OPINIÃO: ‘Todos têm sua parcela de culpa no dia da maior vergonha da história do futebol no Rio de Janeiro’

Vasco, Fluminense, Ferj, Maracanã, Poder Judiciário... Todos os envolvidos na polêmica sobre o setor sul do estádio na final da Taça Guanabara precisam refletir sobre o esporte

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Turma boa que segue a batida aqui no LANCE!. Depois da estreia desta coluna na edição da quarta-feira passada, queria desta vez falar de um tema alto astral, para cima, mas infelizmente mais um episódio triste marcou a história do futebol do Rio de Janeiro e até do Brasil. Uma briga de quinta série entre Vasco e Fluminense por quem ficaria no setor sul do Maracanã, na final da Taça Guanabara, domingo passado, com disputas judiciais, confusões nos arredores do estádio, crianças, mulheres e idosos no meio de brigas entre torcedores e policiais... Uma vergonha. Mas que todos têm a sua parcela de culpa para este acontecimento.

O Vasco está no seu direito pela tradição por conta da conquista no século passado, e o Fluminense também está no seu direito pelo contrato estabelecido com o Complexo Maracanã. Isto nem contesto. Nem entro neste mérito. Mas não poderiam resolver a questão em comum acordo, representando à altura o tamanho e a história que os clubes possuem? Precisam ter em mente que o futebol é de paz, amor, que a disputa é só nos 90 minutos de bola rolando. Precisam ter em mente que a segurança de todos os envolvidos no espetáculo deve estar em primeiro lugar. E o que resolveram fazer? Foram ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), já que incapazes foram de resolver sozinhos. 

O Judiciário já tem tanta coisa mais importante para se preocupar, mas precisou se manifestar sobre o caso, um caso tão infantil, digamos assim. A desembargadora Lúcia Helena do Passo, no plantão do TJRJ de sábado para domingo, mandou que a final da Taça Guanabara fosse em portões fechados. A magistrada criticou “manifestações públicas de representantes e dirigentes de clubes que acirram o conflito posto e, agressivamente, incitam a violência entre os torcedores, afastando-se dos ideais desportivos” – na véspera, Pedro Abad, presidente do Fluminense, falou que iria para a “guerra” (a expressão não foi a das melhores, apesar de bem explicada posteriormente pelo mandatário). Mas com todo respeito que tenho a desembargadora e ao Poder Judiciário, decisão foi desproporcional. Deveria ter deixado os portões abertos, mas aplicando maiores multas caso entendesse sobre quem deveria ficar ou não no setor sul.

Já no domingo, mesmo com a decisão de portões fechados em vigor, após reunião com a Federação de Futebol do Rio (outra omissa, deveria ter intermediado um acordo e não ter deixado chegar na situação que chegou), o Vasco, pelas redes sociais, anunciou que os portões seriam abertos às 15h. Descumprindo, no momento, assim, determinação da Justiça. Isto não poderia ter sido feito. Entendo e até compartilho da mesma opinião do clube e do presidente Alexandre Campello sobre a final com público - é inadmissível se pensar em uma final de campeonato com portões fechados, inadmissível -, mas nunca se descumpre decisão judicial. Por que não adiou em umas horas o jogo? Buscassem uma solução! Não poderiam ter deixado a vergonha acontecer. Coloco nesta conta de culpa até o Complexo Maracanã, que deveria ter sido mais ativo na questão.

A bola rolou, as infelizes cenas lamentáveis foram vistas (nem preciso discorrer sobre elas, todos já viram) e apenas na metade do primeiro tempo, com nova decisão judicial, os portões foram abertos. Repito: por que não adiou em umas horas o jogo? Tentava uma liminar em Brasília, batia o pé para transferir o jogo para um outro dia, entrassem em um acordo para o jogo e assim que acabasse, voltavam a discutir nos tribunais, com devidas reparações, penas, pedidos... O único fato é que não poderiam ter deixado acontecer era a briga. Gás de pimenta, tiros de borracha, correria... Torcedores trocaram a experiência de felicidade por suas equipes na final pelo medo por minutos. Tudo pela irresponsabilidade dos envolvidos em sua briga de quinta série. 

Devemos observar, agora, as consequências da vergonha do domingo. O Judiciário deve se manifestar sobre o caso de novo, a Justiça Desportiva já se manifestou com a denúncia do procurador-geral André Valentim, a Ferj emitiu resolução falando que os próximos jogos de Vasco e Fluminense, em torneios que comandar, serão realizados somente com prévio acordo entre os clubes sobre o setor sul - por sinal, tarde demais hein dona Ferj, deveriam ter feito isto antes da confusão!...Vamos crescer, turma boa. Em pleno 2019 não é possível que brigas tão pequenas ganhem uma proporção enorme, acabando cada vez mais com o nosso querido futebol carioca. Será que as lições foram aprendidas? Vasco, Fluminense, Ferj, Maracanã, Poder Judiciário... Todos precisam refletir sobre o esporte, já que todos saíram perdendo.

Fico por aqui. Espero que na próxima edição possa trazer um tema mais agradável para quem segue a batida do esporte. Até quarta-feira que vem!

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