Nos últimos dias, um tema vem gerando polêmica no futebol europeu: o aumento do número de partidas por temporada. Na segunda-feira (14), a Federação Internacional das Associações de Futebolistas Profissionais (FIFPro) e as principais ligas europeias chegaram fazer uma denúncia contra a Fifa à Comissão Europeia por causa da quantidade de partidas do calendário europeu.

O grupo pontua que o calendário imposto pela entidade é insustentável, que ele impacta a saúde, o bem-estar e a longevidade dos atletas, além de ameaçar a sustentabilidade econômica e social e estabilidade das competições nacionais.

As reclamações sobre a quantidade já vinham acontecendo discretamente há alguns anos, mas mudanças em competições importantes se tornaram o estopim para uma movimentação mais intensa por parte de clubes, ligas e atletas. Uma delas é a mudança no formato do Mundial de Clubes. Essa alteração é, inclusive, citada na denúncia feita à Comissão Europeia.

Reformulada para 2025, a competição passa a acontecer no meio do ano com duração de quase um mês (de 15 de junho a 13 de julho de 2025). O Mundial contará com a participação de 32 times e vai passar de 7 jogos para 63. Além do desgaste com o aumento no número de jogos, os clubes também demonstraram preocupação com o comprometimento do período que era usado para realização da pré-temporada das equipes.

Mudanças na Champions League

Outra competição que sofreu mudanças foi a Champions League. O número de participantes sobiu de 32 para 36 clubes e a fase de grupos deixou de existir, dando lugar à fase de liga, com oito jogos. Se classificam para as oitavas de final os oito primeiros colocados. As equipes que ficarem entre a  9º e a 24º colocações disputarão um play-off, com jogo de ida e volta, para decidir quais as outras equipes que passarão para as oitavas.

E não para por aí, a Liga das Nações da UEFA também ganhou novos jogos na edição 2024/25. Foi criada uma nova fase eliminatória para ser disputada em março de 2025, criando uma continuidade entre a fase de grupos, que termina em novembro, e a fase final, disputada em junho. Assim, agora os vencedores e os segundos colocados dos grupos disputarão essas quartas de final para ai, sim, disputarem semifinal e final.

- Em inúmeras discussões e visitas aos vestiários, recebemos as mesmas mensagens por um longo período de tempo, de que eles estão jogando demais e não têm tempo suficiente para se recuperar. Antes da pior temporada de todos os tempos em termos de carga de trabalho, muitos também decidiram falar em público com a mesma mensagem: chega - disse o presidente da FIFPro, David Terrier, um dos responsáveis pela denúncia.

Sede da Fifa (Foto: Divulgação/Fifa)

Ameaça de greve de jogadores

Há cerca de um mês, pairou pelo futebol europeu até mesmo a possibilidade de uma greve feita por atletas insatisfeitos com a mudança no calendário.

Um dos principais jogadores da atualidade, Rodri, meia do Manchester City e da seleção espanhola, falou, em uma entrevista coletiva antes da estreia de seu time na Champions desta temporada, sobre as chances dos jogadores entrarem fazerem uma paralisação.

- Acho que estamos próximos disso. É fácil de entender. Se perguntar para qualquer outro jogador, vai dizer o mesmo. Se continuar assim, chegará um momento em que não teremos outra opção. É algo que nos preocupa porque somos os caras que sofrem- e continuou.

- Na minha humilde opinião, acho que é demais. Nós ou alguém tem que cuidar da gente, porque somos os principais personagens deste esporte, ou negócio, ou seja lá como queira chamar. Nem tudo é dinheiro ou marketing, é também a qualidade do show. Quando estou descansado, jogo melhor. Se as pessoas quiserem ver um futebol melhor, precisamos descansar. Quando o número de jogos começar a aumentar, o desempenho e a qualidade diminuem - declarou o meia.

Rodri, meio-campo do Manchester City e da seleção espanhola, em entrevista coletiva (Foto: Oli Scarff/AFP)

Outros nomes de peso como os jogadores Dani Carvajal, Thibaut Courtois, Bernardo Silva e até técnicos como Pep Guardiola e Carlo Ancelotti já demonstraram preocupação com o calendário. O técnico do Real Madrid chegou a declarar que o clube estuda a possibilidade de dar férias aos jogadores durante a temporada para aliviar a carga de trabalho.

- Os jogadores precisam descansar, por isso estamos pensando em dar férias individuais ao longo da temporada. É algo que estamos avaliando com a equipe médica e os treinadores - disse Ancelotti.

Comparação com a temporada brasileira

A quantidade elevada de partidas por temporada que tem assustado os clubes europeus é uma velha conhecida dos times brasileiros. O Lance! Biz fez um cálculo que aponta que, se o Real Madrid conseguir chegar às finais de todas as competições que participará na temporada 2024/25, ele fará o mesmo número de jogos que o Flamengo fará neste ano.

O clube espanhol participará nesta temporada de cinco competições: La Liga, Champions League, Supercopa da Uefa, Supercopa da Espanha, Copa do Rey e Mundial de Clubes.

Do seu primeiro jogo, em 31 de julho, quando enfrentou o Milan em um amistoso, até o mais recente, contra o Borussia Dortmund na terça (22), o Real Madrid já disputou 17 partidas.

Deste fim de semana até o final da temporada no meio de 2025, a equipe de Ancelotti pode disputar mais 58 jogos, o que totalizaria 75 partidas numa mesma temporada.

Gabigol comanda festa da classificação do Flamengo sobre o Corinthians na Copa do Brasil (Foto: Ettore Chiereguini/AGIF)

Já o Flamengo, em 2024, foi campeão carioca, tendo disputado 15 jogos na competição. Ele está no Brasileirão, portanto, são mais 38 jogos na conta. O Rubro-Negro também está na final da Copa do Brasil, o que acrescenta 10 jogos à lista. Ele disputou a Libertadores até as quartas-de-final: mais 10. E ainda fez duas partidas amistosas no início da temporada, totalizando as mesmas 75 partidas.

Vale lembrar que, se o Flamengo tivesse chegado à final da Liberta, três partidas seriam acrescentadas a essa lista e a conta chegaria a 78 jogos no ano.