, o potencial do elenco, a relação com a cartolagem. Diminuem-se, eles próprios. Luxemburgo, até chegar ao Palmeiras, onde longe de um trabalho brilhante, vai conseguindo mostrar resultados – depois de uma boa passagem pelo Vasco, diga-se - é um exemplo clássico. Nos últimos anos pulou de galho em galho, meio sem rumo, fazendo apenas 19 jogos no Cruzeiro, 12 no futebol chinês e 34 no Sport e no cruz-maltino.

Abel Braga, outro que tem colecionado fracassos, é um caso à parte. Suas passagens tão apagadas quanto meteóricas em tempos recentes, por clubes como o Flamengo, o Cruzeiro e o Vasco, de onde saiu dias antes da quarentena, mostram, mais que técnico, um homem a procura de si mesmo. Impossível esquecer a tragédia pessoal por que ele passou com a perda do filho. E o papel que o trabalho, o ocupar a cabeça e o tempo se fazem tão necessários como forma de aplacar as dores. Não o faz por dinheiro – costuma assinar contratos sem multa rescisória, do Vasco ainda não recebeu um tostão – mas pelo direito de manter-se bem. Há de conseguir!

Vamos combinar que ser estrangeiro não é credencial para ninguém. Como ser brasileiro, muito menos, é um demérito. Há espaço, é claro, para a volta de um experiente Felipão, assim como de um promissor Zé Ricardo. O que é preciso é seguir o caminho certo. Casar expectativas de clubes e treinadores, o estilo e o DNA de cada um. Projetar resultados de acordo com a realidade, o potencial dos elencos, a força financeira e a capacidade de planejamento dos clubes. Sem alimentar propostas e sonhos impossíveis.

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