Há vagas. O papel de ídolo paralímpico com alcance mundial está disponível. O ex-ocupante da função, o sul-africano Oscar Pistorius, fenômeno do atletismo, não veio aos Jogos Paralímpicos do Rio. E agora? Há espaço para que outros assumam a função.
Esta é a primeira edição de Paralimpíada que Pistorius não disputa desde que aquele corredor, ainda com 17 anos, faturou a primeira medalha de ouro, em Atenas-2004. O fenômeno se espalhou mundialmente. O ápice foi ser o primeiro atleta amputado a participar dos Jogos Olímpicos. Mas o assassinato da namorada, em 2013, e a condenação à prisão interromperam a carreira.
– Oscar obviamente faz falta. Eu digo pelo que ele fez pelo esporte não só no nosso país, mas no mundo – disse o sul-africano Arnu Fourie.
Pistorius ainda aparece como herói paralímpico na biografia de alguns dos que estão no Rio, como os nadadores Jendi Pangabean, da Indonésia, e Francesco Bocciardo, da Itália, e outros competidores do atletismo, como o chinês Zhenyu Chen e o indiano Narender Ranbir.
Mas candidatos a novo fenômeno mundial não faltam. A começar pelo nadador brasileiro Daniel Dias.
– Daniel Dias é o nosso grande nome, pela quantidade de medalhas que ele pode conquistar – analisou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons.
No próprio atletismo há potenciais – e reais – fenômenos. O irlandês Jason Smyth, por exemplo. Ele está prestes a repetir o jamaicano Usain Bolt. Smyth tem a dobradinha de ouros nos 100m e 200m na categoria T13 desde Pequim. Ele chega à terceira Paralimpíada e ontem mesmo garantiu o ouro nos 100m. Faltam só os 200m para o feito.
– É um conto de fadas que eu não quero que termine. Mas não me considero uma lenda – diz ele.
O alemão Markus Rehm, do salto em distância, o inglês Jonnie Peacock, campeão dos 100m T44 em Londres, são outros exemplos.
Mas o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês), está preparado para adotar uma estratégia, caso ninguém fique tão famoso quanto Pistorius.
– É claro que é uma perda, mas não é uma perda que vai ferir de morte o esporte paralímpico. Muito mais importante do que ter um único ídolo global, que era o caso dele, é ter dezenas de ídolos nacionais. É nisso que a gente, do ponto de vista do Comitê Paralímpico Internacional, começou a apostar. De repente,, no Brasil não se conheça tanto o britânico Jonnie Peacock, que foi medalhista nos 100m em Londres. Mas lá ele é um nome bastante forte. Daniel Dias talvez não seja tão conhecido na Alemanha, mas aqui ele é extremamente respeitado, até pelos pares dele do movimento olímpico – comentou Andrew Parsons, que também é vice-presidente do IPC.
O QUE DIZEM OS ATLETAS:
Arnu Fourie (AFS), velocista
"Eu digo por aquilo que ele fez pelo esporte não só no nosso país, mas no mundo. O que ele fez ninguém jamais pode tirar dele. Há espaço para novas pessoas aparecerem. Mas jamais haverá outro Oscar Pistorius. Não é preciso ser Oscar. Cada pessoa pode escrever a história com seu próprio nome".
Markus Rehm (ALE), salto em distância
"Oscar foi um dos pioneiros dos esportes paralímpicos, então isso leva todo mundo a ele. Quando alguém faz o próprio nome é o "novo Oscar". Mas o Markus quer ser conhecido como Markus Rehm. Ele quer escrever o próprio nome, a própria história e quer ser conhecido como Markus Rehm, o saltador em distância e não como outro Oscar Pistorius".
Fábio Bordignon (BRA), velocista 100m T35
"A ausência dele é uma falta que faz, até porque é um ícone do paradesporto. Mas acredito que outros atletas podem representar bem esse papel de ícone. No caso do Brasil no atletismo, temos a Terezinha, o Alan Fonteles, diversos atletas que podem ser ídolos mundiais. Foi uma surpresa para todos, mas já ficou velho o assunto".
Ariosvaldo Silva (BRA), 100m T53 (em cadeira de rodas)
"Eu diria que no time brasileiro tem várias pessoas que podem estar nessa situação. A equipe brasileira é admirável".