Torcida única em jogos na Argentina não diminuiu mortes por brigas​

Levantamento feito por ONG Salvemos el Fútbol aponta 36 mortes ligadas ao futebol mesmo depois que clubes passaram a se enfrentar sem a presença de torcida visitante

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A proibição de torcida visitante, que será implantada nos clássicos paulistas, não é novidade na Argentina. Para especialistas em violência no futebol do país, não passa de medida paliativa. Uma tentativa de dar resposta à sociedade quando acontece algum crime. Exatamente como houve no domingo, antes do clássico entre Palmeiras e Corinthians, Organizadas dos dois clubes brigaram em quatro pontos diferentes da cidade e uma pessoa morreu.

– Talvez as autoridades da cidade usem este período sem visitantes para melhorar a segurança. Não foi o que aconteceu aqui (na Argentina). A Justiça precisa se ajustar, a polícia dever usar a inteligência. O torcedor violento só tem medo da cadeia. E aqui, os casos de mortes ficam impunes - explica Monica Nizzardo.

Monica é fundadora da ONG Salvemos el Fútbol, que existe desde 2006 para combater a violência nos estádios.

O futebol dos hermanos começou a flertar com a torcida única nas partidas em 2007. Passou a ser regra em julho de 2013, quando um torcedor morreu atingido uma bala de borracha disparada por policial à queima-roupa.

A decisão não acabou com as brigas entre os barras bravas (como são chamados os núcleos das organizadas por lá). Nem diminuiu. Segundo dados da ONG, desde então aconteceram 36 mortes no futebol argentino.

– O Brasil parece ter o mesmo problema. Se as brigas ocorrem longe dos estádios, é preciso acompanhar os torcedores. É necessário haver rigor e não abrandar punições. Na Argentina, tem sido uma luta muito complicada. Muito difícil - ressalta ela.

O que Monica insiste é que não basta querer dar uma resposta imediata, de impacto, e esquecer todo o resto. O combate à violência no futebol é longa e árdua.

– De que adianta proibir a torcida visitante apenas? Isso resolve o problema? Se marcam brigas longe do estádio (como acontece na Argentina), não resolve. Isso sem falar que o futebol é um espetáculo público e cultural. As pessoas têm o direito de ir - finaliza.

Monica Nizzardo está lançando com o advogado Mariano Bergés o livro “Salvemos el Fútbol -10 anos de lucha” (Salvemos o Futebol - 10 anos de Luta), sobre a história da ONG e também a busca de soluções para os barras bravas.

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