Em texto anterior a este, o signatário propunha sete ações para o melhor desenvolvimento do calendário do futebol brasileiro. A primeira delas era a adequação do calendário nacional ao calendário europeu – que, diga-se, não é apenas europeu, mas mundial, uma vez que o mundo desenvolvido do futebol adota o modelo europeu de calendário, menos o Brasil.
Estabelecer o calendário europeu no futebol brasileiro, de Julho de um ano a Junho do ano seguinte, não é assumir a condição de colonizado, mas promover uma melhoria estrutural importante para nosso futebol, por três motivos.
O primeiro motivo é que, com a adequação ao calendário europeu, há mais datas para a realização dos certames e, com isso, se evita o execrável encavalamento de datas de competições completamente díspares entre si.
O raciocínio é simples: no calendário tradicional, pode haver um mês de férias dos jogadores, um mês de pré temporada, um mês de interrupção para competições de seleções (Copa América, Copa das Confederações, Copa do Mundo) e, consequentemente, nove meses para as competições de clubes; já no calendário europeu, pode haver um mês de férias dos jogadores, um mês de pré temporada e, consequentemente, 10 meses para as competições de clubes – não é necessário interromper o período de competições de clubes para as atividades de seleções, pois estas acontecem na época das férias e da pré temporada. Portanto, o calendário europeu propicia 10 meses de atividades aos clubes, enquanto o calendário tradicional propicia nove meses de atividades aos clubes. Não há necessidade de encavalar nada.
Sempre haverá quem argumente que pode haver 10 meses de atividades para os clubes mesmo no calendário tradicional, basta que as competições de clubes sigam normalmente quando houver competições de seleções. Essa prática, no entanto, é nociva, pois haver competições de clubes e competições de seleções que correm em simultâneo é fazer umas tirarem a atratividade das outras. Ademais, como não parar competições de clubes em ano de Copa do Mundo, por exemplo?
O segundo motivo é que se propicia que os grandes clubes brasileiros possam excursionar, na pré temporada, no mês de Julho, período propício para tal. No calendário tradicional, os clubes excursionam em Janeiro, e excursionar em Janeiro não permite que os grandes clubes brasileiros possam se confrontar com Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Milan, Benfica e etc, pois estes grandes clubes estão em atividade em seus certames. Jogar com os grandes mundiais, o que pode ser feito em Julho, é importante para os grandes clubes brasileiros, seja em termos técnicos, seja em termos comerciais.
O terceiro motivo é que, com a adoção do calendário europeu, se evita que os clubes brasileiros desmanchem seus elencos em meio à temporada, pois a "janela" de transferências do meio do ano faz com que jogadores brasileiros se transfiram para outros países, desfalcando o elenco dos clubes com a temporada em curso.
Sempre haverá alguém para lembrar que também há “janela” de transferência no início do ano e, portanto, o problema persistiria com a inversão do calendário. Falso: a "janela" de início de ano é muito menos invasiva para os clubes brasileiros do que a "janela" de meio de ano. Afinal, no início dos anos, os clubes de outros países já têm o grosso de seus elencos definidos, fazem contratações apenas pontuais.
Pelo demonstrado, adequar o calendário do futebol brasileiro ao calendário europeu é algo salutar. É chegado o momento de nossos gestores perceberem isso.
*Luis Filipe Chateaubriand é Consultor de Conteúdo do Bom Senso Futebol Clube e Autor da Obra "Um Calendário de Bom Senso para o Futebol Brasileiro"
E-mail: luisfilipechateaubriand@gmail.com