O monstro Primeira Liga foi inventado para poluir um pouco mais o nosso calendário, já conturbado por interesses distintos, principalmente das emissoras de TV, que precisam preencher suas grades com atrações ao vivo. Mas sua criação é fruto sobretudo dos lamentáveis desentendimentos políticos que atrasam eternamente o nosso futebol, como fazem questão de mostrar os cartolas, principalmente da dupla Fla-Flu.
Como é de conhecimento geral, o objetivo prioritário é confrontar entidades regionais e a CBF, o que deixa evidente que não há a preocupação imediata de sugerir soluções de verdade, mas a de alimentar mais polêmica, como se fosse necessário.
“A gente não quer guerra”, disse Fred Luz, dirigente do Flamengo. Quer sim. Os dois lados só pensam em conflito. Se a preocupação fosse com o futebol propriamente dito, estariam cuidando de promovê-lo, nesse momento propício que é o começo da temporada, e não em provocar discussões, arrancando a motivação do torcedor.
Pois a concepção do ser anômalo chamado outrora de Sul-Rio-Minas, ou se já lá o que for, reúne dirigentes veteranos, que estão de olho em vantagens ainda não esclarecidas, e amadores, que parecem perdidos entre o devaneio e a realidade. Na confusão, os estaduais, pelo que se supõe, serão relegados ao limbo, enquanto a tal competição, que tem nome de shopping, deixa a cabeça do torcedor delirando, sem saber exatamente do que se trata.
E os que desejam impedir a realização do natimorto frankenstein – prenúncio também de prejuízos formidáveis – teimam em não tentar tornar os estaduais racionais, ou seja, mais curtos e com maiores atrações, procurando valorizar os clássicos. Aliás, vale ressaltar que os estaduais também se tornaram deficitários porque torcedores e até a mídia também alimentam o tal "vale nada", impregnados pela cartolada.
É óbvio que os clubes, notadamente os gigantes, necessitam obter maior independência das federações. E que alguns dos dirigentes contrários ao monstro estão arraigados a modelos e conceitos superados. Daí a existência de campeonatos de raras atrações e por isso deficitários.
Logo, só se criará algo efetivamente novo, de interesse coletivo – interesse coletivo, leiam bem, de interesse coletivo – se ocorrer um entendimento geral, o que parece difícil, dada a intransigência de ambos os lados. No fim das contas, o torcedor acabará dando de ombros para as duas competições.
Pois então, senhores, refaçam conceitos, deixem as diferenças políticas de lado e criem algo do agrado de todos. Caso contrário, será uma guerra sem vencedores, e pior, continuaremos perdendo de sete da Alemanha.