Interpretação e pressão externa: os pontos que geram debate no VAR
Reclamação de jogadores, ironia de técnicos, treinadores irritados... o árbitro de vídeo ainda que gera debate - com ou um sem fundamento - no Brasil e o LANCE! mostra pontos
O VAR foi protagonista nas finais estaduais que aconteceram neste domingo. Entre reclamações, soluções e até piada pelo desligamento elétrico, o árbitro de vídeo ficou marcado na decisão do Campeonato Carioca - anulando o gol de Bruno Henrique -, no Paulista - com gritos de vergonha - e em outros estados. O LANCE! mostra alguns pontos que tem virado debate, nestas e em outras partidas no futebol brasileiro. Confira!
A DECISÃO É DE QUEM?
A utilização do VAR é clara nesse sentido: a decisão final é do árbitro de campo, mas os auxiliares podem ajudá-lo na marcação. Dentro das quatro linhas, no entanto, uma das principais reclamações é que o árbitro já está intencionado a mudar de posição quando é acionado pelo recurso. Caso de Felipão, técnico do Palmeiras, que reclamou na semifinal do Campeonato Paulista.
- Eu já disse uma vez, que não tem o que falar. Todos estão vendo que quem manda no jogo é quem está na cabine. Se assobiar na cabine, o cara troca aqui. O árbitro não manda mais nada, zero, ele não toma decisão nenhuma. Ele está esperando que o lá de cima fale alguma coisa. Ele não tem autoridade mais nenhuma. Zero. Não é pelo jogo de hoje. Está sendo assim em todo lugar. Aqui, no Rio - declarou.
DEMORA PARA TOMADA DE DECISÃO
Foram três minutos e 12 segundos de demora para os auxiliares de vídeo analisarem o lance em que foi anotado impedimento do atacante Deyverson no empate por 0 a 0 contra o São Paulo, no Allianz Parque. Isso gerou reclamação no Campeonato Paulista, mas é um problema nacional - muito pela falta de costume com o recurso.
Ainda se demora muito para tomar decisões. Os 192 segundos superam o tempo considerado ideal pela Fifa, que é de menos de 60 segundos. Entretanto, o relatório de utilização do VAR apresentado pela Fifa mostra que se perde mais tempo com tiros de meta, cobranças de falta e laterais que na utilização do recurso.
LANCES INTERPRETATIVOS
Esse tem sido - de longe - o principal problema dos árbitros porque, claramente, não há uma decisão matemática. Interpretação não é sim ou não, é talvez. E o talvez no futebol brasileiro, historicamente, é carregado de confusão, polêmica e reclamação. No Campeonato Carioca, dois lances interpretativos viraram problemas para o VAR.
Na semifinal da Taça Rio, o gol de Léo Santos, do Fluminense, contra o Flamengo, foi anulado devido uma suposta falta de Matheus Ferraz no lance. A decisão dividiu opiniões, mas o árbitro viu falta. Assim como na decisão do torneio, neste domingo, onde o tento de Bruno Henrique foi anulado por impedimento, mas muitos defendem que a rebatida de Werley iniciou uma nova jogada.
VELOCIDADE VISTA NO VAR
O Cruzeiro sofreu um enorme prejuízo durante o jogo contra o Boca Juniors, pelas quartas de final da Libertadores. Depois de um choque entre Dedé e Andrada, o zagueiro da Raposa acabou expulso pelo árbitro Eber Aquino. O cartão vermelho saiu após o VAR ser acionado.
Mas, a polêmica foi pela velocidade em que o árbitro viu o lance. Nas câmeras que mostraram o replay, ficou claro que a velocidade - mais lenta que o normal - deram a entender que o choque foi intencional. Pouco depois, isso foi corrigido e os lances em velocidade normal também passaram a ser exibidas.
QUALIDADE DE IMAGEM NO VAR
No Campeonato Paulista, a FPF classificou a jogada do gol do Novorizontino, que abriu o placar no empate por 1 a 1 contra o Palmeiras, como normal por não ter toque de braço de Murilo Henrique na bola. A Federação divulgou vídeo com ângulo específico para sustentar a tese, mas o Palmeiras reclamou de forma acintosa.
O ângulo apresentado foi diferente do usado pelo clube paulista para se queixar de que a arbitragem não deveria ter validado o gol. Além disso, a qualidade da imagem - muito baixa quando comparado com a televisão - chamou atenção. Na sequência, voltou a chamar o torneio de "Paulistinha".
TUMULTUO ENTRE JOGADORES E TÉCNICOS
Mesmo com o VAR, a reclamação rola solta no futebol brasileiro. Tudo é motivo para questionar a decisão ou pedir para o arbitro observar o vídeo. Isso tem criado um clima de nervosismo nas partidas em que o recurso está presente - principalmente fases finais de torneios. Os próprios técnicos tem sido advertidos com frequência pela exaltação durante as partidas.
No documento divulgado pela Fifa, diz que o jogador que pedir o uso do VAR sem a concordância da arbitragem pode ser punido com cartão amarelo, mas isso é pouco visto no Brasil. Por outro lado, rodinhas de reclamações são frequentes a cada partida. O árbitro acaba virando um refém da ferramenta.
PRESSÃO NOS ÁRBITROS
Incomodada com o clima hostil em torno dos árbitros, a Ferj alterou o posicionamento do monitor do árbitro de vídeo no Maracanã. Inicialmente presente na saída do túnel de acesso ao vestiário, a tela foi instalada na linha lateral oposta. No Fla-Flu da semifinal da Taça Rio, ambos os bancos ficaram pressionando o árbitro durante as suas revisões.
COMEMORAÇÕES EM VÃO
Luan, do Atlético-MG, teve dois gols anulados contra o Boa Esporte, na semifinal do Campeonato Mineiro. Pouco depois, disparou contra o recurso, dizendo que "não sabe se comemora o gol ou não". Essa reclamação não é de agora, tendo outros jogadores que também questionaram sobre o atraso nas comemorações de gols no futebol brasileiro.