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Criação de programa para detecção de talentos é vital para o futuro do esporte

Especialistas e dirigentes defendem a criação de uma política nacional para a detecção dos talentos

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Gabriel Tiburcio vence os 100m e os 200m no Campeonato Brasileiro Interclubes Loterias Caixa Sub-18 de Atletismo (Foto: Gustavo Alves/CBAt)

Mariane Ribeiro - 17/10/2024 - 19:36

Mariane Ribeiro - 17/10/2024 - 19:36

A detecção de talentos esportivos é fundamental para a expansão da atuação de um país em esportes de alto rendimento. Diferentemente de países como Estados Unidos e Canadá, que fazem um investimento pesado para a detecção e desenvolvimento de atletas nas escolas, no Brasil, a descoberta de talentos é feita, principalmente, por clubes privados.

Especialistas e dirigentes defendem a criação de uma política nacional para a detecção dos talentos que conte com a inclusão do esporte na primeira infância por meio de políticas públicas vindas do poder municipal. Eles também destacam a importância da massificação da participação de comunidades, instituições e clubes menos favorecidos em competições para ampliar a capacidade de prospecção de talentos no Brasil.

- Existe uma miopia do poder público com relação às políticas públicas relacionadas ao esporte. Os casos de projetos são casos isolados - aponta Fabiana Bentes, fundadora e presidente do Instituto Sou do Esporte.

Além de ajudar na descoberta de novos atletas, a inclusão do esporte ainda durante a infância, também traz benefícios que vão além da parte esportiva.

- É importante dizer que a política pública do esporte transcende a detecção de talentos. Ela é importante também para questão da saúde mental, da prevenção à gravidez precoce, da melhoria do ambiente familiar, da melhoria do ambiente escolar e até da saúde em si, por meio de uma alimentação melhor. Ela causa uma melhoria na qualidade de vida de crianças, adolescentes e jovens como um todo - defende Fabiana.

Pinheiros campeão CBI Sub-19 masculino 2024

Pinheiros é campeão do Campeonato Brasileiro Interclubes de Basquete Masculino Sub-19 de 2024 (Foto: Divulgação/CBB)

Como criar um programa nacional de detecção de talentos esportivos

Para a fundadora e presidente do Instituto Sou do Esporte, a criação de um programa nacional de detecção de talentos passa por quatro etapas que precisam ser implantadas pelo poder municipal.

- O primeiro passo efetivamente é que a gente crie uma política nacional de inclusão do esporte na primeira infância como experimentação. É a gente começar a oferecer diversas modalidades nas escolas e nos ambientes públicos sociais. Aí, no início da adolescência, a partir de 10 anos, criemos oportunidades reais de prática da modalidade que, não necessariamente vai ser eleita naquele momento pela criança, mas que já vai dar um norte do que essa criança gosta - explica Fabiana Bentes.

O passo seguinte seria criar parcerias entre o poder público e organizações socias ou voluntárias das comunidades buscando capacitação dessa rede para o oferecimento das modalidades.

O ponto seguinte passa por um agente muito conhecido no mundo do esporte: os olheiros.

- Com a violência, hoje os clubes não vão mais para dentro de um Complexo da Maré, de um Complexo do Alemão, de uma Paraisópolis para achar essas crianças. Então elas têm que ter acesso a esses clubes porque esse distanciamento dificulta enormemente a detecção de talentos. O talento é massificação para tirar um ou dois. Se você não massifica ou se isola o local de detecção, você perde muitos talentos - afirma Fabiana.

Um bom exemplo para ilustrar o que Fabiana explica é a descoberta de talentos na natação, esporte tipicamente praticado em clubes privados. São raros os casos de piscinas acessíveis em áreas vulneráveis. Assim, é mais difícil que crianças dessas áreas consigam ser iniciadas no esporte e tornem-se atletas de alto rendimento.

O último passo indicado pela presidente do Instituto Sou do Esporte fala sobre a participação desses times, equipes e atletas, formados nesses projetos, em competições oficiais.

- As competições oficiais em âmbito municipal precisam abrir para comunidades. Por exemplo, é preciso ter a equipe de vôlei do Complexo da Maré, a equipe de vôlei da Rocinha, não só do Flamengo, do Botafogo, do Vasco porque aí você massificaria a competição e daria oportunidade para essas crianças entrarem no circuito oficial e serem devidamente olhadas sem que haja a necessidade extra dela ter que treinar em locais distantes de suas residências.

Como funciona atualmente

Se não é o poder público quem proporciona meios para a descoberta desses talentos, quem investe? Os clubes. Normalmente, os talentos são descobertos nos próprios clubes, nas escolas pelos professores ou em jogos escolares e da juventude. Aquela criança, então, é integrada a um desses clubes para participar de uma equipe esportiva que dê condições a ela de se desenvolver.

