Então, veio a público que o atual diretor financeiro, Rogério Caboclo, já teria o apoio de 25 federações para sua candidatura à presidência da CBF. Como Del Nero está às voltas com sua iminente exclusão do futebol pela FIFA, o plano passou a ser eleger alguém de confiança na esperança de seguir mandando. Isto, desde que, uma vez no poder, Cabloco não o abandone, assim como Marin fez com Teixeira e Del Nero com Marin, largado à própria sorte, condenado e preso nos EUA.
Ou seja, pelo andar da carruagem, teremos um novo personagem na dinastia que começou quando Havelange elegeu seu genro "poste", que ficou 23 anos no comando. Vieram Marin, Del Nero e agora vem Caboclo. O novo chefão deve chegar ao poder sem que saibamos qual o seu projeto para nosso fut, sem um debate, sem oposição. É absurdo, mas é assim que funciona.
O fut br está hoje mais distante dos maiores centros - Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França - do que jamais esteve, por qualquer indicador. Perdemos de goleada em média de público, audiência de TV, faturamento dos clubes e interesse de patrocinadores. Sem contar que a violência segue afugentando o público dos estádios. E que somos exportadores de pé-de-obra, o que ajuda as ligas dos outros países a serem mais atraentes que a nossa.
E os vexames históricos recentes da Seleção? Esta turma não tem pudor e o povo brasileiro parece não ter sangue correndo nas veias. É preciso que o Ministério Público e a Polícia Federal tomem o caso da maior paixão do brasileiro a sério e invistam recursos para investigar, processar e condenar os que se escondem do FBI protegidos pelo fato que o Brasil não extradita seus cidadãos. Ora, não seria um belo exemplo numa hora em que se quer passar o país a limpo?
São os clubes e seus torcedores os que mais penam nas mãos desta infeliz dinastia. Especialmente os maiores clubes, que estão sob um calendário jabuticaba que os obriga a prejuízos para manter o poder da turma de cima.
Mas esta tragédia não ocorre somente pelo descaso de nossas autoridades. Não surpreende que os cartolas dos nossos clubes se portem em sua quase totalidade como cordeirinhos. Um evento marcante foi a assembleia que tirou peso dos votos dos clubes e deu mais poder às federações. Esta só foi contestada pela denúncia do deputado Otávio Leite, que pediu a nulidade da decisão ao MP, sem que houvesse uma manifestação até o momento. Nenhum clube ousou contestar o ato que lhes usurpou poder! Medo de represálias? Pode ser.
A verdade é que a estrutura política e amadora (no pior sentido) dos clubes associativos é da mesma natureza que as das federações e da CBF. Assim sendo, nem conseguem viabilizar ao menos um projeto de candidatura, apesar do estatuto da CBF exigir oito federações propondo o candidato. Omissos, serão meros expectadores no ato político que mais lhes afeta!
Nem o poderoso Flamengo, com suas finanças em dia, atua com a dignidade mínima em relação à sua madrasta. Seu presidente, Eduardo Bandeira, que deveria ser o mais apto a vocalizar oposição ao regime perverso, aceita ser chefe de missão da Seleção e sinaliza que com a CBF ninguém pode mesmo.
Nosso futebol de clubes está numa terceira divisão mundial. Para mudar esta triste realidade, somente uma nova estrutura de propriedade dos clubes, como em quase todas as partes do mundo. Organizados como sociedades empresariais, aí, sim, seus dirigentes vão agir no interesse legítimo de crescer seus clubes e terão que ter coragem para romper com esta ordem do atraso e da corrupção que parece não ter fim.