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Prata com o futebol em 1984, Milton Cruz conta histórias olímpicas e lembra parceria com seleção de vôlei

Ex-auxiliar do São Paulo é um dos primeiros medalhistas olímpicos do futebol brasileiro. Ele abriu a sua casa ao LANCE! para relembrar sua participação nos Jogos de Los Angeles

Milton Cruz exibe com orgulho a medalha, o agasalho e a camisa usada nos Jogos de Los Angeles, em 1984
imagem camera(foto:Alan Morici/Lancepress!)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 29/07/2016
19:15
Atualizado em 01/08/2016
10:12

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Se hoje o sonho do futebol brasileiro é chegar ao ouro olímpico, até 1984 o objetivo era conquistar uma inédita medalha na modalidade. Sim, é verdade, após seis participações, a poderosa Seleção Brasileira não havia sequer chegado ao pódio de uma Olimpíada, façanha que ficou a cargo dos atletas que foram aos Jogos de Los Angeles, nos EUA.

Entre esses personagens, medalhistas de prata, estava Milton Cruz, aquele mesmo, ex-membro da comissão técnica do São Paulo. Na ocasião, como atacante, ele atuava pelo Internacional, time que formou a base daquele selecionado. Em sua casa, Milton recebeu a reportagem do LANCE! para contar como foi essa participação e mostrar a medalha que tanto o orgulha:

- Todos os atletas gostariam de participar dos Jogos e ter uma medalha como eu. Todo mundo vem aqui e quer ver. Meus filhos brincaram muito com ela, os amigos deles vêm aqui em casa e pedem pra ver. Eu valorizo muito, tem gente que não, mas eu dou a maior importância - comentou.

"Com essa medalha fiz várias clínicas nos EUA e já tirei mais de mil fotos. Todo mundo quer registrar um medalhista olímpico"

Para Milton, no Brasil ainda não há uma cultura de valorização desse tipo de conquista como existe fora do país. Ele pôde sentir essa diferença ao colher os frutos da medalha recebendo convites para ensinar futebol nos EUA.

- Individualmente foi a minha maior conquista, aliás é a maior conquista não só do futebol, mas também de outras modalidades. Aqui no Brasil não é tão valorizado como no resto do mundo. Com essa medalha fiz várias clínicas nos EUA e já tirei mais de mil fotos, todo mundo quer registrar um medalhista olímpico do futebol.

O futebol nos Jogos Olímpicos nunca foi considerado um dos principais esportes do evento. A obsessão pelo ouro veio anos depois... Em 1984, Milton e seus companheiros sentiram isso, quando souberam que dividiriam os holofotes com outra modalidade, na época, prioridade na mídia.

- Eu senti isso quando nós fomos disputar o ouro com a França e no mesmo horário jogavam Brasil x EUA no vôlei masculino e, na TV, no lugar de passar o futebol, passaram o vôlei, do nosso jogo só davam flashes. Duvido que hoje aconteceria a mesma coisa, dali você já podia ver que o futebol, na época, não era tão valorizado como é hoje.

Simultaneamente, ao lado do vôlei masculino, o futebol foi o primeiro esporte coletivo a trazer uma medalha de prata para o Brasil. A inesquecível Geração de Prata com Bernard, Renan, William e Montanaro era a "queridinha" dos brasileiros, mas o que poucos sabem é a relação que os atletas desses dois esportes nutriram durante a estadia na Vila Olímpica de Los Angeles.

- Nós vivíamos com os caras do vôlei, os caras eram muito bons, Marcus Vinícius, Badalhoca, Brunoro, Bebeto de Freitas... Nas horas vagas a gente jogava bola com eles, eram grossos pra caramba, mas gostavam de jogar e ficavam desafiando para jogar vôlei com eles - revelou Milton Cruz.

Milton Cruz Olimpíada 1984 (Foto: Arquivo Pessoal)
Da esquerda para a direita: Gilmar Popóca, Milton Cruz, Kita, Marcus Vinícius Freire (vôlei), GIlmar Rinaldi, Dunga e Badalhoca (vôlei) na cerimônia de abertura do Jogos de Los Angeles (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas não foi só esse tipo de convivência que a Vila Olímpica proporcionou aos atletas do futebol brasileiro. Havia também o encantamento com vários ídolos do esporte mundial que se misturavam nos diversos ambientes e situações que precediam as competições.