No Brasil, os clubes contam a ajuda do Programa de Formação de Atletas do CBC (Comitê Brasileiro de Clubes) que atua basicamente em três eixos.

- O primeiro eixo é o de Investimentos, que repassa recursos aos clubes para que as entidades comprem material esportivo, equipamentos e uniformes. O segundo é de Recursos Humanos, em que o CBC ajuda o clubes a contratar equipes técnicas e multidisciplinares. Hoje já são 800 profissionais em clubes de todo o Brasil que têm seus salários pagos por meio dos recursos do programa de formação - explica Emerson Luiz Appel, gestor de Esportes e Relações Institucionais do Comitê Brasileiro de Clubes.

Há ainda um terceiro eixo, o de Competições.

- Nós temos parceria com as Confederações e Ligas Nacionais para apoiar os atletas, comissões técnicas, árbitros, coordenadores técnicos para a realização de 274 campeonatos brasileiros interclubes, que envolvem desde campeonatos de base até competições profissionais - conclui Emerson.

Os valores que são utilizados pelo CBC no Programa de Formação vêm do rateio da verba arrecadada nos concursos das loterias. Além dos três eixos citados, o Comitê também auxilia os atletas com o pagamento de passagens aéreas para participação em competições.

Na tentativa de ajudar também associações e projetos de menor porte, o CBC também desenvolveu a categoria Clube Aspirante, na qual o clube que aderir garante participação de dois atletas em competições nacionais, além do pagamento das passagens aéreas.

A associação ainda promove Fóruns Estaduais de Formação Esportiva por todas as unidades da federação para conscientização sobre Programa de Formação de Atletas.

Ex-jogador de vôlei André Heller no Fórum de Formação Esportiva Distrito Federal 0910

Ex-jogador de vôlei André Heller no Fórum de Formação Esportiva Distrito Federal (Foto: Divulgação / CBC)

- A gente tem tentado fazer uma política de investimento na formação esportiva de forma alinhada. Claro que ainda é pouco pelo tamanho do país, mas hoje a gente já faz muita diferença. Para ter uma ideia, 90% dos atletas que foram para as Olimpíadas de Paris são provenientes de clubes do Programa de Formação de Atletas - revela Emerson.

O Instituto Sou do Esporte também tem trabalhado para auxiliar a reestruturação do esporte brasileiro com foco na gestão e na governança.

O clube com atuação destacada

Nos últimos dois anos, o Praia Clube, de Uberlândia, deu um salto que mudou o rumo da sua história. Antes focado apenas no vôlei de quadra, a nova direção do clube, encabeçada pelo presidente Guto Braga, resolveu expandir seus horizontes na detecção e no treinamento de atletas de outros esportes.

- Nós criamos oito núcleos espalhados pelo Brasil para achar esses atletas e passar a desenvolvê-los sem tirar eles do núcleo da família. A gente contrata, capacita o treinador, dá todo o suporte mesmo a distância. Está funcionando como uma grande revolução - explica o presidente do clube.

As descobertas dos novos talentos acontecem, segundo ele, nos jogos escolares, nas competições estaduais. Ao identificar boas atuações, marcas relevantes, o clube entra em contato com o atleta.

- Por exemplo, nós agora temos quatro jovens que foram campeões mundiais mundiais júnior de canoagem. Eles têm 16 anos e um potencial incrível. Eles são da Bahia, de uma cidade perto da cidade do Isaquías Queiroz, e agora estão morando em Lagoa Santa, onde fica o centro de treinamento da canoagem no Brasil. Contratamos e vamos ajudá-los no desenvolvimento. Eles são a nova geração da canoagem brasileira.

O Praia Clube também é atualmente o clube de outras grandes estrelas do esporte brasileiro, como da dupla medalhista de ouro no vôlei de praia Duda e Ana Patrícia, do nadador multimedalhista paralímpico Gabrielzinho e da mesa-tenista Bruna Alexandre.

- A gente ouve muito falar de alto rendimento, de categorias de base, mas nada disso acontece se não tivermos a descoberta de novo talentos todos os anos. Nós enxergamos que o Brasil se perdeu na construção da base da pirâmide. Não tem um plano nacional, um plano regional. O país está pecando na descoberta e na retenção de talentos. Nós como clube estamos tentando fazer algumas transformações e tem dado certo, mas precisamos mudar a visão e entender o que cada player do segmento esportivo tem que fazer para poder fomentar mais competições e tudo que possibilite a descoberta de talentos. O CBC tem feito um trabalho muito legal, já é um ganho, mas ainda é muito pouco para um país com a dimensão do Brasil. Várias comunidades periféricas não têm acesso aos clubes. Tem talento ali que a gente nunca vai saber. Temos que entender como fazer essa capilaridade aumentar - reflete Guto Braga.

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