Marcelo Mattos nega mágoa com o Vasco e cita força para não desistir
Jogador comenta ainda sobre o ambiente conturbado dentro do clube, Alberto Valentim e a pressão da torcida pelos resultados<br>
Privado por mais de dois anos de fazer aquilo que gosta, Marcelo Mattos superou as cinco cirurgias desde que o ligamento cruzado anterior foi rompido, em setembro de 2016. Depois de não renovar contrato com o Vasco e deixar o clube no final do último mês, ele não guarda rancor do período no Cruz-Maltino. Em entrevista ao LANCE!, o volante de 34 anos agradeceu ao clube pela assistência e a relação durante esse período e garantiu que teria chances de lutar por posição caso permanecesse em São Januário: "sinceramente, eu brigaria, ainda mais em um campeonato difícil como o Brasileirão".
- Foram três anos de Vasco, sendo mais de dois machucado. Nesse tempo foram momentos difíceis, com cirurgias, infecção. Fui muito bem acolhido pelo clube, tiveram muito respeito comigo. Gostaria de ter contribuído mais, principalmente após a lesão. Meu carinho é muito grande. Espero um dia voltar para pagar o que o clube Vasco da Gama fez por mim. Não guardo nenhuma mágoa de não ter renovado, só carinho. Só fica meu respeito pelos profissionais e a compreensão que tiveram comigo. Dois anos e meio não foram fáceis. Claro que eu queria muito renovar, mas dependia de outras pessoas, não só de mim - avaliou o jogador.
'Foram momentos de muita dor, muito tempo assim. Fez com que pensasse em desistir, mas isso em um dia e no outro já estava trabalhando'
Além das cirurgias, Marcelo precisou carregar no braço esquerdo um dispositivo intravenoso por onde ele tomava antibióticos para combater uma bactéria que estava prejudicando sua recuperação. A mente forte foi essencial para não desistir de entrar em campo.
- É muito tempo para ficar fora. Eu tinha o objetivo de me recuperar e mostrar que sou forte. Saí de uma cidade pequena, com cinco mil habitantes e cheguei a jogar em grandes clubes. Com certeza mais vão vir pela frente. Eu nunca desisti. Foram momentos de muita dor, muito tempo assim. Fez com que pensasse em desistir, mas isso em um dia e no outro já estava trabalhando. Foram duas vezes, fui muito forte em relação a isso - disse.
- A cada vez que eu ia para a sala e operar me tornava mais forte para seguir. Foram vários momentos difíceis, mas Deus sempre mostrava que não era para desistir e eu continuei. O momento que marcou bastante foi o momento da infecção, que precisei de tratamento na veia. Todos os dias, 7, 8 horas da manhã, tinha que tomar medicação por três meses, depois mais remédios. Esse foi o período mais difícil, precisei de ajuda psicológica até fora do clube. Superei isso, fiz meu tratamento, fisioterapia, consegui chegar ao objetivo - completou.
Clima no Vasco
Apesar de não estar jogando, Marcelo Mattos acompanhou de perto a tensão do Vasco nos últimos tempos. Se em 2018 a equipe brigou contra o rebaixamento até a última rodada, desta vez 2019 começou invicto, mas se desenvolveu com salários atrasados, demissão de Alberto Valentim e início ruim no Campeonato Brasileiro.
- A torcida cobrava muito o Valentim. Para mim, foi uma pessoa que ajudou, me deu oportunidade nos treinamentos, me fez voltar a jogar. A cobrança do torcedor vai ter sempre, não pode se contentar com pouca coisa. É um time sofrido, que caiu, o torcedor sofre com isso. Quem chegar, será cobrado. Jogadores também. Até que o Vasco ganhe coisas grandes. É esse o lugar do Vasco. Dentro do grupo eu nunca vi problema dele com os jogadores, era uma relação normal - falou.
LANCE!: Muito se falou no Vasco nesses últimos tempos sobre o clima dentro do Vasco. Como você avalia esse grupo? Acredita que vão brigar por coisas grandes no Brasileiro?
'Estou fora, mas sempre acompanhando. É um grupo de amigos, maravilhoso, com profissionais sérios. O Vasco ganhou um torcedor também'
Mattos: O clima não era o que esperamos que aconteça no Vasco, o que o torcedor quer. Quando estive jogando nós fomos campeões e foi uma alegria, depois com a lesão eu acompanhei de fora as dificuldades que o clube viveu. Acredito que o Vasco vai recuperar e se levantar, principalmente na parte financeira para brigar por título. O que posso falar nesse início de Brasileiro é que o time vai melhorar. Tem muito campeonato pela frente. Tem que somar pontos para não deixar para o final e torcer para brigar por coisas grandes. Estou fora, mas sempre acompanhando. É um grupo de amigos, maravilhoso, com profissionais sérios. O Vasco ganhou um torcedor também.
LANCE!: O Vasco sempre tem um clima um pouco conturbado e com polêmicas. E neste ano aconteceu não só a demissão do Valentim, mas também a questão com o Thiago Galhardo. Como você vê o ambiente do clube?
Mattos: O Vasco tem esse ambiente conturbado, vejo que vai acabar quando o time for campeão de algo importante. O torcedor está acostumado com grandes jogadores. A cobrança e pressão é grande. O ambiente fica ruim quando as coisas não acontecem de forma positiva. Tem que ser um conjunto, atletas, grupo de fora, para ter harmonia. Com o Thiago Galhardo, não houve problemas com o grupo. Eu estava fora e não sei o que aconteceu. Ninguém explicou. Mas nunca teve problema, era um cara que eu gostava e todos também. Foi uma opção da diretoria e temos que seguir, assim como ele.
Sensação de voltar e sonhos
O drama de Marcelo Mattos começou no dia 19 de setembro d 2016. Na época, ele rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito após disputa de bola com Jorge Henrique. O tempo previsto de recuperação era de seis a nove meses, mas três meses e meio depois ele voltou ao treino com bola. O volante, então, voltou a sentir dores e passou por outras operações. O primeiro jogo após a lesão aconteceu no dia 28 de março, frente ao Bangu, no Maracanã, ganhando apenas poucos minutos no gramado. Dias antes, contra o mesmo adversário, ele havia ficado no banco.
- A sensação foi incrível de voltar a jogar, principalmente no Maracanã, palco de grandes clássicos e finais. Foi um prêmio para mim por toda superação que precisei ter. Poder voltar foi uma surpresa, fiquei muito feliz. Parecia uma criança entrando o correndo quando o treinador chamou. Toquei na bola duas vezes e fui feliz. Fiquei muito feliz mesmo. Foi o resultado de todo um trabalho e uma dedicação. O presente foi entrar no Maracanã. Me deixou muito satisfeito - disse.
A recuperação, porém, não fez com que ele renovasse com o Vasco. Com contrato apenas até o dia 25 de abril, Marcelo se despediu do clube e agora espera outra oportunidade.
- Meu sonho agora é jogar com mais sequência, ter mais partidas. Só o treinamento não basta. Quero voltar a atuar em alto nível, provar que superei a lesão complicada no joelho. Estou 100% recuperado e aguardando uma nova equipe. O clube que eu for, vou me dedicar ao máximo e ajudar dentro e fora de campo. Tenho certeza que vai acontecer. Creio que até a Copa América aconteça algo, até pela parada. Por enquanto continuo no Rio, fazendo os treinamentos para não perder a parte física e muscular. Tenho que cuidar sempre disso. Estou muito feliz por ter superado isso - finalizou.