- Você acorda para tomar café e encontra o Carl Lewis, Joaquim Cruz e todos aqueles caras que você só tinha ouvido falar. Aí vai cortar o cabelo, tem aqueles salões, vê os caras fazendo penteado, é um show. Isso foi muito legal para nós. Os caras ganham medalha e ficam andando com ela, você pega na mão, elas são pesadas, coisa bonita... Poxa, você olha aquilo e quer ganhar também, te dá mais motivação - vibrou.

Até chegar aos EUA, a medalha era algo distante para Milton Cruz e seus companheiros. Antes da decisão de convocar os jogadores do Internacional para formar a base do time e completá-lo com outras peças, como Gilmar Popóca e Chicão, os resultados da Seleção olímpica eram terríveis. Não havia planejamento, tampouco empenho dos envolvidos.

Sob o comando de Jair Picerni, a equipe foi preparada para ser competitiva, mas ela não era considerada favorita, principalmente em um torneio que contava com as fortes seleções de Itália e França, com muitos de seus principais jogadores. No entanto, a história mudou durante a disputa.

- Nós fomos ganhando jogo a jogo e aumentando a confiança, inclusive na semifinal contra a Itália, o treinador era o Enzo Bearzot, jogadores como Franco Baresi, Aldo Serena, Massaro. Aquelas seleções estavam se preparando para a Copa do Mundo de 1986, não havia limite de idade, eu mesmo tinha 26 anos. Então, a cada jogo a gente foi acreditando mais que dava para chegar à final e ao ouro - lembrou Milton.

"Éramos jogadores quase desconhecidos, estávamos nos preparando para tentar chegar à Seleção e jogar a Copa de 1986"

A final chegou, a prata já estava garantida, mas o ouro não veio. A derrota por 2 a 0 para os poderosos franceses, que dois anos depois eliminariam o Brasil da Copa do Mundo do México, adiou o sonho dos brasileiros. Para Milton Cruz, a inexperiência e a pouca rodagem do time não foram páreo para o forte adversário.

- Contra a França acho que faltou uma preparação específica para o espírito de final. Nós fomos para o jogo como se fosse mais um, mas era uma final, estádio lotado, etc. Tivemos ainda a infelicidade de tomar o gol logo no começo do segundo tempo, o que acabou abalando time. Além disso, a França tinha uma grande seleção, jogadores consagrados, nós não. Éramos jogadores quase desconhecidos, estávamos nos preparando para tentar chegar à Seleção e jogar a Copa de 1986. Até falavam que se fôssemos campeões, estaríamos na Copa, mas acabou não indo ninguém, acho que só o Mauro Galvão - lamentou.

Em 2016, Milton está otimista quanto ao desempenho da Seleção olímpica e acredita que esta é a grande chance para a conquista do ouro, principalmente pelo fator casa, mas alerta para que erros anteriores não sejam repetidos.

- Torço muito para que o ouro venha, porque esses caras não tem noção da importância, às vezes são os jogadores mais renomados que não dão o devido valor à conquista. Tem que saber que não é mais um jogo, não é um jogo qualquer, tem que ficar esperto, é mata-mata, tem que entrar em todos os jogos com a mesma atenção. Para o adversário, sempre há uma determinação maior pela medalha, talvez por isso a gente nunca tenha conquistado o ouro - finalizou.

Confira a entrevista completa de Milton Cruz, um dos primeiros medalhistas olímpicos do futebol brasileiro:

Na época você conseguia ter noção da importância dessa medalha?
Não tinha caído a ficha, a gente não sabia da valia que era essa medalha, nós não sabíamos que o Brasil nunca tinha ganho uma medalha no futebol, essa foi a primeira que o país conquistou na modalidade e chegamos muito perto de conquistar o ouro, para você ver o quanto é difícil ganhar uma medalha olímpica. Já foram montados times muito bons, com treinadores de nome como Luxemburgo, Mano Menezes, jogadores importantes também como Rivaldo, Romário, Ronaldo e nunca conseguiram ganhar o ouro.

