Flamengo e Palmeiras têm se destacado como as duas maiores forças do futebol brasileiro. São duas Libertadores para cada clube, além de Brasileiros, Copas do Brasil, Supercopas e Estaduais. O futebol brasileiro, porém, já viu grandes hegemonias desabarem. Especialistas apontam que uma “bolha financeira” pode estourar em breve pela entrada de um dinheiro que não estava previsto, proveniente de um plano agressivo de marketing por parte das casas de apostas. Mas os dois rivais devem sofrer menos com a vulnerabilidade do mercado.
➡️ Clubes brasileiros caminham para estourar ‘bolha’ financeira com gastos insustentáveis
— O impacto da inflação no futebol pode ser comparado ao de uma crise financeira sobre pessoas físicas. Quem está mais alavancado ou tem menos recursos sente o impacto com mais intensidade, enquanto os mais organizados financeiramente sofrem menos. Durante a pandemia, esse cenário ficou evidente. Palmeiras e Flamengo são clubes que possuem sustentabilidade financeira e, por isso, enfrentam melhor esse momento — explicou Pedro Daniel, diretor-executivo de esporte e entretenimento da EY.
Além dos diversos títulos conquistados nos últimos anos, que turbinaram o caixa alviverde com premiações por conquistas, o Palmeiras virou referência na venda de jogadores. Estêvão foi comprado pelo Chelsea por um valor que pode chegar a R$ 358 milhões, sendo R$ 262,1 milhões fixos. Já Endrick foi vendido por R$ 198 milhões fixos, com pagamento parcelado, e R$ 141 milhões em bônus de acordo com desempenho. Esse valor totaliza aproximadamente R$ 340 milhões.
— O Palmeiras hoje consegue fazer tudo bem do ponto de vista esportivo. Tem boas receitas de televisão, de transmissão, mas por conta do desempenho. Tem um estádio que permite uma boa receita de bilheteria e sócio-torcedor. Tem um bom contrato com o patrocínio, mas aí sofre um pouco por conta da questão da bolha. Aqui é uma bet que está fazendo parte do processo. É um risco. Sempre pode deteriorar com o tempo. Está falando de um clube associativo e todos eles têm altos e baixos. Mas hoje acho que é um clube que tem um comportamento de receitas um pouco mais equilibrado do que a média. Gasta realmente de uma maneira mais eficiente do que a média — analisou César Grafietti, economista, sócio da consultoria Convocados, especialista na análise financeira dos clubes brasileiros.
Palmeiras e Flamengo são os elencos mais valiosos da Libertadores, com R$ 1,4 bilhão e R$ 1,2 bilhão, respectivamente. O Verdão, inclusive, surpreendeu o mercado e fez as maiores contratações da última janela de transferências. Para ter Vitor Roque, o time paulista desembolsou 25,5 milhões de euros (cerca de R$ 154 milhões).
— O Palmeiras tem conseguido monetizar sua base de forma eficiente. As recentes vendas de jogadores como Endrick e Estevão geraram receitas substanciais. Apenas essas duas operações representam algo entre 600 e 700 milhões de reais, um valor superior à receita anual do São Paulo. Isso dá ao clube capacidade de investir pesado, como na contratação recorde de Vitor Roque. Ambos os clubes têm mais margem de erro e podem se sustentar mesmo diante de alguns equívocos — afirmou Pedro Daniel.
Embora não tenha tido tanta voracidade para contratar, o Flamengo ainda lidera a maioria dos quesitos na comparação com o Palmeiras. Em patrocínio, o Flamengo arrecada R$ 250 milhões com Pixbet e Adidas. O Palmeiras, com Sportingbet e Puma, chega aos R$ 200 milhões. Em 2023, o Flamengo apresentou uma receita total de R$ 1,375 bilhão, enquanto o Palmeiras alcançou R$ 927 milhões.
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Nos contratos de TV, o Flamengo teve uma arrecadação de R$ 290 milhões em 2023 e projeta entre R$ 220 e R$ 245 milhões para 2025, enquanto o Palmeiras recebeu R$ 180 milhões em 2023 e espera valores entre R$ 190 e R$ 210 milhões em 2025.
No quesito patrocínio, o Flamengo garantiu R$ 250 milhões tanto para 2024 quanto para 2025, ao passo que o Palmeiras, que obteve R$ 131 milhões em 2024, prevê um aumento para R$ 200 milhões em 2025.
Já na receita com placas de publicidade, o Flamengo arrecadou R$ 45 milhões em 2023 e projeta R$ 66 milhões para 2025, enquanto o Palmeiras subiu de R$ 26 milhões em 2023 para uma estimativa de R$ 63 milhões em 2025.
— O Flamengo é extremamente superavitário e tem dinheiro em caixa. Isso permite ao clube manter a estabilidade mesmo cometendo alguns erros em contratações e investimentos. Ele tem uma margem de erro maior que os outros — explicou Pedro Daniel.
Uma possível crise financeira traria para o Brasil um cenário onde os clubes não devem conseguir bancar os custos dos elencos. Assim, Palmeiras e Flamengo devem sofrer menos quando a bolha estourar.