Falavam que o jogo contra a Itália seria uma vingança por conta da Copa de 1982, havia esse pensamento dentro do grupo de jogadores?
Não tinha não, nós sentimos isso depois do jogo, que vencemos por 2 a 1. O treinador deles, Enzo Bearzot, foi ao nosso vestiário dar os parabéns pela nossa vitória e também queria cumprimentar um jogador nosso, que era o Pinga, porque nunca tinha visto um zagueiro como ele, nós ficamos com isso na cabeça, o treinador dos caras, ir até o nosso vestiário, elogiou o time e falou aquilo para o Pinga, isso nos marcou muito.

E o Pinga era bom mesmo?
Nossa, jogava muito. Ele deu azar porque machucou o joelho, rompeu todos os ligamentos. Para você ver, naquele time os zagueiros eram Pinga e Mauro Galvão, antes você tinha o Aloísio (cortado), que jogou muito tempo no Benfica e tinha o Davi, que era do Santos e jogava muito. Acabou jogando Pinga e Mauro Galvão. O Pinga era muito novinho, mas já jogava no Inter, revezava com o Aloísio, e era acima da média. Mauro Galvão e Aloísio jogavam demais, mas o Pinga era bem acima da média, infelizmente em um Gre-nal, sofreu uma entrada, se lesionou, demorou muito para se recuperar e acabou indo jogar em times menores.

Como foi jogar a final no Rose Bowl para mais de 100 mil pessoas?
Naquele dia ele estava igual ao dia da cerimônia de abertura, de tanta gente que tinha. Foi emocionante, entrar no estádio, olhar para aquela torcida toda, mas é que coincidiu com o horário do vôlei, se não teria muito mais gente.

E a estadia na Vila Olímpica, como é?
É muito legal, é uma coisa fora de série conviver com todos aqueles atletas. Qualquer coisa que aconteça ali dentro, todo mundo fica sabendo, vira uma comoção. Aparece patrocinador para você usar a chuteira deles, eu usava qualquer uma, mas apareceu determinada marca, eu aceitei, coloquei a chuteira para treinar e fiz duas bolhas no pé, quase fico fora dos Jogos, tudo isso para levar uma grana, que era boa, e fazer bonito.

Alguma outra lembrança da Vila que você possa contar?
Ah, o que me marcou muito era a segurança, os caras da SWAT, tomando conta de tudo, eram muitos. A gente ficava conversando, ninguém falava muita coisa de inglês, eu tinha uma noção porque já tinha jogado nos EUA e os caras ficavam me pedindo ajuda para falar com os guardas, aí saímos um dia para fazer compras também, eu era meio que o tradutor deles, eles colavam na minha, compravam aqueles toca-fitas e eu junto, em terra de cego, né? Eu sabia perguntar preço, essas coisas, mas os caras eram todos chucros e eu deitava. (risos)

Como era a convivência dentro do grupo, havia alguma rusga, algo nesse sentido?
Não, não, o grupo era muito legal, os caras se davam muito bem, só o Kita que não muito, mas só pelo dia da palestra. O Kita estava na reserva, quem estava jogando era o Chicão, aí teve um dia em que o Picerni estava dando uma palestra e abriu para os jogadores que quisessem falar alguma coisa ou tivessem alguma pergunta. O Kita levantou a mão, ele era meio bronco e todo mundo ficou em dúvida sobre o que ele iria perguntar. Aí ele: “Professor, queria saber porque eu não estou jogando, já que o Chicão não faz gol há três jogos”. Todo mundo ficou meio assim, mas logo foi controlado, ele era gente boa, muito parceiro, brincalhão. O grupo era muito bom, mesmo tendo juntado gente de outros times, até hoje nós nos falamos, mais com o pessoal do Inter, mas temos contatos com todos. Falo com mais frequência com o Dunga, com o Mauro Galvão, com o Gilmar RInaldi...

E as cerimônias de abertura e de encerramento, como foram? O que você sentiu?
Eu estava nas duas, foi muito legal, a gente estava na Vila Olímpica, tem toda aquela preparação para ir no ônibus, fica aquela expectativa, você vê todo mundo entrando no estádio, vê o momento que acendem a tocha, baita de um show, espera o fim da tarde para acender, fica aquele cenário maravilhoso, todo mundo tirando foto. É uma baita farra. No encerramento foi mais bonito ainda, teve o show do Lionel Richie, que estava bombando naquela época. Vamos ver como vai ser no Brasil.

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